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Se estás a ouvir isto, tu és a resistência
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Se estás a ouvir isto, tu és a resistência
As carruagens do metro que quase nunca enche estavam a abarrotar quando pararam na Union Station, coração da baixa de Los Angeles, na manhã de sábado. Esperavam-se milhares de pessoas na marcha pró-mulher de LA, em paralelo com a de Washington, DC, mas suspeito de que ninguém imaginava um nível de participação desta magnitude: 750 mil pessoas inundaram downtown, de forma pacífica. O cortejo até à câmara da cidade tornou-se impossível porque não havia por onde se mexer. Cartazes coloridos, muitos homens, celebridades, chapéus cor-de-rosa, roupas brancas, dança, sorrisos e punhos levantados, palavras de ordem e mãos dadas. Foi a maior manifestação em LA dos últimos dez anos. Sem qualquer incidente ou detenções.
"Isto é uma estupidez sem tamanho", dizia-me um amigo, "não querem igualdade, querem mais direitos do que os homens." Respirei fundo. A marcha que se alastrou de Washington a todo o mundo - cerca de 60 países, com 2,9 milhões de pessoas, a favor dos direitos já adquiridos e dos que falta conquistar. Desde o aborto legal ao acesso a cuidados de saúde prestados pelas clínicas Planned Parenthood, onde é possível aceder a exames ginecológicos, despistes de cancro e métodos contracetivos que não custam uma fortuna - ambos em risco, com a administração Trump. A luta pelo direito universal a licença de maternidade.
Esta marcha foi um pontapé na cara de quem anda há dois meses a chamar os liberais de flocos de neve e bebés chorões. Foi o primeiro ato de resistência a uma administração que quer reverter várias conquistas das mulheres nos Estados Unidos. Houve um sentido de irmandade, uma solidariedade raramente vista nestas proporções. Não houve incitamento a violência ou protestos contra a legitimidade da tomada de posse de Donald Trump. Porque a democracia funcionou na eleição, e agora o povo exerce o seu direito de expressão. Nunca vi nada como isto. Como também nunca vi tamanha divisão entre pessoas que partilham um amor profundo, quase cego, pelos Estados Unidos. É esse amor por esta terra que as leva a ter posições completamente opostas.
Do lado dos republicanos, mesmo os que votaram em Trump com o dedo a apertar o nariz, existe a esperança de que um não-político abane o sistema, dê prioridade ao crescimento económico a qualquer custo (para o diabo com as proteções ambientais, é preciso é ter emprego), ponha na linha os países que consideram estar a aproveitar-se da América e recupere a primazia da fé judaico-cristã, da família tradicional, dos papéis históricos do homem e da mulher na sociedade. A insistência dos democratas na diversidade racial, nas famílias alternativas e na voz das minorias deixou uma boa parte do eleitorado a sentir-se rejeitada. Não significa, de chapa, que queiram oprimir um grupo específico da sociedade - mas sentem que a prioridade não deve ser o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a promoção de muçulmanos no mercado de trabalho. Sentem também que o papel tradicional da mulher como mãe e dona de casa está a perder-se e que aquilo que o veio substituir é estranho e perigoso.
Do outro lado, a incredulidade. A Emenda que devia garantir, no papel, que as mulheres têm os mesmos direitos que os homens (ERA) nunca foi ratificada por todos os estados. As mulheres ainda ganham menos do que os homens por trabalho equivalente. A licença de maternidade é à vontade do chefe, mesmo a não paga. A pílula custa entre 50 e 200 dólares por mês, as creches mais de mil. Os republicanos não querem educação sexual nas escolas, não querem dar acesso a contracetivos a preços razoáveis, querem retirar apoios monetários às famílias pobres - porque acham que se aproveitam deles - e ao mesmo tempo tornar o aborto ilegal. A única coisa que importa é que a mulher dê à luz. O que acontece a seguir a ela e à criança? Problema vosso, cambada de mandriões.
