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O valor da coerência em política
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O valor da coerência em política
Um estudo de opinião (Eurosondagem) conhecido na semana passada indica que uma esmagadora maioria de portugueses (66,3%) reprova a atuação de Passos Coelho e do PSD na questão da TSU.
Nesta avaliação não está em causa a concordância ou discordância em relação à medida em concreto nem a alternativas prévias ou posteriores ao debate que se desenrolou no Parlamento, mas sim ao valor da coerência na vida política.
É legítimo – e desejável – que a oposição afirme propostas diferenciadoras e alternativas, que dispute esse campo e que procure reforçar a sua posição no país. Mas isso não pode ser feito de forma tortuosa, jogando à roleta com os princípios e valores que constituem o património de um partido. Perdendo isso, não fica com nada. Porque é através dessa racionalidade, dessa lógica, que os partidos honram a sua história e os seus valores, exprimindo-os através das votações que em cada momento assumem na Assembleia da República: é por elas que vemos se cumprem ou não com os seus próprios princípios.
Decidindo alienar o seu património e confrontar a concertação, o PSD criou um problema a si próprio. Falhando a jogada tática para tentar isolar o PS numa esfera de diferenças que são públicas e assumidas com os seus aliados parlamentares falhou, o PSD ficou preso ao fio das suas próprias contradições. Não foi preciso ir muito longe para o contraste ser evidente.
Para além das posições assumidas ao longo dos anos (incluindo a proposta de alteração radical do modelo de financiamento da SS em 2012 contra a qual o país se mobilizou), poucas semanas antes do debate parlamentar o PSD exigiu aquilo que veio depois a chumbar.
O grau de contradição do PSD foi tal forma acelerado que se pode medir em semanas:
1. O dirigente e deputado Marco António Costa pediu que o acordo fosse alargado às IPSS, misericórdias e mutualidades (como veio a ser).
2. O deputado Adão Silva, vice-presidente da bancada do PSD com o pelouro da Segurança Social, confirmou que existiam «indicações, factos históricos e sinais de coerência que apontam que a posição social-democrata permitirá ao Governo manter a descida da TSU».
3. O deputado Pedro Roque, SG dos TSD, integra a direção da UGT e aí aprovou por unanimidade o acordo de concertação social.
4. Em dezembro, o PSD apresentou o projeto de resolução 566 recomendando ao Governo «um diálogo sério com os parceiros sociais no sentido de alcançar um acordo de concertação social de médio prazo sobre o Crescimento, Competitividade e Emprego que inclua a atualização do Salário Mínimo Nacional», como foi feito.
No final de tudo isto, o PSD chumbou aquilo que defendia e verdadeiramente não explicou por que o fez. Assim exprimiu a estratégia de uma direção partidária que quer extremar posições num país que se normaliza, demonstrando o seu divórcio com a realidade.
Ao inaugurar um princípio inédito na nossa vida democrática «vem do PS, estamos contra!», o PSD e o seu líder exultaram os radicais mas confundiram a aparência da força com a fraqueza da ação, demonstrando que nada têm a oferecer ao país a não ser um profundo ressentimento sem memória nem futuro.
Aparentemente, os portugueses já o perceberam.
Tiago Barbosa Ribeiro, Deputado do PS
18 de fevereiro 2017
SOL
Nesta avaliação não está em causa a concordância ou discordância em relação à medida em concreto nem a alternativas prévias ou posteriores ao debate que se desenrolou no Parlamento, mas sim ao valor da coerência na vida política.
É legítimo – e desejável – que a oposição afirme propostas diferenciadoras e alternativas, que dispute esse campo e que procure reforçar a sua posição no país. Mas isso não pode ser feito de forma tortuosa, jogando à roleta com os princípios e valores que constituem o património de um partido. Perdendo isso, não fica com nada. Porque é através dessa racionalidade, dessa lógica, que os partidos honram a sua história e os seus valores, exprimindo-os através das votações que em cada momento assumem na Assembleia da República: é por elas que vemos se cumprem ou não com os seus próprios princípios.
Decidindo alienar o seu património e confrontar a concertação, o PSD criou um problema a si próprio. Falhando a jogada tática para tentar isolar o PS numa esfera de diferenças que são públicas e assumidas com os seus aliados parlamentares falhou, o PSD ficou preso ao fio das suas próprias contradições. Não foi preciso ir muito longe para o contraste ser evidente.
Para além das posições assumidas ao longo dos anos (incluindo a proposta de alteração radical do modelo de financiamento da SS em 2012 contra a qual o país se mobilizou), poucas semanas antes do debate parlamentar o PSD exigiu aquilo que veio depois a chumbar.
O grau de contradição do PSD foi tal forma acelerado que se pode medir em semanas:
1. O dirigente e deputado Marco António Costa pediu que o acordo fosse alargado às IPSS, misericórdias e mutualidades (como veio a ser).
2. O deputado Adão Silva, vice-presidente da bancada do PSD com o pelouro da Segurança Social, confirmou que existiam «indicações, factos históricos e sinais de coerência que apontam que a posição social-democrata permitirá ao Governo manter a descida da TSU».
3. O deputado Pedro Roque, SG dos TSD, integra a direção da UGT e aí aprovou por unanimidade o acordo de concertação social.
4. Em dezembro, o PSD apresentou o projeto de resolução 566 recomendando ao Governo «um diálogo sério com os parceiros sociais no sentido de alcançar um acordo de concertação social de médio prazo sobre o Crescimento, Competitividade e Emprego que inclua a atualização do Salário Mínimo Nacional», como foi feito.
No final de tudo isto, o PSD chumbou aquilo que defendia e verdadeiramente não explicou por que o fez. Assim exprimiu a estratégia de uma direção partidária que quer extremar posições num país que se normaliza, demonstrando o seu divórcio com a realidade.
Ao inaugurar um princípio inédito na nossa vida democrática «vem do PS, estamos contra!», o PSD e o seu líder exultaram os radicais mas confundiram a aparência da força com a fraqueza da ação, demonstrando que nada têm a oferecer ao país a não ser um profundo ressentimento sem memória nem futuro.
Aparentemente, os portugueses já o perceberam.
Tiago Barbosa Ribeiro, Deputado do PS
18 de fevereiro 2017
SOL
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