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CRESCIMENTO ECONÓMICO: Porque é que a econometria não serve para nada?
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CRESCIMENTO ECONÓMICO: Porque é que a econometria não serve para nada?
Atendendo que se fazem orçamentos com compromissos de despesa de milhares de milhões de euros com base nas previsões de crescimento económico, vamos concordar que o erro não é inócuo.
Nos últimos tempos temos assistido à discussão de previsões macroeconómicas, naturalmente motivadas pela dificuldade que a República Portuguesa tem em ajustar a riqueza que consome à riqueza que Portugal produz e pelos constrangimentos impostos pelo facto de não termos moeda própria. Educado que fui nas ciências duras, compreendo perfeitamente o conceito de erro de previsão, mas, associado a este, tenho que entender a distribuição desse erro. E sendo verdade que estas discussões de previsões, para cá e para lá, estão longe de ser novidade, também é verdade que nunca ninguém vem dizer que errou ou pedir desculpa pela falha. Atendendo que se fazem orçamentos com compromissos de despesa de milhares de milhões de euros com base nessas previsões, vamos concordar que o erro não é inócuo e, pior, a distribuição do erro é muito importante, nem que seja porque um erro de um ano compensava o erro de outro.
Vamos então facilitar a coisa e usar uma instituição supostamente independente, o Banco de Portugal. Fomos ver as previsões que o Banco de Portugal fez este século para o produto interno bruto do país a partir do Boletim Económico de Verão do ano em causa. Isto é, estamos a seis meses do fim do ano e os economistas do Banco, com os dados que têm dos meses já corridos desse ano, fazem uma previsão do que vai ser o total do ano. Simples, certo? A distribuição do erro é aquela que mostro na figura seguinte (Fonte: Boletim Económico do Banco de Portugal):
Usando como erro mínimo o valor de 0,1% do PIB, aproximadamente 180 milhões de euros ou 10 mil pessoas a trabalharem, os técnicos do Banco de Portugal acertaram 2 vezes nas 15 que o fizeram. Mas o que é estranho é que falham por muito tantas vezes quantas aquelas que falham por pouco. Falhar por -0,4% é estarem 40 mil pessoas a trabalhar sem que os economistas deem por isso. São dez Auto Europas, para que se tenha uma ideia da dimensão do erro.
Obviamente, não há aqui nenhuma conspiração do Banco de Portugal para que as previsões falhem, nem se tire daqui uma declaração de incompetência. Certamente o banco produzirá, dentro daquilo que são as práticas aceites, o melhor que sabe. O problema está no facto de estarmos a falar de um sistema económico.
O que é um sistema previsível? Um sistema previsível é um sistema em que os estados possíveis não se alteram. Por exemplo, quando lançamos um dado, podemos não saber que número vai sair, mas sabemos que tem 6 lados e cada vez que o lançamos vai sair um de 6 números. Quando lançamos uma moeda ao ar, sabemos que vai sair cara ou coroa. E vai sempre sair, ou cara, ou coroa. Estes são dois sistemas previsíveis no sentido em que podemos determinar, ou por forma teórica, ou por medida, a distribuição dos resultados possíveis e, com eles, tomar opções sobre o que fazer tendo consciência do erro que estamos a fazer.
Uma economia é o oposto disto, por definição. Nós estamos sempre a produzir para “dentro do sistema” usando o capital que temos. Então os lados do nosso dado económico estão sempre a crescer. Hoje tem 6 lados, amanhã 9, depois 27, depois… Portanto, cada vez que fazemos uma medida, a incógnita não é o valor que obtemos, mas quantos lados tem o dado. Quando procuramos fazer uma previsão, ainda que com dados na mão, como no caso de estarmos a prever o produto de um ano já com o ano a meio, o resultado só vai ser o previsto por sorte. E é isso que a dispersão dos valores do erro mostra.
Não raras vezes, as pessoas dão mais valor às técnicas matemáticas que aos pressupostos em que estas são válidas e a econometria é o perfeito exemplo disto. Num sistema cujo crescimento se faz como na economia (não confundir com “crescimento económico” que é outra coisa para os economistas), as técnicas matemáticas não se adequam e os resultados levam a erros demasiado grandes para aquilo que o meu bolso é capaz de aguentar.
Em conclusão, numa altura em que os economistas se digladiam sobre que previsão para 2016 estará mais correta, se a do governo, se a da Comissão de Acompanhamento, se a do Banco de Portugal, acredite naquilo que lhe digo: aquela que fizerem em março de 2017.
