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A decisão sobre a dívida que os EUA não podem evitar
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A decisão sobre a dívida que os EUA não podem evitar
Muitos oradores de esquerda apontam para o Japão, onde a dívida líquida é de cerca de 140% do PIB, como a prova de que uma dívida muito mais elevada é uma óptima ideia, apesar dos recordes de crescimento anémico do país. A implicação é que há pouca necessidade de se preocupar de todo com a dívida, muito menos em relação à sua estrutura de maturidades. Na verdade, os políticos e economistas japoneses estão muito preocupados e não recomendam que outros países igualem a posição de endividamento do seu país.
Deve o Governo dos EUA garantir para o futuro os actuais custos de financiamento ultrabaixos através da emissão de dívida de longo prazo? É uma decisão difícil, mas com os já elevados níveis de endividamento mundial (já para não falar das responsabilidades com pensões e seguros médicos a descoberto, sendo que ambos deverão aumentar), talvez tenha chegado a hora de o fazer.
Até agora, o Tesouro dos EUA e a Reserva Federal dos EUA, num trabalho conjunto, têm tentado manter uma dívida pública de longo prazo baixa, de modo a reduzir as taxas de juro sobre o sector privado. De facto, neste momento, a duração média da dívida dos EUA (que integra o balanço da Fed) é inferior a três anos, bem abaixo da maioria dos países europeus, mesmo tendo em conta os maciços programas de alívio quantitativo (QE) dos próprios bancos centrais.
A inclinação para empréstimos de curto prazo, como forma de tentar estimular a economia, fez sentido até agora. Dado que a taxa de juro sobre as obrigações norte-americanas a 30 anos está cerca de 200 pontos base acima da registada na dívida a um ano, o financiamento de curto prazo poupou também o dinheiro do Governo.
Mas o Governo não deve operar como um banco ou um "hedge fund", atolando-se em dívida de curto prazo para financiar projectos de longo prazo. É muito arriscado. Com a dívida líquida do Governo dos EUA a atingir já 82% do PIB, os potenciais custos orçamentais de um rápido movimento ascendente das taxas de juro poderiam ser enormes.
Ninguém está a dizer que essa mudança é provável ou iminente, mas as hipóteses não são tão triviais como alguns gostariam de acreditar. Para começar, as taxas de juro poderiam disparar no caso de uma guerra, ou de outro evento catastrófico. Menos dramático, mas mais provável é a Fed conseguir, algum dia, encontrar uma forma de impulsionar as expectativas de inflação que, como na maioria das economias avançadas, têm recuado de forma imparável. Se as expectativas de inflação não começarem a subir, isso impulsionará as taxas de juro.
Um aumento dos custos de financiamento poderá também vir de danos auto-infligidos. Suponha, por exemplo, que os eleitores norte-americanos elegem como seu presidente um homem de negócios imprevisível e incompetente, que apenas vê a falência como "business as usual". Em alternativa, não é difícil imaginar uma sequência de líderes altamente populistas que abraçam a ideia fraudulenta de que o nível da dívida pública é basicamente irrelevante e que nunca deve ser um obstáculo para maximizar os gastos públicos.
Infelizmente, se os EUA alguma vez tivessem enfrentado uma normalização abrupta das taxas de juro, poderiam exigir ajustes orçamentais e de despesa significativos. E o fardo total, incluindo o desemprego, quase de certeza que cairia de forma desproporcional sobre os pobres, um facto que os populistas, que acreditam que a dívida é um almoço grátis, convenientemente ignoram.
Relembre-se, a extensão das maturidades dos empréstimos não implica uma diminuição do financiamento. A maioria dos economistas concorda que os défices maiores fazem sentido, caso sejam utilizados para pagar melhorias necessárias em infra-estruturas e educação, para não falar do reforço da segurança física e cibernética nacional. Há uma acumulação significativa de projectos que valem a pena, além de que as taxas de juro reais (ajustadas à inflação) são baixas - embora, devidamente medidas, as taxas reais poderão ser significativamente maiores do que os cálculos oficiais sugerem, principalmente porque a incapacidade do Governo em contabilizar adequadamente os benefícios dos novos bens leva-o a exagerar a inflação. Espera-se que o próximo presidente crie uma equipa de trabalho com uma independência e conhecimento tecnocrata substanciais, de modo a ajudar a avaliar as propostas de projectos, tal como fez o Governo britânico antes do Brexit.
