Vários tons de cinzento

O comportamento coletivo dos portugueses face às interrogações do futuro começa a revelar posições sociais diferenciadas. Os constrangimentos do presente mantêm-se em força: no passado mês de junho volta a subir o crédito hipotecário malparado. Já o crédito ao consumo de cobrança ameaçada, reduziu-se. Simultaneamente, ao analisar os fluxos financeiros agregados, verificam-se dois movimentos aparentemente contraditórios: o volume da compra de habitação através da contração de crédito hipotecário atinge valores como não acontecia há meses e a taxa de poupança das famílias volta a crescer.

Como em tudo o que respeita aos grandes números, a tendência da sua evolução é sempre mais importante do que as diferenças diminutas à direita da vírgula. Quem compra casa para a família aposta num futuro positivo; quem abdica de uma parte do seu consumo corrente para reforçar as suas poupanças desconfia do que aí vem.

Provavelmente, o que estes reflexos dos comportamentos dos portugueses nos estão a dizer nem é branco nem preto - aponta para várias tonalidades de cinzento.

O alinhamento entre o nível do endividamento das famílias e a expectativa realista dos seus rendimentos - o que lhe conferiria uma situação de sustentabilidade a mais longo prazo - não está ainda alcançado. E as interrogações sobre a evolução dos rendimentos de funcionários públicos e reformados mantêm-se bem vivas. Tudo isto convida à prudência.

Já o desemprego - mesmo com todas as limitações, que se conhecem -, está a cair mais depressa do que se esperava, o que permitirá a umas centenas de milhares de cidadãos olhar o futuro em tom menos negro.

Mas ainda ninguém pode dar como certa a melhoria generalizada da situação social em Portugal.

Festa ou não no Pontal

Arentrée do PSD avizinha-se. E o discurso que o líder do PSD prepara para sexta-feira, no Algarve, deve andar como o tempo que tem feito neste agosto, tanto pode vir a ser radioso como pode ter nuvens a ofuscar a entrada no ano político que antecede as legislativas de 2015. Isto porque Pedro Passos Coelho só saberá na véspera qual a decisão do Tribunal Constitucional sobre os novos cortes nos ordenados dos funcionários públicos e a contribuição de sustentabilidade. Duas medidas determinantes para o Orçamento do Estado do próximo ano. Se desta feita os juízes do Palácio Ratton forem mais benevolentes e deixarem passar as duas medidas - que representam perto de mil milhões de euros -, Passos tem razões para fazer festa no Pontal. Se forem chumbadas, mesmo com muito contorcionismo, o também primeiro--ministro terá dificuldade em fugir a um discurso mais cinzento para oferecer ao povo laranja e ao País. Neste momento é com o TC que Passos está preocupado e é daí que lhe podem vir dores de cabeça a curto prazo, já que o PS continua entretido com os ataques e contra-ataques entre Seguro e Costa. Pelo menos até 28 de setembro.

13/08/2014
DN