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O amor que dura para sempre
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O amor que dura para sempre
A baixa está cheia de gente que passa apressada, carregada de casacos e cachecóis; há um ou outro que se demora numa montra.
Lisboa escurece e, aqui e ali, as montras mostram as primeiras luzes do Natal à multidão que sai do metro e se espalha pelas ruas, está frio e dá gosto passar pelo homem que vende castanhas assadas, mas a notícia está a moer-me, como se o mundo fosse ficar mais pobre e triste. Vejo-me no reflexo do vidro de uma loja e não estou diferente, sou ainda a Marta que veio da Madeira para estudar, mas o dia deixou-me triste e calada. Parece que não tenho assunto, nem sequer tive alento para falar do futuro, aquele tempo que há-de ser meu depois do último exame da faculdade.
O frio bate-me nas pernas, a saia fina de cornucópias é boa para o inverno suave do Funchal, aqui é uma extravagância. Eu sei, mas acho bonita e gosto, ninguém tem uma igual e faz-me lembrar da minha mãe, do aconchego de casa que às vezes me falta. Falta-me no sabor da comida e na roupa por passar, nos dias triste como hoje e em que sinto que o amor não será o mesmo sem o Freddie Mercury. A sua morte deu nas notícias, é oficial e certa e foi levado pelo mal que nos assusta. E eu tenho 20 anos e queria viver como ele canta.
A baixa está cheia de gente que passa apressada, carregada de casacos e cachecóis; há um ou outro que se demora numa montra. E eu penso nas canções de amor desesperado, ferido, resgatado ou perdido, oiço aquela voz que sabe tudo, que se lamenta, que fala do fim, do amor que enche a alma, que nunca nos deixa e até nos mata. Eu queria que fosse assim como nas canções e Lisboa parece-me ainda mais fria, a saia não me aquece, nem as luzes dos pinheiros que já piscam. Daqui a um mês é Natal e nem isso me entusiasma agora que a notícia ainda moí, mesmo em mim, que só oiço a música da rádio e conheço os cantores dos telediscos,
Acho que não faz a diferença no que se sente, não deve fazer diferença se é em disco ou em cassete, na telefonia ou no gira-discos. E eu sou capaz de entender que se pode amar como se não houvesse amanhã, sei que pode ferir como aço, magoar a fundo e que nem por isso se desiste. O amor na voz de Freddie Mercury é do que vale a pena, é o que eu espero quando me ponho a matutar no futuro e não precisa de ser aquele que vou ter depois do último o exame da faculdade. Pode ser agora, eu tenho 20 anos e ainda acho que as oportunidades para ser feliz acabam aos 30. Depois disso só existem velhos.
E os velhos não morrem de amor, nem percebem a dimensão desta minha tristeza, era só um cantor. A vida, aquela vidinha de ir e voltar do emprego, de correr para o metro e para o comboio, de perder o olhar nos abanões das carruagens é mais importante e de amor também falam as telenovelas. Eu sei, sem amor não há história que valha a pena e se for daquele jeito trágico, capaz de ferir como o aço e de ficar para sempre, ainda mais. A música de Love Kills enche-me a cabeça e misturo as imagens do teledisco a preto e branco, enquanto o comboio avança cheio de gente com pressa de chegar a casa. Não é a Metropólis bizarra do videoclip, mas hoje, no dia da morte de Freddie Mercury, parece-me cinzenta, fria e inóspita.
MARTA CAIRES / 27 NOV 2016 / 02:00 H.
Diário de Notícias da Madeira
Lisboa escurece e, aqui e ali, as montras mostram as primeiras luzes do Natal à multidão que sai do metro e se espalha pelas ruas, está frio e dá gosto passar pelo homem que vende castanhas assadas, mas a notícia está a moer-me, como se o mundo fosse ficar mais pobre e triste. Vejo-me no reflexo do vidro de uma loja e não estou diferente, sou ainda a Marta que veio da Madeira para estudar, mas o dia deixou-me triste e calada. Parece que não tenho assunto, nem sequer tive alento para falar do futuro, aquele tempo que há-de ser meu depois do último exame da faculdade.
O frio bate-me nas pernas, a saia fina de cornucópias é boa para o inverno suave do Funchal, aqui é uma extravagância. Eu sei, mas acho bonita e gosto, ninguém tem uma igual e faz-me lembrar da minha mãe, do aconchego de casa que às vezes me falta. Falta-me no sabor da comida e na roupa por passar, nos dias triste como hoje e em que sinto que o amor não será o mesmo sem o Freddie Mercury. A sua morte deu nas notícias, é oficial e certa e foi levado pelo mal que nos assusta. E eu tenho 20 anos e queria viver como ele canta.
A baixa está cheia de gente que passa apressada, carregada de casacos e cachecóis; há um ou outro que se demora numa montra. E eu penso nas canções de amor desesperado, ferido, resgatado ou perdido, oiço aquela voz que sabe tudo, que se lamenta, que fala do fim, do amor que enche a alma, que nunca nos deixa e até nos mata. Eu queria que fosse assim como nas canções e Lisboa parece-me ainda mais fria, a saia não me aquece, nem as luzes dos pinheiros que já piscam. Daqui a um mês é Natal e nem isso me entusiasma agora que a notícia ainda moí, mesmo em mim, que só oiço a música da rádio e conheço os cantores dos telediscos,
Acho que não faz a diferença no que se sente, não deve fazer diferença se é em disco ou em cassete, na telefonia ou no gira-discos. E eu sou capaz de entender que se pode amar como se não houvesse amanhã, sei que pode ferir como aço, magoar a fundo e que nem por isso se desiste. O amor na voz de Freddie Mercury é do que vale a pena, é o que eu espero quando me ponho a matutar no futuro e não precisa de ser aquele que vou ter depois do último o exame da faculdade. Pode ser agora, eu tenho 20 anos e ainda acho que as oportunidades para ser feliz acabam aos 30. Depois disso só existem velhos.
E os velhos não morrem de amor, nem percebem a dimensão desta minha tristeza, era só um cantor. A vida, aquela vidinha de ir e voltar do emprego, de correr para o metro e para o comboio, de perder o olhar nos abanões das carruagens é mais importante e de amor também falam as telenovelas. Eu sei, sem amor não há história que valha a pena e se for daquele jeito trágico, capaz de ferir como o aço e de ficar para sempre, ainda mais. A música de Love Kills enche-me a cabeça e misturo as imagens do teledisco a preto e branco, enquanto o comboio avança cheio de gente com pressa de chegar a casa. Não é a Metropólis bizarra do videoclip, mas hoje, no dia da morte de Freddie Mercury, parece-me cinzenta, fria e inóspita.
MARTA CAIRES / 27 NOV 2016 / 02:00 H.
Diário de Notícias da Madeira
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