Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 84 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 84 visitantes Nenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
A pós-sociedade
Página 1 de 1
A pós-sociedade
A sociedade global não tem centro, não tem direcção, nem tem perspectiva. É movimento, desequilíbrio e ultrapassagem. É uma sociedade que evolui além do que nos últimos séculos mais nos marcou.
Trata-se de uma sociedade nova, ainda sem palavras para se descrever a si mesma com rigor.
Uma sociedade pós-ocidental, evoluindo sobre a expansão e a distorção de uma cultura de milénios que criou a Europa e os Estados Unidos da América, e que hoje se reconfigura ao longo de novos poderes fácticos, económicos e tecnológicos que emergem para lá do horizonte, a oriente e a sul do que foi o centro do mundo.
Uma sociedade pós-democrática, em que a abstenção é crescente há décadas, onde os cidadãos constatam a incapacidade dos Estados em resolver problemas e onde as propostas de fora do sistema político tradicional ganham eleições.
Uma sociedade pós-nacional, globalmente integrada, onde o Estado, lutando para sobreviver, vai sendo esvaziado das suas competências a favor de instâncias supranacionais, regionais e locais, e onde o poder vai ganhando traços crescentemente móveis e globais.
Uma sociedade pós-literária, intensa e emocional, assente na infinidade de imagens e sons em variação perpétua, longe do mundo sequencial, linear e lógico do alfabeto, da cultura literária e da sociedade industrial.
Uma sociedade pós-histórica, assente no eterno retorno da pré-história, que é também o vaguear da visão pelas imagens, longe da escrita e da sua ideia essencial de sequência que alimentou o progresso e que fundou a História, como escreveu Vilém Flusser.
Uma sociedade, não apenas pós-verdade, mas também pós-mentira porque a realidade não é mais possível, porque o real é o fluído, o instável e a combinação permanente de imaginação, invenções, erros, interpretações e ignorância, onde é um empreendimento infindável e impossível saber de facto o que é o quê.
Uma sociedade pós-media e não uma sociedade mediática; porque a realidade tem hoje natureza mediática e todas as organizações se estão a transformar em organizações de media.
Uma sociedade pós-publicidade, em que toda a informação, todas as notícias e todas as comunicações são publicidade.
Uma sociedade pós-material, onde a riqueza e o poder se concentram na informação e na comunicação; onde os bens materiais estão em queda e onde o que tem valor não pode ser livremente tomado, como agitadamente descobriu o ladrão da casa luxuosa, no "Cavaleiro de Copas" de Terrence Malick, onde não havia nada para roubar.
Uma sociedade não pós-moderna, mas pós-pós-moderna, onde a aldeia global de Marshall McLuhan, o "Ge-stell" de Martin Heidegger, e a hiper-realidade de Jean Baudrillard aconteceram e, face à internet, aos telemóveis, à robótica e à inteligência artificial parecem hoje brincadeiras de criança.
Uma sociedade pós-humana, onde cientificamente se investiga a imortalidade, aquela única diferença que segundo Séneca separaria os homens dos deuses.
Uma sociedade pós-industrial, pós-capitalista, pós-ideológica, pós-género, uma sociedade pós- tudo. Uma sociedade que não se vislumbra ainda o que virá a ser, mas que se consta todos os dias do que se está a afastar.
Professor na Universidade Católica Portuguesa
Fernando Ilharco
05 de Janeiro de 2017 às 19:53
Negócios
Trata-se de uma sociedade nova, ainda sem palavras para se descrever a si mesma com rigor.
Uma sociedade pós-ocidental, evoluindo sobre a expansão e a distorção de uma cultura de milénios que criou a Europa e os Estados Unidos da América, e que hoje se reconfigura ao longo de novos poderes fácticos, económicos e tecnológicos que emergem para lá do horizonte, a oriente e a sul do que foi o centro do mundo.
Uma sociedade pós-democrática, em que a abstenção é crescente há décadas, onde os cidadãos constatam a incapacidade dos Estados em resolver problemas e onde as propostas de fora do sistema político tradicional ganham eleições.
Uma sociedade pós-nacional, globalmente integrada, onde o Estado, lutando para sobreviver, vai sendo esvaziado das suas competências a favor de instâncias supranacionais, regionais e locais, e onde o poder vai ganhando traços crescentemente móveis e globais.
Uma sociedade pós-literária, intensa e emocional, assente na infinidade de imagens e sons em variação perpétua, longe do mundo sequencial, linear e lógico do alfabeto, da cultura literária e da sociedade industrial.
Uma sociedade pós-histórica, assente no eterno retorno da pré-história, que é também o vaguear da visão pelas imagens, longe da escrita e da sua ideia essencial de sequência que alimentou o progresso e que fundou a História, como escreveu Vilém Flusser.
Uma sociedade, não apenas pós-verdade, mas também pós-mentira porque a realidade não é mais possível, porque o real é o fluído, o instável e a combinação permanente de imaginação, invenções, erros, interpretações e ignorância, onde é um empreendimento infindável e impossível saber de facto o que é o quê.
Uma sociedade pós-media e não uma sociedade mediática; porque a realidade tem hoje natureza mediática e todas as organizações se estão a transformar em organizações de media.
Uma sociedade pós-publicidade, em que toda a informação, todas as notícias e todas as comunicações são publicidade.
Uma sociedade pós-material, onde a riqueza e o poder se concentram na informação e na comunicação; onde os bens materiais estão em queda e onde o que tem valor não pode ser livremente tomado, como agitadamente descobriu o ladrão da casa luxuosa, no "Cavaleiro de Copas" de Terrence Malick, onde não havia nada para roubar.
Uma sociedade não pós-moderna, mas pós-pós-moderna, onde a aldeia global de Marshall McLuhan, o "Ge-stell" de Martin Heidegger, e a hiper-realidade de Jean Baudrillard aconteceram e, face à internet, aos telemóveis, à robótica e à inteligência artificial parecem hoje brincadeiras de criança.
Uma sociedade pós-humana, onde cientificamente se investiga a imortalidade, aquela única diferença que segundo Séneca separaria os homens dos deuses.
Uma sociedade pós-industrial, pós-capitalista, pós-ideológica, pós-género, uma sociedade pós- tudo. Uma sociedade que não se vislumbra ainda o que virá a ser, mas que se consta todos os dias do que se está a afastar.
Professor na Universidade Católica Portuguesa
Fernando Ilharco
05 de Janeiro de 2017 às 19:53
Negócios
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin