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A falta que um autocarro faz
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A falta que um autocarro faz
O regresso da gestão da Carris ao Município de Lisboa é das decisões que mais impacto terá sobre a vida dos lisboetas. O poder central muitas vezes desvaloriza a importância da descentralização, focado muitas vezes na cega gestão de custos, pelas vantagens da economia de escala.
É claro que as verbas alocadas a cada uma das funções do Estado têm de ser geridas com o máximo rigor. E também é verdade que há funções estatais em que todos ficamos a ganhar se forem dadas a explorar a privados, com ou sem supervisão.
Não é o caso dos transportes públicos. Os lisboetas já tinham sido beneficiados quando, há um ano, foi revertida a subconcessão a privados da Carris.
Porque em qualquer pequeno município, vila ou cidade - nomeadamente numa cidade com a dimensão que Lisboa já atinge - a questão dos transportes não se coloca apenas em levar pessoas de um lado para o outro. É uma atividade com múltiplas dimensões.
Neste caso, se a Câmara já regula o trânsito na cidade, já gere o seu estacionamento, procura criar políticas alternativas de transportes, tenta promover a vida de bairro ou faz o ordenamento do território, esta manutenção na esfera pública e, depois, a sua passagem para gestão municipal, decorre apenas da lógica.
Como se cria uma nova centralidade ou se aposta em voltar a povoar determinadas zonas da cidade sem uma política ativa de transportes que assegure os bons acessos que garantam que a população tem condições para ali viver? Sim, porque por mais que nos esqueçamos, a necessidade de transportes é tão básica como a de alimentação, a de água ou de eletricidade. Por outro lado, por muito que tentemos assegurar um lugar de estacionamento para cada veículo, o futuro irá fundamentalmente passar pelos transportes públicos. Primeiro porque a capacidade de resposta de parqueamento será sempre limitada, segundo - e até mais importante - por essenciais necessidades ambientais e de controlo de gases com efeito de estufa e outros que são nocivos para a saúde dos seres vivos.
Pensando nesta contribuição para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e da nossa existência como comunidade destaco, dentre os lisboetas, os mais idosos. São estes os principais beneficiados com a chegada da Carris à esfera municipal.
Pode não parecer, ou podem os restantes cidadãos não ter clara consciência disso, mas a circunstância do desconto no passe social ter diminuído em 2012, passando de 50% para 25%, levou muitos reformados a deixarem de poder circular na cidade e na área metropolitana de Lisboa.
Fez muitos idosos permanecerem encerrados nas respetivas casas, abandonando o convívio com os outros, enfim, isolando-se.
Dir-se-á que foi apenas um aumento de 25% no preço do passe, mas nenhum valor é apenas quando já se recebe pouco…
É por esse motivo que o novo passe social para quem tenha 65 anos ou mais, com desconto de 60%, é das melhores notícias que os idosos da capital recebem em 2017.
A decisão política de a oferta da Carris incluir um passe para reformados que custa € 14,5 só podia ser tomada tendo como primeira preocupação a cidade de Lisboa, os seus habitantes e a dureza da vida de muitos idosos.
É por isso que foi corajosa a opção de reconhecer que a Carris seria sempre melhor gerida pela Câmara de Lisboa do que pela Administração Central do Estado.
É por isso também que deve ser elogiada a capacidade de perceber que a gestão da operação da Carris, inexoravelmente ligada ao trânsito da capital, seria incomparavelmente mais bem feita ao nível municipal.
Tudo o resto foi pura teimosia ideológica, desfasamento da realidade social do país e não saber a falta que um autocarro faz na vida das pessoas.
4 de fevereiro 2017
Sofia Oliveira Dias
SOL
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