Com o controlo da moeda de reserva mundial, os EUA têm espaço para financiar-se. No entanto, devem estruturar os seus empréstimos com sabedoria. Há vários anos, ainda fazia sentido que a Fed fizesse piruetas para reduzir os custos de financiamento de longo prazo. Actualmente, com a normalização da economia, os argumentos a favor de políticas criativas como o QE – que reduz eficazmente a dívida soberana, ao sugar os títulos de longo prazo do mercado –, parecem muito mais fracos.
É por isso que está na altura de o Tesouro dos EUA considerar financiamentos em horizontes mais longos do que os dos últimos anos. Actualmente, a dívida mais longa emitida pelo Governo dos EUA tem uma maturidade de 30 anos. Mas Espanha emitiu, com sucesso, dívida a 50 anos com uma taxa muito baixa, enquanto a Irlanda, a Bélgica e, até mesmo, o México emitiram dívida a 100 anos. Obviamente, não há garantia de que as taxas não vão cair ainda mais no futuro, mas o foco é ter um fluxo de futuros pagamentos de juros menos arriscado.
Muitos oradores de esquerda apontam para o Japão, onde a dívida líquida é de cerca de 140% do PIB, como a prova de que uma dívida muito mais elevada é uma óptima ideia, apesar dos recordes de crescimento anémico do país. A implicação é que há pouca necessidade de se preocupar de todo com a dívida, muito menos em relação à sua estrutura de maturidades. Na verdade, os políticos e economistas japoneses estão muito preocupados e não recomendam que outros países igualem a posição de endividamento do seu país.
A Europa é reconhecidamente um lugar muito diferente, com muito maior desemprego e um argumento muito mais forte para continuar a prosseguir com estímulos, sob o risco de terem, no futuro, custos com a dívida mais elevados. Mas com a economia dos EUA a desfrutar, agora, de uma recuperação sólida, a melhor abordagem poderá ser a de acelerar a normalização da política da dívida, em vez de supor que os credores estrangeiros vão ser pacientes, independentemente da direcção da política dos EUA.
Kenneth Rogoff, antigo economista-chefe do FMI, é professor de Economia e Políticas Públicas na Harvard University.
Copyright: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: André Tanque Jesus
KENNETH ROGOFF | © Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org | 22 Agosto 2016, 20:00
Negócios
Deve o Governo dos EUA garantir para o futuro os actuais custos de financiamento ultrabaixos através da emissão de dívida de longo prazo? É uma decisão difícil, mas com os já elevados níveis de endividamento mundial (já para não falar das responsabilidades com pensões e seguros médicos a descoberto, sendo que ambos deverão aumentar), talvez tenha chegado a hora de o fazer.
Até agora, o Tesouro dos EUA e a Reserva Federal dos EUA, num trabalho conjunto, têm tentado manter uma dívida pública de longo prazo baixa, de modo a reduzir as taxas de juro sobre o sector privado. De facto, neste momento, a duração média da dívida dos EUA (que integra o balanço da Fed) é inferior a três anos, bem abaixo da maioria dos países europeus, mesmo tendo em conta os maciços programas de alívio quantitativo (QE) dos próprios bancos centrais.
A inclinação para empréstimos de curto prazo, como forma de tentar estimular a economia, fez sentido até agora. Dado que a taxa de juro sobre as obrigações norte-americanas a 30 anos está cerca de 200 pontos base acima da registada na dívida a um ano, o financiamento de curto prazo poupou também o dinheiro do Governo.
Mas o Governo não deve operar como um banco ou um "hedge fund", atolando-se em dívida de curto prazo para financiar projectos de longo prazo. É muito arriscado. Com a dívida líquida do Governo dos EUA a atingir já 82% do PIB, os potenciais custos orçamentais de um rápido movimento ascendente das taxas de juro poderiam ser enormes.
Ninguém está a dizer que essa mudança é provável ou iminente, mas as hipóteses não são tão triviais como alguns gostariam de acreditar. Para começar, as taxas de juro poderiam disparar no caso de uma guerra, ou de outro evento catastrófico. Menos dramático, mas mais provável é a Fed conseguir, algum dia, encontrar uma forma de impulsionar as expectativas de inflação que, como na maioria das economias avançadas, têm recuado de forma imparável. Se as expectativas de inflação não começarem a subir, isso impulsionará as taxas de juro.
