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NATIVOS E ESTRANGEIROS - O teste de turista
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NATIVOS E ESTRANGEIROS - O teste de turista
O estrangeiro, observou um especialista, é como as salsichas: preferimos não saber de que é feito.
Nunca se deve comprar um guia turístico feito por naturais do país ou da cidade que nos interessa. Todos, nativos e turistas, temos interesses; mas os nativos estão sobretudo interessados em fazer propaganda de si próprios. Quando os turistas caem nas mãos dos nativos ficam iguais aos nativos, e passam imediatamente a fazer propaganda dos nativos. O melhor modo de detectar turistas é o Teste de Turista. Este teste foi inventado pelo matemático A. M. Turista (1912-1954), que provou que alguém que consegue passar por nativo só pode ser um turista; os nativos, por outro lado, são aqueles que não passam por nada.
A razão que geralmente é dada para preferir os guias dos nativos aos guias dos não-nativos é a de que os nativos conhecem melhor aquilo de que falam. Qualquer português, imagina-se, terá um conhecimento intuitivo do Museu de Arte Antiga e do Rio Vouga. Pelo facto de ser português conseguirá explicar sem dificuldade o que querem dizer os termos que melhor exprimem sua condição nativa, tais como: ‘Ai Mouraria!’ e ‘Legítimas expectativas.’
Mas não é essa a questão principal. A questão principal é que não existe uma razão geral para um turista querer saber o que os nativos dizem que sabem; e não existe nenhum motivo para um turista querer ser igual aos nativos que visita. Não há pois necessidade de passar por quem quer que seja; não é preciso correr riscos com o Teste de Turista. Há de facto coisas que qualquer turista prefere não saber sobre os países que visita. Se não fosse assim quem iria à Rússia, a Coimbra, e mesmo à Tailândia? O estrangeiro, observou um especialista, é como as salsichas: preferimos não saber de que é feito.
No mais longo guia turístico de Portugal, confeccionado no princípio do século passado por um sem-número de nativos a partir de um preparado à base de adjectivos, escreveram-se coisas como “nas alterosas penhas, habitadas pelo labor milenar de povos tisnados, em cujos nemorosos sopés se espraiam roborativos riachos”. Frases destas correm o risco de confundir os turistas; nunca se perceberá se são verdadeiras; poucos querem saber se uma determinada penha é alterosa; e ainda menos quererão passar por quem o saiba.
Pelo contrário, nos guias mais sóbrios, elaborados apenas a partir dos preconceitos piores de quem nos visita, podem ler-se frases como “carreiras de barco entre Sousel e Almeida; barcos tripulados por locais completamente embriagados; os naturais de Almeida chamam-se campinos e usam saias de palha (em Português: Habanicas); para jantar há o excelente restaurante The Lukewarm Gallon ($$. Especialidade: as filhoses de alcatrão); outros costumes locais: o Método de Hondt.” Frases como estas têm a vantagem de tornar a verdade imediatamente aparente, pelo menos ao turista que se disponha a apanhar o barco para a Beira Alta.
Miguel Tamen
10.57
OBSERVADOR
Nunca se deve comprar um guia turístico feito por naturais do país ou da cidade que nos interessa. Todos, nativos e turistas, temos interesses; mas os nativos estão sobretudo interessados em fazer propaganda de si próprios. Quando os turistas caem nas mãos dos nativos ficam iguais aos nativos, e passam imediatamente a fazer propaganda dos nativos. O melhor modo de detectar turistas é o Teste de Turista. Este teste foi inventado pelo matemático A. M. Turista (1912-1954), que provou que alguém que consegue passar por nativo só pode ser um turista; os nativos, por outro lado, são aqueles que não passam por nada.
A razão que geralmente é dada para preferir os guias dos nativos aos guias dos não-nativos é a de que os nativos conhecem melhor aquilo de que falam. Qualquer português, imagina-se, terá um conhecimento intuitivo do Museu de Arte Antiga e do Rio Vouga. Pelo facto de ser português conseguirá explicar sem dificuldade o que querem dizer os termos que melhor exprimem sua condição nativa, tais como: ‘Ai Mouraria!’ e ‘Legítimas expectativas.’
Mas não é essa a questão principal. A questão principal é que não existe uma razão geral para um turista querer saber o que os nativos dizem que sabem; e não existe nenhum motivo para um turista querer ser igual aos nativos que visita. Não há pois necessidade de passar por quem quer que seja; não é preciso correr riscos com o Teste de Turista. Há de facto coisas que qualquer turista prefere não saber sobre os países que visita. Se não fosse assim quem iria à Rússia, a Coimbra, e mesmo à Tailândia? O estrangeiro, observou um especialista, é como as salsichas: preferimos não saber de que é feito.
No mais longo guia turístico de Portugal, confeccionado no princípio do século passado por um sem-número de nativos a partir de um preparado à base de adjectivos, escreveram-se coisas como “nas alterosas penhas, habitadas pelo labor milenar de povos tisnados, em cujos nemorosos sopés se espraiam roborativos riachos”. Frases destas correm o risco de confundir os turistas; nunca se perceberá se são verdadeiras; poucos querem saber se uma determinada penha é alterosa; e ainda menos quererão passar por quem o saiba.
Pelo contrário, nos guias mais sóbrios, elaborados apenas a partir dos preconceitos piores de quem nos visita, podem ler-se frases como “carreiras de barco entre Sousel e Almeida; barcos tripulados por locais completamente embriagados; os naturais de Almeida chamam-se campinos e usam saias de palha (em Português: Habanicas); para jantar há o excelente restaurante The Lukewarm Gallon ($$. Especialidade: as filhoses de alcatrão); outros costumes locais: o Método de Hondt.” Frases como estas têm a vantagem de tornar a verdade imediatamente aparente, pelo menos ao turista que se disponha a apanhar o barco para a Beira Alta.
Miguel Tamen
10.57
OBSERVADOR
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