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25 anos atrás a Ásia central tornou-se relutantemente independente
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25 anos atrás a Ásia central tornou-se relutantemente independente
Faz 25 anos neste mês que os cinco Estados da Ásia Central foram forçados a separar-se da União Soviética e a ficarem por conta própria. Foi um choque para os seus sistemas.
Naquela época de turbulência que assistiu à cisão da União Soviética e das 15 repúblicas soviéticas que recuperaram a sua independência, os mais relutantes em fazê-lo foram os cinco Estados da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguizistão, Usbequistão, Tajiquistão e Turquemenistão).
Em 1991, numa noite gelada de dezembro, eu estava na pista do aeroporto de Achkabad no Turquemenistão enquanto avião após avião transportando os chefes de Estado da Ásia Central e as suas delegações aterravam. A heterogénea banda turquemana, cujos intérpretes tinham os dedos congelados, tocou os novos hinos nacionais, enquanto os presidentes carrancudos apertavam as mãos dos seus anfitriões.
Eu era o único correspondente internacional que testemunhava a separação da União Soviética da perspetiva da Ásia Central. A grande história estava em Moscovo, mas aquilo não era menos fascinante e histórico.
Poucos dias antes, a 8 de dezembro de 1991, o presidente russo Boris Ieltsin assinou um tratado com os presidentes da Bielorrússia e da Ucrânia que dissolvia formalmente a União Soviética e criava uma nova Comunidade de Estados Independentes (CEI). Ninguém se preocupou em perguntar aos líderes da Ásia Central se eles queriam participar ou não. Eles haviam sido abandonados pela Rússia, seu chefe supremo durante os últimos 75 anos.
Naquela noite, falei com os líderes e outras autoridades nas residências do governo. Estavam furiosos, zangados e deprimidos. Havia raiva palpável em relação aos eslavos e à Rússia em particular, as autoridades acusavam-nos de discriminação racial e étnica e de terem um comportamento ditatorial. Na verdade, a Rússia via os Estados da Ásia Central, apesar de todo o seu petróleo, gás e riqueza agrícola, como um fardo económico que tinha levado à sua dependência de Moscovo.
Os líderes da Ásia Central não queriam nada com a independência. Eles temiam não serem capazes de governar Estados independentes e não terem as capacidades necessárias para gerir os seus próprios assuntos - algo que não faziam desde a revolução de 1917. As suas economias, infraestruturas, ajuda financeira, exportações e os meios de comunicação começavam ou terminavam todos em Moscovo.
Nas semanas anteriores, os líderes da Ásia Central haviam transformado as suas Repúblicas Socialistas Soviéticas em repúblicas independentes e abandonado os títulos de chefes dos partidos comunistas dos respetivos Estados e tinham-se elegido rapidamente como presidentes dos seus países.
Em tempos, essas "hordas", as tribos e clãs mongóis, cazaques e usbeques tinham governado a Rússia, agora aqueles líderes estavam literalmente a implorar à Rússia que não os abandonasse. Eles temiam que a independência libertasse os génios da democracia, do nacionalismo e das reivindicações de liberdade entre as suas populações fortemente reprimidas e controladas.
No dia seguinte, os líderes tiveram de tomar um banho de humildade e declararam-se dispostos a aderir à CEI, mas com base na igualdade. A 21 de dezembro em Almaty, então capital do Cazaquistão, a CEI foi instituída com a adesão de 11 das 15 ex-repúblicas soviéticas.
Os líderes da Ásia Central prometeram trabalhar juntos para formar uma união económica que resolvesse a imensidão de problemas. "Uma comunidade da Ásia Central é a necessidade do momento", disse Askar Akayev, presidente do Quirguizistão, em 1991. "Todos os Estados da Ásia Central devem unir-se para formar uma nova confederação ou o nosso desenvolvimento económico ficará estagnado", disse o presidente usbeque Islam Karimov, que morreu em setembro, depois de 27 anos no poder.
Em vez disso, eles passaram anos a brigar entre si enquanto as suas economias não petrolíferas caíam e os padrões de vida dos seus povos baixavam. Hoje, muitos asiáticos centrais recordam o período "glorioso" do comunismo quando as suas necessidades básicas eram satisfeitas e os seus sistemas de saúde e de educação floresceram.
Os seus sistemas políticos nunca se desenvolveram depois de 1991 e, com exceção do Quirguizistão, continuam a ser ditaduras de partido único. Os seus sistemas políticos moribundos e a recusa da mudança mergulharam as populações em desespero e levaram a um êxodo maciço de pessoas para outros Estados em busca de guerra.
Somente agora é que o Usbequistão, o maior e mais poderoso estado com um novo líder, procura aproximar-se dos seus vizinhos da Ásia Central para tentar resolver as disputas fronteiriças pendentes, as amargas rivalidades relacionadas com o controlo e o fluxo de água, gás e eletricidade e os seus ciúmes políticos.
Com novas ameaças no horizonte, como a ascensão do gigante económico chinês nas suas fronteiras, os perigos representados pelos extremistas islâmicos e a continuação da guerra no Afeganistão, é hora de os Estados da Ásia Central se unirem e acabarem com a sua rivalidade de décadas.
É altura de perceberem que nenhum deles tem economias que sejam independentemente sustentáveis e que possam crescer por conta própria. Os seus sistemas políticos precisam de reforma. Depois de 25 anos de rivalidade inútil, é hora de perceberem que precisam uns dos outros.
