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É preciso afirmar o jornalismo
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É preciso afirmar o jornalismo
Os jornalistas portugueses organizam, a partir de quinta-feira e até domingo, o seu 4.º Congresso que se propõe "afirmar o jornalismo". É um excelente mote em tempos sombrios para o campo jornalístico e para quem nele exerce uma profissão cada vez mais presa a diversos constrangimentos. Espera-se uma reunião participada e com poder para agitar este debate numa esfera pública demasiado anestesiada em relação aos problemas que todos os dias fazem periclitar o dever de informar. Em liberdade.
Em 2015, lancei o repto a 100 jornalistas para me falarem dos constrangimentos que afetam a profissão. Os textos chegaram de forma célere, significando que a classe sente necessidade de pensar coletivamente os problemas que todos os dias condicionam o seu trabalho. Com esses contributos, publiquei um livro a que dei o título "Jornalista: profissão ameaçada" e é parte do que aí escrevo que aqui recupero.
Nas respostas, salientam-se, acima de tudo, os constrangimentos económicos e a pressão das fontes. Claro que há também a força de leis impossíveis de respeitar (por exemplo, o segredo de justiça), as imposições de tecnologias que fazem multiplicar conteúdos sobre o mesmo acontecimento por diversas plataformas e, algo deveras temível, uma autocensura que os jornalistas vão fazendo crescer em margens silenciosas que ganham, por vezes, uma perigosa centralidade.
Do conjunto muito diversificado de jornalistas que ouvi, impressionou-me o número de respostas que me falaram do peso do dinheiro. Estão aí as principais censuras, transpostas na diminuição de meios, na redução das equipas, na limitação dos trabalhos. Hoje é difícil ir até ao fim da rua ou até ao fim do Mundo à procura de uma boa estória. Não há recursos. É preciso fazer mais com menos. E é preciso fazer. E no meio de tudo isto, ressalta ainda o pânico de perder o emprego. Porque todos sabem que o mercado está esgotadíssimo e não há margem para contratos, principalmente se isso significar salários razoáveis.
Outro constrangimento é o da pressão das fontes. O político que pressiona pessoalmente o jornalista pertence ao passado. Hoje os assessores e as agências de comunicação exercem uma enorme pressão de agendamento e de cobertura mediática com técnicas apuradíssimas, sendo, por vezes, muito difícil perceber onde se interrompe uma profícua mediação e começa uma intolerável manipulação. Há também aqueles que fazem chegar às redações as suas mensagens em formato (pseudo) jornalístico, procurando que esses conteúdos sejam publicados integralmente assim. Os jornalistas ficam próximos do estatuto de "copy-paste" ou de pé de microfone. Em contexto de retenção de despesas, reduz-se drasticamente a procura de várias fontes. Ora, perante a impossibilidade de ouvir todos aqueles que interessam, os jornalistas refugiam-se nas versões das elites do poder. Que se repetem invariavelmente em todos os média noticiosos. Está aqui a principal explicação para o espaço público rarefeito que atualmente asfixia um pensamento livre, alternativo, de valor.
Os média noticiosos estão em crise e os jornalistas nunca estiveram tão mal. É um facto. Mas as dificuldades também abrem outras possibilidades práticas de ação que devem, em primeiro lugar, ser assumidas pelos próprios jornalistas. São eles que devem reformatar um campo que lhes pertence. São eles que se devem liderar a renovação de si próprios. São eles que devem reinventar um futuro para o jornalismo. É, pois, urgente, afirmar o jornalismo. É essa afirmação inequívoca, solta de amarras e à procura de um outro olhar sobre uma realidade que frequentemente tanto pesa que precisamos de conquistar. Para que a sociedade seja mais equilibrada, mais dinâmica, mais cumpridora.
Falta menos de uma semana para o 4.º Congresso dos Jornalistas. Que esses quatro dias sejam multiplicadores de pontos de vista diversos, que sejam espaço para um diagnóstico esclarecedor e inequívoco da profissão e que, no fim, se abram vias alternativas para que o jornalismo se afirme. Com qualidade, com interesse público e com liberdade. Para que todos o sintam como um vetor estruturante de um espaço público mais equilibrado.
* PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA U. MINHO
Felisbela Lopes
Hoje às 00:00
Jornal de Notícias
Em 2015, lancei o repto a 100 jornalistas para me falarem dos constrangimentos que afetam a profissão. Os textos chegaram de forma célere, significando que a classe sente necessidade de pensar coletivamente os problemas que todos os dias condicionam o seu trabalho. Com esses contributos, publiquei um livro a que dei o título "Jornalista: profissão ameaçada" e é parte do que aí escrevo que aqui recupero.
Nas respostas, salientam-se, acima de tudo, os constrangimentos económicos e a pressão das fontes. Claro que há também a força de leis impossíveis de respeitar (por exemplo, o segredo de justiça), as imposições de tecnologias que fazem multiplicar conteúdos sobre o mesmo acontecimento por diversas plataformas e, algo deveras temível, uma autocensura que os jornalistas vão fazendo crescer em margens silenciosas que ganham, por vezes, uma perigosa centralidade.
Do conjunto muito diversificado de jornalistas que ouvi, impressionou-me o número de respostas que me falaram do peso do dinheiro. Estão aí as principais censuras, transpostas na diminuição de meios, na redução das equipas, na limitação dos trabalhos. Hoje é difícil ir até ao fim da rua ou até ao fim do Mundo à procura de uma boa estória. Não há recursos. É preciso fazer mais com menos. E é preciso fazer. E no meio de tudo isto, ressalta ainda o pânico de perder o emprego. Porque todos sabem que o mercado está esgotadíssimo e não há margem para contratos, principalmente se isso significar salários razoáveis.
Outro constrangimento é o da pressão das fontes. O político que pressiona pessoalmente o jornalista pertence ao passado. Hoje os assessores e as agências de comunicação exercem uma enorme pressão de agendamento e de cobertura mediática com técnicas apuradíssimas, sendo, por vezes, muito difícil perceber onde se interrompe uma profícua mediação e começa uma intolerável manipulação. Há também aqueles que fazem chegar às redações as suas mensagens em formato (pseudo) jornalístico, procurando que esses conteúdos sejam publicados integralmente assim. Os jornalistas ficam próximos do estatuto de "copy-paste" ou de pé de microfone. Em contexto de retenção de despesas, reduz-se drasticamente a procura de várias fontes. Ora, perante a impossibilidade de ouvir todos aqueles que interessam, os jornalistas refugiam-se nas versões das elites do poder. Que se repetem invariavelmente em todos os média noticiosos. Está aqui a principal explicação para o espaço público rarefeito que atualmente asfixia um pensamento livre, alternativo, de valor.
Os média noticiosos estão em crise e os jornalistas nunca estiveram tão mal. É um facto. Mas as dificuldades também abrem outras possibilidades práticas de ação que devem, em primeiro lugar, ser assumidas pelos próprios jornalistas. São eles que devem reformatar um campo que lhes pertence. São eles que se devem liderar a renovação de si próprios. São eles que devem reinventar um futuro para o jornalismo. É, pois, urgente, afirmar o jornalismo. É essa afirmação inequívoca, solta de amarras e à procura de um outro olhar sobre uma realidade que frequentemente tanto pesa que precisamos de conquistar. Para que a sociedade seja mais equilibrada, mais dinâmica, mais cumpridora.
Falta menos de uma semana para o 4.º Congresso dos Jornalistas. Que esses quatro dias sejam multiplicadores de pontos de vista diversos, que sejam espaço para um diagnóstico esclarecedor e inequívoco da profissão e que, no fim, se abram vias alternativas para que o jornalismo se afirme. Com qualidade, com interesse público e com liberdade. Para que todos o sintam como um vetor estruturante de um espaço público mais equilibrado.
* PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA U. MINHO
Felisbela Lopes
Hoje às 00:00
Jornal de Notícias
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