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Cultura pop e populismos atuais
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Cultura pop e populismos atuais
Quando hoje falamos de populismos, não devemos esquecer o contributo que as técnicas de comunicação têm dado para a consolidação de tais movimentos
Para quem exerce funções em instituições europeias, a constatação da diferença de estilo com que os representantes dos países do sul, mas também os dos germânicos, expõem um tema, se comparado com o dos países de cultura anglo-saxónica e nórdica, é notória.
Os primeiros – se não se aculturarem entretanto, o que se vai verificando – sentem quase sempre necessidade de fazer um enquadramento histórico e teórico do assunto que vão expor, por mais prosaico que ele possa parecer.
Os segundos vão diretamente ao assunto, procurando sobretudo transmitir uma mensagem simples e sexy, julgando assim poder transmitir uma explicação essencial sobre a matéria.
Importa-lhes sobretudo fixar uma ideia, não cansar os interlocutores e, se possível – mesmo que o assunto não seja para graças – diverti-los com uma história a propósito, se possível com efeitos visuais, para que fixem melhor a mensagem que lhes importa sugerir.
Usam, pois, com mestria inigualável os power point, reduzindo a exposição de ideias a um nível fundamental, não se preocupando muito com os antecedentes e as hipóteses supervenientes suscitadas pelas mensagens que veiculam.
Esta forma de exposição de temas procede, em certo sentido, de uma cultura pop, fundada na publicidade comercial, numa prática jornalística tabloide e, mais recentemente, na introdução da informática e no desenvolvimento das redes sociais mediáticas de palavra curta e direta.
Mesmo que eficaz na transmissão da mensagem essencial, este estilo de comunicação, quando aplicado a questões complexas, tende todavia a evitar o aprofundamento dos temas em discussão – a democracia não sobrevive sem ela.
Deste modo se consagra facilmente uma verdade que, afinal, pode não o ser, precisamente porque se evitam as polémicas que o enquadramento histórico e teórico do assunto sempre ocasiona e, consequentemente, as indagações sobre a sua validade intrínseca.
Estas formas de comunicação são, simultaneamente, sofisticadas e primárias.
Sofisticadas no uso da técnica e tecnologia de comunicação que empregam e as tornam eficientes na transmissão da mensagem, e primárias na substância da ideia que querem transmitir.
Quando hoje falamos de populismos não devemos, por isso, esquecer o contributo que essas técnicas de comunicação têm dado para a consolidação de tais movimentos.
É talvez a partir desta característica que podemos começar a distingui-los de movimentos de direita, ou supostamente de esquerda, que precederam os populismos atuais.
Aqueles procuravam também fundar as suas mensagens num ideário que, mesmo quando verdadeiramente primário na substância, pretendia dar a aparência de problematizar as soluções preconizadas.
Se as mensagens finais podiam ser básicas, elas buscavam sustentar-se, contudo, num argumentário que, ao menos na sua retórica própria, se pretendia sério e profundo.
Algumas das razões que justificam o nosso embaraço com o nível de certos discursos e mensagens políticas que nos chegam agora do outro lado do Atlântico residem precisamente aí: na incompreensão que demonstramos ante a leitura vazia das ideias sincopadas que eles veiculam.
Embora com idêntico sentido, mesmo as palavras de Marine Le Pen parecem, ainda assim, teoricamente mais sustentadas.
E, todavia, é para esta realidade que os nossos media e escolas (de todos os níveis) têm vindo a preparar-nos: a simplificação radical do discurso público e a sua desproblematização a nível dos valores e princípios.
Não admira, por isso, a abundância de ideias primárias que alimentam hoje os projetos populistas.
Jurista
Escreve à terça-feira
14/02/2017
António Cluny
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
Para quem exerce funções em instituições europeias, a constatação da diferença de estilo com que os representantes dos países do sul, mas também os dos germânicos, expõem um tema, se comparado com o dos países de cultura anglo-saxónica e nórdica, é notória.
Os primeiros – se não se aculturarem entretanto, o que se vai verificando – sentem quase sempre necessidade de fazer um enquadramento histórico e teórico do assunto que vão expor, por mais prosaico que ele possa parecer.
Os segundos vão diretamente ao assunto, procurando sobretudo transmitir uma mensagem simples e sexy, julgando assim poder transmitir uma explicação essencial sobre a matéria.
Importa-lhes sobretudo fixar uma ideia, não cansar os interlocutores e, se possível – mesmo que o assunto não seja para graças – diverti-los com uma história a propósito, se possível com efeitos visuais, para que fixem melhor a mensagem que lhes importa sugerir.
Usam, pois, com mestria inigualável os power point, reduzindo a exposição de ideias a um nível fundamental, não se preocupando muito com os antecedentes e as hipóteses supervenientes suscitadas pelas mensagens que veiculam.
Esta forma de exposição de temas procede, em certo sentido, de uma cultura pop, fundada na publicidade comercial, numa prática jornalística tabloide e, mais recentemente, na introdução da informática e no desenvolvimento das redes sociais mediáticas de palavra curta e direta.
Mesmo que eficaz na transmissão da mensagem essencial, este estilo de comunicação, quando aplicado a questões complexas, tende todavia a evitar o aprofundamento dos temas em discussão – a democracia não sobrevive sem ela.
Deste modo se consagra facilmente uma verdade que, afinal, pode não o ser, precisamente porque se evitam as polémicas que o enquadramento histórico e teórico do assunto sempre ocasiona e, consequentemente, as indagações sobre a sua validade intrínseca.
Estas formas de comunicação são, simultaneamente, sofisticadas e primárias.
Sofisticadas no uso da técnica e tecnologia de comunicação que empregam e as tornam eficientes na transmissão da mensagem, e primárias na substância da ideia que querem transmitir.
Quando hoje falamos de populismos não devemos, por isso, esquecer o contributo que essas técnicas de comunicação têm dado para a consolidação de tais movimentos.
É talvez a partir desta característica que podemos começar a distingui-los de movimentos de direita, ou supostamente de esquerda, que precederam os populismos atuais.
Aqueles procuravam também fundar as suas mensagens num ideário que, mesmo quando verdadeiramente primário na substância, pretendia dar a aparência de problematizar as soluções preconizadas.
Se as mensagens finais podiam ser básicas, elas buscavam sustentar-se, contudo, num argumentário que, ao menos na sua retórica própria, se pretendia sério e profundo.
Algumas das razões que justificam o nosso embaraço com o nível de certos discursos e mensagens políticas que nos chegam agora do outro lado do Atlântico residem precisamente aí: na incompreensão que demonstramos ante a leitura vazia das ideias sincopadas que eles veiculam.
Embora com idêntico sentido, mesmo as palavras de Marine Le Pen parecem, ainda assim, teoricamente mais sustentadas.
E, todavia, é para esta realidade que os nossos media e escolas (de todos os níveis) têm vindo a preparar-nos: a simplificação radical do discurso público e a sua desproblematização a nível dos valores e princípios.
Não admira, por isso, a abundância de ideias primárias que alimentam hoje os projetos populistas.
Jurista
Escreve à terça-feira
14/02/2017
António Cluny
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
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