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Por dentro dos dias – Barreiro: Entre o deprimido e o encanto opto por acreditar
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Por dentro dos dias – Barreiro: Entre o deprimido e o encanto opto por acreditar
Hoje, ao fim da tarde, ao olhar o céu e mergulhar os meus olhos no luar, pensei, é isso – “os dados estão lançados” – nos próximos tempos, vai ser assim, um tempo, sem dúvida bipolar, impróprio para os velhos, como eu, que gosta de sonhar e sorrir.
Hoje, ao fim da tarde, olhei o céu azul, no Barreiro (acho que me é permitido dizer que, aqui, também, o céu é azul) e vi, lá longe, o luar – lua cheia – a brilhar e pensei, afinal, felizmente, aqui no Barreiro também há luar.
Uma gaivota rasgou o espaço. Não sei se estava feliz, ou deprimida. Era uma gaivota que dava uma pincelada, de movimento, no céu azul, e imaginei que ela gritava para mim: Voa, voa, voa…mas eu não consegui voar, preso em palavras que se acorrentam aos nervos.
Cada vez tenho mais consciência que é preciso olhar os dias com dois olhares – de indignação, sempre que nos sentimos incomodados, e, também, de contemplação, sempre que nos sentimos apaixonados.
Viver só indignado, atormenta. Viver só contemplando, ilude.
Nós vivemos num território e o território onde vivemos cola-se aos nossos sentimentos. É, talvez, por essa razão, porque vivo aqui, há muitos anos, e, ao longo destes anos, sempre, mas sempre, contestei ideias feitas e estigmas que lançam sobre este território, divido-me entre a indignação e contemplação.
Recordo, quando falavam de poluição que eu contestava, pois sentia ser uma evidência num território industrializado, mas, recordava que antes do 25 de Abril, para alguns a poluição era fascista e capitalista, depois da revolução a poluição tornou-se democrática e, recordo, que se tornou mais, muito mais, democrática, quando foi nacionalizada. Coisas que registamos. Contradições.
Eu vivi a poluição, por dentro das narinas, nos nervos da fábrica. Operário. E isso fez-me sentir a fábrica, o pulsar do Barreiro, que produzia, que era terra de gente que fazia todos os dias cidadania. Respirando com os nervos.
Talvez, por essa razão, no meio de tudo isto eu olhava para as chaminés fumegantes e via nelas uma beleza única, imaginado aqueles rastos fumegantes, como um véu de uma noiva, vestida de branco e vermelho a rasgar o céu azul, deslizando no horizonte ao nascer e ao pôr-do-sol, que é lindo no Barreiro e agora chamam-lhe «sunset».
No Barreiro sempre houve um céu azul e cores lindas a rasgar o horizonte.
Eu, escrevia deliciado poemas e, até em textos, para um catálogo de uma exposição - «As Noivas» - do Kira, que imaginava as chaminés como noivas e os véus brancos estendendo-se no fumegar. Afinal, nós encontramos beleza, sempre, quando amamos.
O mais certo é que estou velho. Pronto. Sou eu que não acompanhei o ritmo do tempo, as evoluções tecnológicas, os novos conceitos de criatividade. A minha percepção do Barreiro, não é, nunca foi, aquela que, permanentemente, me querem impor os que olham do lado de lá, para cá, nem sequer daqueles que cá vivendo, acham, que esta terra não existe e nela não há vida. Ponto final.
Nunca quis alinhar nesse discurso cosmopolita que olha o Barreiro de forma distante e arrasadora. Pode ser chic, até dar um ar de superioridade, mas desculpem – eu gosto de viver aqui, nesta terra dos meus filhos e onde a minha vida está inscrita. Acredito.
Hoje, ao fim da tarde, ao olhar o céu e mergulhar os meus olhos no luar, pensei, é isso – “os dados estão lançados” – nos próximos tempos, vai ser assim, um tempo, sem dúvida bipolar, impróprio para os velhos, como eu, que gosta de sonhar e sorrir.
Por um lado, vão estar os que vivem da percepção que o Barreiro é uma cidade deprimida, sem vida, sem sonhos, sem projectos, sem criatividade ( de vez em quando lá há, até há, um concerto da Camerata Municipal do Barreiro, coisa boa, ou outra coisa qualquer). Esses apostam num discurso de valorização da decadência, da tristeza, de amargura, porque este discurso pressupõe a emergência de necessidade de afirmar outra coisa, e, de facto, só se sente necessidade de afirmar o que não existe. Por isso, esta tem que ser uma terra onde não dá gosto viver, uma terra sem projectos.
Um discurso que nasce no negativo só pode gerar conceitos negativos, interpretações negativas, de forma que possa, depois, afirmar, e, esse afirmar, no final, possa ser traduzido em desejo positivo.
Quem estiver com opinião contrária está ao serviço das forças do mal, aquelas que destruíram o Barreiro. Os que não sabem afirmar o Barreiro.
Os que querem dar uma imagem positiva do Barreiro, se dizem que gostam de viver aqui, é porque têm algum interesse e são de certeza uns agentes tenebrosos ao serviço de qualquer coisa ideológica que quer manter esta terra em ruínas e só desejam o seu mal.
São pessoas que não sentem o encanto da vida.
Felizmente, a realidade não é a politica. A vida real é a vida real.
Este sentimento que o Barreiro é uma terra «feia e deprimida» é expresso, de facto, por pessoas, de diferentes cores politicas, religiosas ou sem cores politicas ou religiosas, faz parte de clichés, estigmas, voz populi, que, muitas vezes é estimulado por razões politicas e ideológicas.
Também o sentimento que «gosto de viver aqui, gosto do Barreiro», é expresso por muitas pessoas, de diferentes cores politicas, religiosas, ou sem cores politicas e religiosas, e, infelizmente, por vezes, acaba por ser usado, como plataforma de acção politica em confrontos desnecessários.
Mas, digo-vos, estas pessoas, de diferentes partidos e correntes de pensamento, acredito são mesmo a maioria de barreirenses. São muitos os que gostam de viver aqui e repudiam, cada vez mais, os rótulos que teimam em colocar ao Barreiro.
E, mesmo aqueles que por razões – circunstanciais – afirmam o contrário, acabam por reconhecer que no Barreiro há vida, há sonhos, há gente que trabalha e acredita no Barreiro. Apenas recusam por tácticas e estratégias.
É por isso, só por isso, que acho, cá dentro de mim, que vivo aqui e quero continuar a viver aqui, mais que afirmar o Barreiro, eu quero ACREDITAR NO BARREIRO e nas suas gentes que aqui vivem, lutam e metem as depressões debaixo do braço, trabalhando e sorrindo todos os dias e dando energia aos que estão deprimidos – VIVENDO!
Entre a depressão e encanto, que querem colocar como duas formas de olhar para este território, eu prefiro uma única via – Acreditar!
S.P.
11.03.2017 - 19:54
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