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Teoria da morada errada

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Mensagem por Admin Qua Jan 04, 2017 11:46 am

Foi Ernest Gellner quem criou a expressão Teoria da Morada Errada, para organizar a crítica à teoria de Marx na medida em que, na opinião do crítico, os factos substituíram por políticas de inidentidade a prognosticada intervenção da sua preferida classe operária, entre os vários desprivilegiados. No sublinhado de Fukuyama, a adotada inovadora caracterização é abrangente do erro de destinatário, ao afirmar que a comunicação divina foi entregue, na opinião dos xiitas radicais, a Maomé, quando a mensagem não seria para ele, tal como não foi a classe proletária que recebeu a mensagem marxista, a qual lhe era destinada, porque "devido a um erro terrível dos correios foi entregue às nações". Acrescenta que, sempre segundo Gellner, no Médio Oriente contemporâneo, a carta está a ser entregue às religiões e não às nações mas a consequência sociológica sofrida é a mesma. Infelizmente as circunstâncias da crescente desordem mundial agravam o conceito, porque não é só a morada, também a mensagem é confusa e nem sequer é possível o erro de morada porque a definição do destinatário terá desaparecido da engrenagem global. A desordem policêntrica mundial não torna possível enumerar, ou sequer identificar, a totalidade dos centros de poder, que não estão nem em arruamento conhecido nem existem redes orientadoras dos trajetos, ainda que para a morada errada. Para sair desta desordem de moradas erradas ou falta delas, requer-se que em primeiro lugar apareçam lideranças políticas sabidas e confiáveis, mas as experiências são mais de inidentidades, o que dispensa o erro da morada porque não existe destinatário conhecido. Atribui-se ao senador americano Mark Hanse, do século XIX, a afirmação de que "há duas coisas importantes em política, a primeira é o dinheiro, e não me lembro da segunda". Na crise atual parece continuar por ser não conhecida a segunda, talvez porque o credo financeiro sem regras prescinde frequentemente de ter qualquer relação ao menos com o direito positivo. Embora continue errada, a investigação multiplica-se, em busca de conhecimento e resposta possível, como fez Anthony B. Atkinson debruçado sobre "Desigualdades, o que fazer?", e outros, como Acemoglu, a verem se entendiam "Porque falham as nações", mais os ambiciosos em busca da regra, supostamente universal, que Fukuyama designa por sequência da "Ordem Política e Decadência Política", e alguns desesperados a concluir, depois de infelizes quer nos resultados da investigação científica, quer na falta de resposta às orações de crentes, que "talvez seja tarde para o homem, e cedo para Deus". A segunda coisa de que o senador se tinha esquecido, além do dinheiro que afirmava fazer falta à política, depois das meditações que levaram Charles Derber a ir mais além de Piketty, é seguramente procurar evitar o erro na morada das mensagens enviadas que se multiplicaram, e foram perdidas, sobre "a maioria deserdada" que se mostra sem encontrar resposta para o turbilhão das migrações, as causas delas, ou as hesitações sobre como ratificar e depois respeitar a esquecida Declaração Universal dos Deveres Humanos, proposta do Inter Action Council em 1 de Setembro de 1997, sem paralisação dos complexos militares-industriais que alimentam o que já chamam "guerra em toda a parte", destacando-se o corredor que vai do Cabo ao Cairo, seguindo-se a anarquia muçulmana com excesso de ambições retaliatórias contra os ocidentais, e escasso respeito pelos princípios, incluindo os que constam da mensagem divina que dizem observar. Até agora, o esforço de homens como Noam Chomsky, ou Jonathan White, convergindo na conclusão da necessidade de "um debate estimulante sobre as tremendas desigualdades de riqueza e poder no mundo atual", e outros "tornando claro que a desigualdade inerente ao capitalismo não é apenas um processo mecânico mas também pode ser compreendido em termos sociais e políticos", enquadrando na divulgação, designadamente na realidade europeia, as lideranças faltosas, a morada dos destinatários das mensagens, se existentes, a continuar errada, ou não atendendo o carteiro, o que tem o mesmo resultado desesperante. A última vez de tentativa de acerto com a morada, foi quando, no fim da guerra de 1939-1945, escreveram a Carta da ONU e a Declaração dos Direitos. A experiência defrontou recentemente e de novo a ameaça da morada errada em vista do comportamento ambíguo da União Europeia que, além de não definir um conceito estratégico, continua a confirmar a falta de morada corretamente indicada, com escolhas entre os órgãos eleitos e a eurocracia atuante. A maioria deserdada desanima por continuar na dúvida que não abandonou Vieira ao pregar o sermão que intitulou "Quando?" Ou talvez, agora, "Até quando?".

04 DE JANEIRO DE 2017
00:00
Adriano Moreira
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