Um aumento dos custos de financiamento poderá também vir de danos auto-infligidos. Suponha, por exemplo, que os eleitores norte-americanos elegem como seu presidente um homem de negócios imprevisível e incompetente, que apenas vê a falência como "business as usual". Em alternativa, não é difícil imaginar uma sequência de líderes altamente populistas que abraçam a ideia fraudulenta de que o nível da dívida pública é basicamente irrelevante e que nunca deve ser um obstáculo para maximizar os gastos públicos.
Infelizmente, se os EUA alguma vez tivessem enfrentado uma normalização abrupta das taxas de juro, poderiam exigir ajustes orçamentais e de despesa significativos. E o fardo total, incluindo o desemprego, quase de certeza que cairia de forma desproporcional sobre os pobres, um facto que os populistas, que acreditam que a dívida é um almoço grátis, convenientemente ignoram.
Relembre-se, a extensão das maturidades dos empréstimos não implica uma diminuição do financiamento. A maioria dos economistas concorda que os défices maiores fazem sentido, caso sejam utilizados para pagar melhorias necessárias em infra-estruturas e educação, para não falar do reforço da segurança física e cibernética nacional. Há uma acumulação significativa de projectos que valem a pena, além de que as taxas de juro reais (ajustadas à inflação) são baixas - embora, devidamente medidas, as taxas reais poderão ser significativamente maiores do que os cálculos oficiais sugerem, principalmente porque a incapacidade do Governo em contabilizar adequadamente os benefícios dos novos bens leva-o a exagerar a inflação. Espera-se que o próximo presidente crie uma equipa de trabalho com uma independência e conhecimento tecnocrata substanciais, de modo a ajudar a avaliar as propostas de projectos, tal como fez o Governo britânico antes do Brexit.
Com o controlo da moeda de reserva mundial, os EUA têm espaço para financiar-se. No entanto, devem estruturar os seus empréstimos com sabedoria. Há vários anos, ainda fazia sentido que a Fed fizesse piruetas para reduzir os custos de financiamento de longo prazo. Actualmente, com a normalização da economia, os argumentos a favor de políticas criativas como o QE – que reduz eficazmente a dívida soberana, ao sugar os títulos de longo prazo do mercado –, parecem muito mais fracos.
É por isso que está na altura de o Tesouro dos EUA considerar financiamentos em horizontes mais longos do que os dos últimos anos. Actualmente, a dívida mais longa emitida pelo Governo dos EUA tem uma maturidade de 30 anos. Mas Espanha emitiu, com sucesso, dívida a 50 anos com uma taxa muito baixa, enquanto a Irlanda, a Bélgica e, até mesmo, o México emitiram dívida a 100 anos. Obviamente, não há garantia de que as taxas não vão cair ainda mais no futuro, mas o foco é ter um fluxo de futuros pagamentos de juros menos arriscado.
Muitos oradores de esquerda apontam para o Japão, onde a dívida líquida é de cerca de 140% do PIB, como a prova de que uma dívida muito mais elevada é uma óptima ideia, apesar dos recordes de crescimento anémico do país. A implicação é que há pouca necessidade de se preocupar de todo com a dívida, muito menos em relação à sua estrutura de maturidades. Na verdade, os políticos e economistas japoneses estão muito preocupados e não recomendam que outros países igualem a posição de endividamento do seu país.
A Europa é reconhecidamente um lugar muito diferente, com muito maior desemprego e um argumento muito mais forte para continuar a prosseguir com estímulos, sob o risco de terem, no futuro, custos com a dívida mais elevados. Mas com a economia dos EUA a desfrutar, agora, de uma recuperação sólida, a melhor abordagem poderá ser a de acelerar a normalização da política da dívida, em vez de supor que os credores estrangeiros vão ser pacientes, independentemente da direcção da política dos EUA.
Kenneth Rogoff, antigo economista-chefe do FMI, é professor de Economia e Políticas Públicas na Harvard University.
Copyright: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: André Tanque Jesus
KENNETH ROGOFF | © Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org | 22 Agosto 2016, 20:00
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