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Mensagem por Admin Dom Nov 08, 2015 12:08 pm

1. O PCP guardou para o final a bênção ao acordo com PS e Bloco, atribuindo assim ao Comité Central um grau de importância que talvez não seja inteiramente verdadeiro, mas que projeta a ideia de que os comunistas são hoje a chave do governo que se vai seguir. Logo veremos a consistência deste animal de quatro patas traseiras e a capacidade que terá para caminhar normalmente. Sendo verdade que este governo das esquerdas nascerá com défice de legitimidade política pela forma como foi construído, também é verdade que as expectativas são tão baixas que qualquer vitória, isto é, o simples normal funcionamento do governo, permitirá a Costa amealhar alguns elogios reparadores. Afinal, não está assim tão mal, dir-se-á. Afinal, o céu não caiu em cima da cabeça dos empresários. Afinal, até os mercados começam a encontrar algum sentido no que antes era apenas visto como muito perigoso.

2. Para sermos honestos, tudo pode acontecer, e não é sequer a alta probabilidade de este executivo não aguentar a legislatura inteira - a ordem das coisas diz que, a certa altura, BE e PCP terão de roer a corda para não ser engolidos pelo PS nas legislativas seguintes -, que deve preocupar os eleitores. Os governos são eleitos e depois um dia caem e isso até pode ser bom. Por exemplo, foi bom Sócrates ter sido expelido em 2011. A corte de negócios que alimentou e a sua natureza beligerante - que o levou a viver em negação até ao resgate final - só podiam ter como desfecho eleições antecipadas.

3. Diabolizar ideologicamente este acordo entre PS, BE e PCP é, por isso, excessivo e, de certa forma, até ajudará António Costa nos primeiros tempos. A questão, portanto, é outra, não é abstrata, não vive no mundo da ciência política, é de ordem inteiramente prática, porque será no concreto que as forças se irão clarificar. A TAP, por exemplo. Passos Coelho não fechou a privatização (que maldade...) e António Costa já disse que a iria reverter. Além dos riscos jurídicos, além de não ser grande cartão-de-visita para um primeiro-ministro iniciar-se denunciando um contrato, são as implicações financeiras que nos devem preocupar.

4. A TAP está tecnicamente falida. Precisa de um aumento de capital urgente e de ser reestruturada. Quanto menos dinheiro houver, mais despedimentos terão de ser feitos. Se o Estado está, também ele, no limite da falência, de onde virá o dinheiro? Mais impostos? Será um privado a meter o capital necessário? Como, se até agora nenhuma companhia internacional se mostrou disponível para ficar com apenas 49% da empresa, como quer o PS? Ficar com 49% significa partilhar todos os riscos e não mandar nada, a não ser que se construa um parassocial que permita ao privado mandar sem que tenha efetivamente comprado esse direito. Parece bem, isto?

5. Nos transportes públicos urbanos acontece o mesmo. Os prejuízos foram travados nos últimos anos e deram uma ajuda importante na redução do défice público. Inverter este caminho significa cobrir perdas significativas, há margem para isso? Está o PCP preparado para deixar o governo agir sem descer logo à rua? Os setor dos transportes públicos é fundamental para o movimento sindical, até para a sua sobrevivência financeira, porque é nessas empresas que há mais pessoas a pagar quotas. O modelo de negócio da CGTP - logo também do PCP - precisa deste mercado para sobreviver. Se um governo privatiza uma empresa, esse poder começa logo a decrescer, é ver os casos dos CTT ou da ANA, e isso a CGTP não quer. Terá António Costa resposta para estas e outras contradições internas? É isso que vamos ver. A realidade vale mais do que o Comité Central do PCP.

Editorial
08 DE NOVEMBRO DE 2015
00:01
ANDRÉ MACEDO
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