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Porto, cidade literária
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Porto, cidade literária
A ideia surgiu à volta dos encontros mensais que a Livraria Lello vem promovendo. Isabel Pires de Lima disse o essencial. Sim, o Porto pode ser uma cidade literária porque, designadamente nesse fantástico século XIX em que o Porto irradiou produtividade e modernidade para o país, toda a revolução romântica aqui nidificou, projetando nomes maiores das letras e das artes.
Mas, mais importante, Isabel Pires de Lima lembrou que esse movimento foi participado e assumido pelos protagonistas da cidade, desde os ricos burgueses às instituições políticas e culturais. Lembrou, por exemplo, que das muitas revistas literárias editadas, algumas houve, como por exemplo "O Bardo", que foi inteiramente patrocinada pelos comerciantes, afeitos ao gosto de "poetar".
Esta forma simples e sólida de "pegar" no tema perdeu-se, de certa forma, quando todos os outros protagonistas, já oficialmente associados a cidades e vilas literárias (de Edimburgo a Óbidos) não resistiram aos resultados eminentemente turísticos desta vocação.
E a reflexão tem obrigatoriamente que se deter neste ponto.
O que são e para que servem estas "vocações" certificadas?
Os responsáveis falam invariavelmente de dormidas, visitas, festivais, eventos e gastronomia. Se fechar os olhos posso achar que estão a falar do Circuito de Vila Real que ainda por estes dias apresentou resultados fantásticos em todas estas categorias.
Mas os livros são coisas sérias. Os livros, ou a literatura, como dizia Isabel Pires de Lima "tratam do conhecimento das singularidades; estimulam o conhecimento do outro; favorecem a inclusão".
São os livros e a vida dos livros o que mais importa. O Porto será uma cidade literária se aqui abrirem mais livrarias, se aqui se editarem mais livros, se aqui todos lermos mais, se aqui traduzirmos os outros ou fizermos traduzir o que é nosso. Se, de alguma forma, voltarmos ao espírito do Porto romântico e todos gostarmos e até pagarmos para "poetar".
Os turistas, os visitantes, os eventos e os festivais são bem-vindos mas sem esta opção radical e primeira de uma comunidade residente, académica, produtiva, pela literatura, não há, de facto diferença entre Óbidos "Vila Literária" e Óbidos "Vila Natal" ou Óbidos "Vila do Chocolate". A matéria-prima da promoção turística será apenas mais "chique"!
O Porto pode ser das camélias, do vinho ou dos livros. Não podemos é esquecer que mostrá-lo é partilhar a alma e nunca exibir um fato feito à medida.
* ANALISTA FINANCEIRA
Cristina Azevedo*
Hoje às 00:01
Jornal de Notícias
Mas, mais importante, Isabel Pires de Lima lembrou que esse movimento foi participado e assumido pelos protagonistas da cidade, desde os ricos burgueses às instituições políticas e culturais. Lembrou, por exemplo, que das muitas revistas literárias editadas, algumas houve, como por exemplo "O Bardo", que foi inteiramente patrocinada pelos comerciantes, afeitos ao gosto de "poetar".
Esta forma simples e sólida de "pegar" no tema perdeu-se, de certa forma, quando todos os outros protagonistas, já oficialmente associados a cidades e vilas literárias (de Edimburgo a Óbidos) não resistiram aos resultados eminentemente turísticos desta vocação.
E a reflexão tem obrigatoriamente que se deter neste ponto.
O que são e para que servem estas "vocações" certificadas?
Os responsáveis falam invariavelmente de dormidas, visitas, festivais, eventos e gastronomia. Se fechar os olhos posso achar que estão a falar do Circuito de Vila Real que ainda por estes dias apresentou resultados fantásticos em todas estas categorias.
Mas os livros são coisas sérias. Os livros, ou a literatura, como dizia Isabel Pires de Lima "tratam do conhecimento das singularidades; estimulam o conhecimento do outro; favorecem a inclusão".
São os livros e a vida dos livros o que mais importa. O Porto será uma cidade literária se aqui abrirem mais livrarias, se aqui se editarem mais livros, se aqui todos lermos mais, se aqui traduzirmos os outros ou fizermos traduzir o que é nosso. Se, de alguma forma, voltarmos ao espírito do Porto romântico e todos gostarmos e até pagarmos para "poetar".
Os turistas, os visitantes, os eventos e os festivais são bem-vindos mas sem esta opção radical e primeira de uma comunidade residente, académica, produtiva, pela literatura, não há, de facto diferença entre Óbidos "Vila Literária" e Óbidos "Vila Natal" ou Óbidos "Vila do Chocolate". A matéria-prima da promoção turística será apenas mais "chique"!
O Porto pode ser das camélias, do vinho ou dos livros. Não podemos é esquecer que mostrá-lo é partilhar a alma e nunca exibir um fato feito à medida.
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