Novos horizontes

Inaugurada em nome de Deus e com o nome de Salazar, a ponte sobre o Tejo faz hoje 50 anos. É difícil imaginar Lisboa, Almada, o rio sem aquela estrutura elegante que à noite, iluminada, continua a atrair o olhar de quem passa. É difícil imaginar que ate 1966 só se chegava à "outra banda" de barco e que para ligar o Sul e o Norte de automóvel era preciso ir até Vila Franca de Xira, onde aliás terminava a autoestrada. Quem fosse para norte tomava a estrada nacional e só voltava a ter autoestrada em Gaia (a A1 só 11 anos mais tarde chegou... ao Carregado), quem seguia para sul atravessava a ponte e seguia por estradas nacionais com a reta extensíssima de Pegões e as enjoativas curvas do Cercal e da serra algarvia. Numa década em que Portugal mudou intensamente, o papel da ponte foi fundamental para permitir que a cintura urbana de Lisboa se alargasse num movimento circular, acolhendo a população rural que crescentemente chegava aos centros industriais. Foi um momento de afirmação do regime, a inauguração, mas os seis meses de antecipação do fim da obra não fazem esquecer que a ligação das duas margens chegava com décadas de atraso. No fim de contas, esse arranque tardio resultou numa estrutura que, à época, era do mais sofisticado e arrojado que existia no mundo e com uma dimensão que não perturbou o movimento do porto. Sucessivas obras de adaptação foram resolvendo, passo a passo, a intensidade do tráfego, com o aumento de faixas e o atravessamento ferroviário. A Margem Sul cresceu em população e em qualidade de vida. O nome de Salazar foi substituído por 25 de Abril, data libertadora, mesmo que ainda hoje o nome original permaneça: esta é, por definição, a ponte sobre o Tejo, aquela que mudou a linha do horizonte em múltiplos sentidos. Uma coisa não teve alteração na essência: a beleza da chegada a Lisboa, a emoção de ver o rio com o seu movimento e a cidade aberta a uma luz inimitável.

Editorial
06 DE AGOSTO DE 2016
00:00
Ana Sousa Dias
Diário de Notícias