Jornalista e investigador paquistanês
26 DE DEZEMBRO DE 2016
00:01
Ahmed Rashid
Diário de Notícias
Naquela época de turbulência que assistiu à cisão da União Soviética e das 15 repúblicas soviéticas que recuperaram a sua independência, os mais relutantes em fazê-lo foram os cinco Estados da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguizistão, Usbequistão, Tajiquistão e Turquemenistão).
Em 1991, numa noite gelada de dezembro, eu estava na pista do aeroporto de Achkabad no Turquemenistão enquanto avião após avião transportando os chefes de Estado da Ásia Central e as suas delegações aterravam. A heterogénea banda turquemana, cujos intérpretes tinham os dedos congelados, tocou os novos hinos nacionais, enquanto os presidentes carrancudos apertavam as mãos dos seus anfitriões.
Eu era o único correspondente internacional que testemunhava a separação da União Soviética da perspetiva da Ásia Central. A grande história estava em Moscovo, mas aquilo não era menos fascinante e histórico.
Poucos dias antes, a 8 de dezembro de 1991, o presidente russo Boris Ieltsin assinou um tratado com os presidentes da Bielorrússia e da Ucrânia que dissolvia formalmente a União Soviética e criava uma nova Comunidade de Estados Independentes (CEI). Ninguém se preocupou em perguntar aos líderes da Ásia Central se eles queriam participar ou não. Eles haviam sido abandonados pela Rússia, seu chefe supremo durante os últimos 75 anos.
Naquela noite, falei com os líderes e outras autoridades nas residências do governo. Estavam furiosos, zangados e deprimidos. Havia raiva palpável em relação aos eslavos e à Rússia em particular, as autoridades acusavam-nos de discriminação racial e étnica e de terem um comportamento ditatorial. Na verdade, a Rússia via os Estados da Ásia Central, apesar de todo o seu petróleo, gás e riqueza agrícola, como um fardo económico que tinha levado à sua dependência de Moscovo.
Os líderes da Ásia Central não queriam nada com a independência. Eles temiam não serem capazes de governar Estados independentes e não terem as capacidades necessárias para gerir os seus próprios assuntos - algo que não faziam desde a revolução de 1917. As suas economias, infraestruturas, ajuda financeira, exportações e os meios de comunicação começavam ou terminavam todos em Moscovo.
Nas semanas anteriores, os líderes da Ásia Central haviam transformado as suas Repúblicas Socialistas Soviéticas em repúblicas independentes e abandonado os títulos de chefes dos partidos comunistas dos respetivos Estados e tinham-se elegido rapidamente como presidentes dos seus países.
Em tempos, essas "hordas", as tribos e clãs mongóis, cazaques e usbeques tinham governado a Rússia, agora aqueles líderes estavam literalmente a implorar à Rússia que não os abandonasse. Eles temiam que a independência libertasse os génios da democracia, do nacionalismo e das reivindicações de liberdade entre as suas populações fortemente reprimidas e controladas.
No dia seguinte, os líderes tiveram de tomar um banho de humildade e declararam-se dispostos a aderir à CEI, mas com base na igualdade. A 21 de dezembro em Almaty, então capital do Cazaquistão, a CEI foi instituída com a adesão de 11 das 15 ex-repúblicas soviéticas.
Os líderes da Ásia Central prometeram trabalhar juntos para formar uma união económica que resolvesse a imensidão de problemas. "Uma comunidade da Ásia Central é a necessidade do momento", disse Askar Akayev, presidente do Quirguizistão, em 1991. "Todos os Estados da Ásia Central devem unir-se para formar uma nova confederação ou o nosso desenvolvimento económico ficará estagnado", disse o presidente usbeque Islam Karimov, que morreu em setembro, depois de 27 anos no poder.
Em vez disso, eles passaram anos a brigar entre si enquanto as suas economias não petrolíferas caíam e os padrões de vida dos seus povos baixavam. Hoje, muitos asiáticos centrais recordam o período "glorioso" do comunismo quando as suas necessidades básicas eram satisfeitas e os seus sistemas de saúde e de educação floresceram.
Os seus sistemas políticos nunca se desenvolveram depois de 1991 e, com exceção do Quirguizistão, continuam a ser ditaduras de partido único. Os seus sistemas políticos moribundos e a recusa da mudança mergulharam as populações em desespero e levaram a um êxodo maciço de pessoas para outros Estados em busca de guerra.
Somente agora é que o Usbequistão, o maior e mais poderoso estado com um novo líder, procura aproximar-se dos seus vizinhos da Ásia Central para tentar resolver as disputas fronteiriças pendentes, as amargas rivalidades relacionadas com o controlo e o fluxo de água, gás e eletricidade e os seus ciúmes políticos.
Com novas ameaças no horizonte, como a ascensão do gigante económico chinês nas suas fronteiras, os perigos representados pelos extremistas islâmicos e a continuação da guerra no Afeganistão, é hora de os Estados da Ásia Central se unirem e acabarem com a sua rivalidade de décadas.
É altura de perceberem que nenhum deles tem economias que sejam independentemente sustentáveis e que possam crescer por conta própria. Os seus sistemas políticos precisam de reforma. Depois de 25 anos de rivalidade inútil, é hora de perceberem que precisam uns dos outros.
Jornalista e investigador paquistanês
26 DE DEZEMBRO DE 2016
00:01
Ahmed Rashid
Diário de Notícias
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