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A forma viva esculpe o rosto do tempo
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A forma viva esculpe o rosto do tempo
Mesmo o carbono tem duas estruturas (plana e espacial) em duas formas opostas: grafite e diamante. A estrutura organiza a matéria mediante as instruções históricas e concretas que dela recebe. O projecto arquitectónico implica uma síntese dialéctica entre o objecto e o sujeito. A boa forma artificial é filha da evolução estrutural e da necessidade social.
O arquitectónico da arquitectura não é o ideal nem o instrumental: é o estrutural, o genuíno em cuja forma poética a construção formal é o principal conteúdo.
Toda a boa forma é precisamente aquela que integra aparência e realidade, interior e exterior, objecto e sujeito, método e conteúdo. Sendo que o contrario (a permanência da composição original) é uma caricatura da arquitectura.
A dialéctica defende-nos contra os dualismos torpes e académicos.
Para o materialismo vulgar, racionalista ou mecanicista, a função cria a peça, a forma segue a função, a necessidade determina a estrutura. Mas as coisas são mais complexas. P. Klee diz que mais importante que a forma é a formação: a estrutura abstracta nascida da matéria em construção; a síntese teórico-prática; uma praxis em que a forma, funcionamento e função se alimentam mutuamente. Assim, um bom projecto contém várias soluções para cada problema. Conhecer a forma de um objecto é perceber a sua razão de ser, o seu motivo, a sua lógica, o seu conteúdo, a sua estrutura, o seu destino e o seu carácter.
A arquitectura autêntica é o operador que faz da forma que funciona por si própria e da função que funciona para o exterior uma só entidade. Assim, por exemplo, pode explicar-se que a alguma arquitectura ou imposição de determinadas “regras” em nome de uma falsa unidade – para disfarçar a incompetência – envolva com o mesmo material sistemas incompatíveis; ou que um edifício “ecrã” trate como idênticas ou simétricas as fachadas norte e sul. Isto supõe uma fraude.
Um projecto é construção material de formas sociais com sentido implícito no seu âmago, com função inerente, com o progresso social como parte da estrutura interna da forma. A liberdade estética anula-se se não tem em conta a “sagrada” necessidade.
A boa construção é inseparável da função, tal como na indústria aeronáutica.
Para Behne o foco funcional em arquitectura é sempre revolucionário, porque respeitar a função (aberta) é garantia de modernidade e progresso real. Pelo contrário, o mero utilitarismo (fechado) com o seu grosseiro imediatismo é reaccionário e pequeno burguês.
Mais do que de usos possíveis, falamos de obras sábias e versáteis, com multiplicação do sentido em oposição a quimeras amorfas e formas fantasiosas e retrógradas de falsear e iludir a realidade. Porque essa ilusória “fantasia” é fuga e cegueira maligna à realidade social.
A função estética não é fundamento arquitectónico, mas a arquitectura pode comunicar utopia e estética, porque a função estética não burguesa é mestiça: perceptiva, espacial, auditiva, visual, táctil mais além da pura visibilidade. Assim, a função da arquitectura deveria unificar na mesma forma a função externa ou estética; a função histórica, politica, social e urbana e a função interna ou estrutural.
É necessária e urgente uma mudança de atitude em relação à actual apreciação e rejeição de projectos, que só pode ser explicada através da falta de sensibilidade para com a funcionalidade dos edifícios. Os edifícios só existem pelas pessoas, pelo uso que as mesmas lhe irão dar e pelas mais valias que para elas representam.
Esta insensibilidade constitui em si mesma indiferença pelos direitos humanos básicos e uma falta de respeito para com os cidadãos. A demora na “análise” do projecto e a total falta de interesse em “entender” o conceito subjacente só podem ter origem na apatia e na arrogância, de quem detém o “poder” de decisão, para com quem projecta e promove, para com o investimento e os seus resultados, portanto e mais uma vez indiferença pelos superiores interesses da cidade e da massa humana que a constitui e a quem o poder deveria servir e não ignorar.
As necessidades sociais são necessidades que têm que ser atendidas de forma criativa, sendo imperativo afastar a “preguiça” de pensar criativamente, ignorando o aspecto prático, atribuindo “erros” na interpretação a quem projectou, como se o projectista fosse um “malfeitor”, um irresponsável ignorante a quem se rejeita voz, descriminando-o e marginalizando-o, fazendo tábua rasa de toda a sua experiência e obra comprovada, passando assim por cima de direitos fundamentais que deviam ser preocupação primeira num estado de direito, iludindo os fundamentos que investem os “cargos”, tomando posse para estar “acima” num qualquer pedestal, em vez de estar lado a lado, escamoteando o seu dever de servidor e de bem servir, contrariando o serviço público que está na origem do exercício das funções atribuídas, “sacudindo” assim a responsabilidade que deveria ser inerente a quem decide.
Mais, é notória a incoerência nas decisões, o agir com determinados critérios nuns casos e com os contrários noutros, dependendo de quem é o autor dos projectos, o agir em nome de interesses instalados. Não é excessivo falar em perseguição de uns e “bajulação” de outros, não é excessivo afirmar que há um desprezo nítido pelos outros organismos de fiscalização.
Teoricamente, a arquitectura é um equilíbrio entre a função (útil, prático, social), a construção (técnica) e os símbolos (incluindo a forma e a estética) de um espaço.
E esse equilíbrio é fundamental mas não é considerado por quem tem a tutela, há uma desproporção descomunal entre os percentuais atribuídos a estes factores, fazendo do desequilíbrio a norma.
Há que ter em conta os usuários, o acesso, a comunicação e o respeito para quem fará uso do projecto, para quem vive e para quem visita a cidade. Há que ter em conta o impacto na sociedade, na economia e na vida.
A arquitectura que tem em conta estas questões é um processo criativo muito mais rico e não compromete a estética.
Há que escolher entre uma cidade viva ou uma cidade morta.
Filipe Silva
Diário de Notícias da Madeira
Segunda, 5 de Setembro de 2016
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