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Céu cinzento sob o astro mudo
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Céu cinzento sob o astro mudo
Um certo dia, passando revista às nossas tropas, milicianas e pouco disciplinadas, o general comentou: "Não sei se meterão medo ao inimigo, mas a mim fazem-me estremecer". O desabafo é atribuído ao duque de Wellington, um dos estrategos britânicos que comandaram a resistência portuguesa às invasões napoleónicas. Diante de uma ameaça, é dos clássicos que até por medo somos capazes de matar só para não morrer. E hoje, é caso para estremecermos? Estamos mesmo à beira de um novo conflito global?
A inquietação é tão mais premente quanto se sabe que desde o final da Guerra Fria que não se vendiam tantas armas no Mundo. A revelação consta de um relatório do Instituto Internacional de Investigação para a Paz, com sede na Suécia, um país tradicionalmente neutral, mas que, sete anos depois de ter acabado com o serviço militar obrigatório, volta agora a convocar os seus jovens para a tropa. Primeira incorporação já a partir de junho. E aos suecos juntam-se os noruegueses e finlandeses no desejo de aderirem à NATO, o que, a acontecer, alteraria profundamente a geopolítica dos últimos 70 anos. O pretexto destes três países, entre os mais progressistas da Europa, é a vizinhança russa e a sua histórica ambição imperial, no acesso e controlo do Báltico e agora também sobre os recursos do Ártico.
Inquieta-se meio Mundo quando Donald Trump anuncia o reforço do orçamento militar americano em 9%. Nada de diferente, afinal, do que estão a fazer os maiores falcões da outra metade, da Alemanha à China e ao Japão, onde o orçamento de defesa cresce há cinco anos consecutivos. Coisas da guerra: do Iraque ao Afeganistão, se há coisas que os americanos descobriram nos atoleiros em que se meteram nos últimos anos é que é mais fácil e muito mais barato conquistar militarmente um país do que, a seguir, tentar pacificá-lo, reconstruí-lo e governá-lo. Se alguma coisa aprendemos destas guerras e das suas 250 mil vítimas é a necessidade de evitá-las, algo que só a diplomacia (que não parece ser o forte de Trump) pode evitar. E como lhe recordaram há dias os seus generais, a ajuda ao desenvolvimento, cujo orçamento ele também quer cortar, é fundamental para garantir a segurança. É ignorância confundir valor e preço. E mais ainda confundir segurança e defesa. Historicamente, os aumentos massivos dos orçamentos militares foram sempre o prelúdio de um conflito. E das guerras do presente apenas podemos saber como começam. O Papa Francisco disse há dias, em entrevista, que a nova já começou: "Estamos na Terceira Guerra Mundial, aos bocadinhos". Deus nos livre!
* DIRETOR
Afonso Camões
05/03/2017 às 00:01
Jornal de Notícias
A inquietação é tão mais premente quanto se sabe que desde o final da Guerra Fria que não se vendiam tantas armas no Mundo. A revelação consta de um relatório do Instituto Internacional de Investigação para a Paz, com sede na Suécia, um país tradicionalmente neutral, mas que, sete anos depois de ter acabado com o serviço militar obrigatório, volta agora a convocar os seus jovens para a tropa. Primeira incorporação já a partir de junho. E aos suecos juntam-se os noruegueses e finlandeses no desejo de aderirem à NATO, o que, a acontecer, alteraria profundamente a geopolítica dos últimos 70 anos. O pretexto destes três países, entre os mais progressistas da Europa, é a vizinhança russa e a sua histórica ambição imperial, no acesso e controlo do Báltico e agora também sobre os recursos do Ártico.
Inquieta-se meio Mundo quando Donald Trump anuncia o reforço do orçamento militar americano em 9%. Nada de diferente, afinal, do que estão a fazer os maiores falcões da outra metade, da Alemanha à China e ao Japão, onde o orçamento de defesa cresce há cinco anos consecutivos. Coisas da guerra: do Iraque ao Afeganistão, se há coisas que os americanos descobriram nos atoleiros em que se meteram nos últimos anos é que é mais fácil e muito mais barato conquistar militarmente um país do que, a seguir, tentar pacificá-lo, reconstruí-lo e governá-lo. Se alguma coisa aprendemos destas guerras e das suas 250 mil vítimas é a necessidade de evitá-las, algo que só a diplomacia (que não parece ser o forte de Trump) pode evitar. E como lhe recordaram há dias os seus generais, a ajuda ao desenvolvimento, cujo orçamento ele também quer cortar, é fundamental para garantir a segurança. É ignorância confundir valor e preço. E mais ainda confundir segurança e defesa. Historicamente, os aumentos massivos dos orçamentos militares foram sempre o prelúdio de um conflito. E das guerras do presente apenas podemos saber como começam. O Papa Francisco disse há dias, em entrevista, que a nova já começou: "Estamos na Terceira Guerra Mundial, aos bocadinhos". Deus nos livre!
* DIRETOR
Afonso Camões
05/03/2017 às 00:01
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