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O ajustamento real… ou a realidade do ajustamento
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O ajustamento real… ou a realidade do ajustamento
Por não entenderem as diferenças, os decisores políticos de hoje escolhem opções punitivas, como o padrão-ouro.
A FRASE...
"Dados da ONU, constantes do Relatório do Observatório da Emigração publicado esta sexta-feira, indicam que 22% dos portugueses vivem no estrangeiro. Saídas de 110 mil pessoas todos os anos só têm comparação com a década de 1960."
Ana Dias Cordeiro, Jornal Público, 24 de fevereiro de 2017
A ANÁLISE...
Recordo as aulas de Política Monetária do Professor Daniel Bessa na Faculdade de Economia do Porto, nos anos 80 e a quem presto justa homenagem. De entre o que aprendi, ficou a história do sistema monetário internacional.
Ensinamentos muito úteis porque se a frase que escolhi para hoje me traz à memória alguma coisa, essa é justamente o "padrão-ouro" e os "câmbios fixos" instituídos em Bretton Woods. E, não, não são exatamente a mesma coisa! Por não entenderem as diferenças, os decisores políticos de hoje escolhem opções punitivas, como o padrão-ouro.
No padrão-ouro, os desequilíbrios existentes nas economias eram expiados por intermédio do conhecido ajustamento real. Uma economia aberta não competitiva reequilibrava as suas contas externas por via do mercado de trabalho e, concretamente, do aumento do desemprego e da descida dos salários. Eventualmente, a emigração poderia ajudar - como, de facto, ajudou muitas vezes na História. A ausência de qualquer instituição supranacional capaz de coordenar esforços de ajustamento, colocava o fardo da correção sobre os países deficitários, trazendo a austeridade de modo automático.
Quando, em Bretton Woods, longe de poder regressar ao padrão-ouro, o regime de câmbios fixos foi instituído, políticos sábios - devidamente assessorados por grandes economistas, de quem nem sempre retemos as melhores lições - tiveram o cuidado de instituir um sistema de resolução de crises, para distribuir a carga e amenizar o esforço do ajustamento real. As instituições idealizadas - FMI e BM - nem sempre foram capazes de lidar com os problemas à altura das ambições. Mas, também, é bom não esquecer que elas próprias foram o reflexo do compromisso internacional possível.
Hoje olhando para o euro, para estes dois momentos históricos do sistema monetário internacional, e para este episódio da emigração, apetece perguntar: do que é que estamos mais próximos? Que civilização estamos a construir?
P.S.: todos os erros e omissões deste artigo são da minha exclusiva responsabilidade e em circunstância alguma do Professor Daniel Bessa!
Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
maovisivel@gmail.com
Álvaro Nascimento
01 de março de 2017 às 20:56
Negócios
A FRASE...
"Dados da ONU, constantes do Relatório do Observatório da Emigração publicado esta sexta-feira, indicam que 22% dos portugueses vivem no estrangeiro. Saídas de 110 mil pessoas todos os anos só têm comparação com a década de 1960."
Ana Dias Cordeiro, Jornal Público, 24 de fevereiro de 2017
A ANÁLISE...
Recordo as aulas de Política Monetária do Professor Daniel Bessa na Faculdade de Economia do Porto, nos anos 80 e a quem presto justa homenagem. De entre o que aprendi, ficou a história do sistema monetário internacional.
Ensinamentos muito úteis porque se a frase que escolhi para hoje me traz à memória alguma coisa, essa é justamente o "padrão-ouro" e os "câmbios fixos" instituídos em Bretton Woods. E, não, não são exatamente a mesma coisa! Por não entenderem as diferenças, os decisores políticos de hoje escolhem opções punitivas, como o padrão-ouro.
No padrão-ouro, os desequilíbrios existentes nas economias eram expiados por intermédio do conhecido ajustamento real. Uma economia aberta não competitiva reequilibrava as suas contas externas por via do mercado de trabalho e, concretamente, do aumento do desemprego e da descida dos salários. Eventualmente, a emigração poderia ajudar - como, de facto, ajudou muitas vezes na História. A ausência de qualquer instituição supranacional capaz de coordenar esforços de ajustamento, colocava o fardo da correção sobre os países deficitários, trazendo a austeridade de modo automático.
Quando, em Bretton Woods, longe de poder regressar ao padrão-ouro, o regime de câmbios fixos foi instituído, políticos sábios - devidamente assessorados por grandes economistas, de quem nem sempre retemos as melhores lições - tiveram o cuidado de instituir um sistema de resolução de crises, para distribuir a carga e amenizar o esforço do ajustamento real. As instituições idealizadas - FMI e BM - nem sempre foram capazes de lidar com os problemas à altura das ambições. Mas, também, é bom não esquecer que elas próprias foram o reflexo do compromisso internacional possível.
Hoje olhando para o euro, para estes dois momentos históricos do sistema monetário internacional, e para este episódio da emigração, apetece perguntar: do que é que estamos mais próximos? Que civilização estamos a construir?
P.S.: todos os erros e omissões deste artigo são da minha exclusiva responsabilidade e em circunstância alguma do Professor Daniel Bessa!
Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
maovisivel@gmail.com
Álvaro Nascimento
01 de março de 2017 às 20:56
Negócios
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