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O mal está feito
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O mal está feito
A França é a França, e as regras orçamentais não podem ser aplicadas cegamente. A frase é de Jean-Claude Juncker, em maio passado, numa entrevista à televisão do Senado francês. O presidente da Comissão Europeia justificava dessa forma a promessa de nova flexibilidade das autoridades europeias em relação às contas do Estado francês e ao eventual não cumprimento das regras orçamentais impostas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento.
No fundo, foi como se estivesse a dizer keep cool e continuem a gastar, não liguem ao défice, que o discurso moralista e eventuais consequências não são para vocês. Essas declarações do presidente da Comissão não tiveram grande eco, e mal desconfiaria Juncker de que passados uns meses este pedaço de entrevista viria a ser usado para dar credibilidade a uma tese em livro. Un Président ne Devrait pas Dire ça (Um Presidente não Deve Dizer isso), escrito por dois jornalistas do Le Monde, conta como François Hollande negociou com Bruxelas um acordo secreto para mascarar o défice e escapar a sanções.
A tese já foi negada por porta-vozes. Até ver, os protagonistas - Hollande, Durão e Juncker - nada disseram. A questão é que a tese cola demasiado bem com uma realidade que observamos há décadas. É talvez o lado mais sombrio de uma Europa que caminha, desde há muito, a diferentes velocidades. E sombra é mesmo a palavra certa. Nenhuma dessas assimetrias entre nações - financeira, social e política - é assumida oficialmente. Do léxico formal de Bruxelas, ainda constam palavras como coesão, convergência ou solidariedade. Já não têm peso.
Esta revelação em livro, e a tal frase de Juncker, dizem-nos muito sobre a fragilidade institucional em que assenta a Europa. Mas de que nos serve esta janela escancarada? Não nos conta nada de que não desconfiássemos, e em boa verdade, o mal está feito. Ainda há economias a tentar rastejar para fora do sufoco. Toda a gestão europeia da crise de 2008 foi construída sobre um discurso de culpa, de crime e de castigo. De que nos serve agora, a nós ou aos gregos, saber que a França jogou sujo e escapou a regras que, afinal, eram só de meia dúzia de países? São momentos como este que alimentam ódios e extremismos. Daqui nada pode sair de bom. Talvez seja boa altura para lembrar uma frase com que Hillary Clinton tem respondido aos golpes de Donald Trump: when they go low, we go high.
04 DE NOVEMBRO DE 2016
00:00
Paulo Tavares
Diário de Notícias
No fundo, foi como se estivesse a dizer keep cool e continuem a gastar, não liguem ao défice, que o discurso moralista e eventuais consequências não são para vocês. Essas declarações do presidente da Comissão não tiveram grande eco, e mal desconfiaria Juncker de que passados uns meses este pedaço de entrevista viria a ser usado para dar credibilidade a uma tese em livro. Un Président ne Devrait pas Dire ça (Um Presidente não Deve Dizer isso), escrito por dois jornalistas do Le Monde, conta como François Hollande negociou com Bruxelas um acordo secreto para mascarar o défice e escapar a sanções.
A tese já foi negada por porta-vozes. Até ver, os protagonistas - Hollande, Durão e Juncker - nada disseram. A questão é que a tese cola demasiado bem com uma realidade que observamos há décadas. É talvez o lado mais sombrio de uma Europa que caminha, desde há muito, a diferentes velocidades. E sombra é mesmo a palavra certa. Nenhuma dessas assimetrias entre nações - financeira, social e política - é assumida oficialmente. Do léxico formal de Bruxelas, ainda constam palavras como coesão, convergência ou solidariedade. Já não têm peso.
Esta revelação em livro, e a tal frase de Juncker, dizem-nos muito sobre a fragilidade institucional em que assenta a Europa. Mas de que nos serve esta janela escancarada? Não nos conta nada de que não desconfiássemos, e em boa verdade, o mal está feito. Ainda há economias a tentar rastejar para fora do sufoco. Toda a gestão europeia da crise de 2008 foi construída sobre um discurso de culpa, de crime e de castigo. De que nos serve agora, a nós ou aos gregos, saber que a França jogou sujo e escapou a regras que, afinal, eram só de meia dúzia de países? São momentos como este que alimentam ódios e extremismos. Daqui nada pode sair de bom. Talvez seja boa altura para lembrar uma frase com que Hillary Clinton tem respondido aos golpes de Donald Trump: when they go low, we go high.
04 DE NOVEMBRO DE 2016
00:00
Paulo Tavares
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