PhD em Física, Co-Fundador e Partner da Closer
João Pires da Cruz
9/10/2016, 9:50
Observador
Nos últimos tempos temos assistido à discussão de previsões macroeconómicas, naturalmente motivadas pela dificuldade que a República Portuguesa tem em ajustar a riqueza que consome à riqueza que Portugal produz e pelos constrangimentos impostos pelo facto de não termos moeda própria. Educado que fui nas ciências duras, compreendo perfeitamente o conceito de erro de previsão, mas, associado a este, tenho que entender a distribuição desse erro. E sendo verdade que estas discussões de previsões, para cá e para lá, estão longe de ser novidade, também é verdade que nunca ninguém vem dizer que errou ou pedir desculpa pela falha. Atendendo que se fazem orçamentos com compromissos de despesa de milhares de milhões de euros com base nessas previsões, vamos concordar que o erro não é inócuo e, pior, a distribuição do erro é muito importante, nem que seja porque um erro de um ano compensava o erro de outro.
Vamos então facilitar a coisa e usar uma instituição supostamente independente, o Banco de Portugal. Fomos ver as previsões que o Banco de Portugal fez este século para o produto interno bruto do país a partir do Boletim Económico de Verão do ano em causa. Isto é, estamos a seis meses do fim do ano e os economistas do Banco, com os dados que têm dos meses já corridos desse ano, fazem uma previsão do que vai ser o total do ano. Simples, certo? A distribuição do erro é aquela que mostro na figura seguinte (Fonte: Boletim Económico do Banco de Portugal):
Usando como erro mínimo o valor de 0,1% do PIB, aproximadamente 180 milhões de euros ou 10 mil pessoas a trabalharem, os técnicos do Banco de Portugal acertaram 2 vezes nas 15 que o fizeram. Mas o que é estranho é que falham por muito tantas vezes quantas aquelas que falham por pouco. Falhar por -0,4% é estarem 40 mil pessoas a trabalhar sem que os economistas deem por isso. São dez Auto Europas, para que se tenha uma ideia da dimensão do erro.
Obviamente, não há aqui nenhuma conspiração do Banco de Portugal para que as previsões falhem, nem se tire daqui uma declaração de incompetência. Certamente o banco produzirá, dentro daquilo que são as práticas aceites, o melhor que sabe. O problema está no facto de estarmos a falar de um sistema económico.
O que é um sistema previsível? Um sistema previsível é um sistema em que os estados possíveis não se alteram. Por exemplo, quando lançamos um dado, podemos não saber que número vai sair, mas sabemos que tem 6 lados e cada vez que o lançamos vai sair um de 6 números. Quando lançamos uma moeda ao ar, sabemos que vai sair cara ou coroa. E vai sempre sair, ou cara, ou coroa. Estes são dois sistemas previsíveis no sentido em que podemos determinar, ou por forma teórica, ou por medida, a distribuição dos resultados possíveis e, com eles, tomar opções sobre o que fazer tendo consciência do erro que estamos a fazer.
Uma economia é o oposto disto, por definição. Nós estamos sempre a produzir para “dentro do sistema” usando o capital que temos. Então os lados do nosso dado económico estão sempre a crescer. Hoje tem 6 lados, amanhã 9, depois 27, depois… Portanto, cada vez que fazemos uma medida, a incógnita não é o valor que obtemos, mas quantos lados tem o dado. Quando procuramos fazer uma previsão, ainda que com dados na mão, como no caso de estarmos a prever o produto de um ano já com o ano a meio, o resultado só vai ser o previsto por sorte. E é isso que a dispersão dos valores do erro mostra.
Não raras vezes, as pessoas dão mais valor às técnicas matemáticas que aos pressupostos em que estas são válidas e a econometria é o perfeito exemplo disto. Num sistema cujo crescimento se faz como na economia (não confundir com “crescimento económico” que é outra coisa para os economistas), as técnicas matemáticas não se adequam e os resultados levam a erros demasiado grandes para aquilo que o meu bolso é capaz de aguentar.
Em conclusão, numa altura em que os economistas se digladiam sobre que previsão para 2016 estará mais correta, se a do governo, se a da Comissão de Acompanhamento, se a do Banco de Portugal, acredite naquilo que lhe digo: aquela que fizerem em março de 2017.
PhD em Física, Co-Fundador e Partner da Closer
João Pires da Cruz
9/10/2016, 9:50
Observador
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