Mas é um problema de todos, não eles contra elas. A marcha foi um aviso de que os próximos quatro anos vão ser de resistência. E é possível, com toda a ironia que o momento pede, que a eleição de Trump tenha desencadeado o maior movimento feminista do século - talvez o que faltava para chegar a uma situação de verdadeira igualdade de oportunidades na terra dos livres.
24 DE JANEIRO DE 2017
00:01
Ana Rita Guerra
Diário de Notícias
"Isto é uma estupidez sem tamanho", dizia-me um amigo, "não querem igualdade, querem mais direitos do que os homens." Respirei fundo. A marcha que se alastrou de Washington a todo o mundo - cerca de 60 países, com 2,9 milhões de pessoas, a favor dos direitos já adquiridos e dos que falta conquistar. Desde o aborto legal ao acesso a cuidados de saúde prestados pelas clínicas Planned Parenthood, onde é possível aceder a exames ginecológicos, despistes de cancro e métodos contracetivos que não custam uma fortuna - ambos em risco, com a administração Trump. A luta pelo direito universal a licença de maternidade.
Esta marcha foi um pontapé na cara de quem anda há dois meses a chamar os liberais de flocos de neve e bebés chorões. Foi o primeiro ato de resistência a uma administração que quer reverter várias conquistas das mulheres nos Estados Unidos. Houve um sentido de irmandade, uma solidariedade raramente vista nestas proporções. Não houve incitamento a violência ou protestos contra a legitimidade da tomada de posse de Donald Trump. Porque a democracia funcionou na eleição, e agora o povo exerce o seu direito de expressão. Nunca vi nada como isto. Como também nunca vi tamanha divisão entre pessoas que partilham um amor profundo, quase cego, pelos Estados Unidos. É esse amor por esta terra que as leva a ter posições completamente opostas.
Do lado dos republicanos, mesmo os que votaram em Trump com o dedo a apertar o nariz, existe a esperança de que um não-político abane o sistema, dê prioridade ao crescimento económico a qualquer custo (para o diabo com as proteções ambientais, é preciso é ter emprego), ponha na linha os países que consideram estar a aproveitar-se da América e recupere a primazia da fé judaico-cristã, da família tradicional, dos papéis históricos do homem e da mulher na sociedade. A insistência dos democratas na diversidade racial, nas famílias alternativas e na voz das minorias deixou uma boa parte do eleitorado a sentir-se rejeitada. Não significa, de chapa, que queiram oprimir um grupo específico da sociedade - mas sentem que a prioridade não deve ser o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a promoção de muçulmanos no mercado de trabalho. Sentem também que o papel tradicional da mulher como mãe e dona de casa está a perder-se e que aquilo que o veio substituir é estranho e perigoso.
Do outro lado, a incredulidade. A Emenda que devia garantir, no papel, que as mulheres têm os mesmos direitos que os homens (ERA) nunca foi ratificada por todos os estados. As mulheres ainda ganham menos do que os homens por trabalho equivalente. A licença de maternidade é à vontade do chefe, mesmo a não paga. A pílula custa entre 50 e 200 dólares por mês, as creches mais de mil. Os republicanos não querem educação sexual nas escolas, não querem dar acesso a contracetivos a preços razoáveis, querem retirar apoios monetários às famílias pobres - porque acham que se aproveitam deles - e ao mesmo tempo tornar o aborto ilegal. A única coisa que importa é que a mulher dê à luz. O que acontece a seguir a ela e à criança? Problema vosso, cambada de mandriões.
Mas é um problema de todos, não eles contra elas. A marcha foi um aviso de que os próximos quatro anos vão ser de resistência. E é possível, com toda a ironia que o momento pede, que a eleição de Trump tenha desencadeado o maior movimento feminista do século - talvez o que faltava para chegar a uma situação de verdadeira igualdade de oportunidades na terra dos livres.
24 DE JANEIRO DE 2017
00:01
Ana Rita Guerra
Diário de Notícias
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