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Mensagem por Admin Qui Mar 30, 2017 11:21 am

Na política portuguesa, desde a crise da dívida que levou à intervenção da troika, a direita e a esquerda têm-se distinguido pela contradição: não havia alternativa! havia alternativa! Para a direita não havia alternativa à austeridade imposta pelos credores e apoiada ideologicamente pelos partidos que governaram até às eleições de outubro de 2015. Para a esquerda havia alternativa e a prova está nos resultados do histórico défice público de 2016 e do crescimento económico com que terminou o ano.

Duma forma simplista, pensa-se que há um fosso entre as duas alternativas que correspondem a visões ideológico-políticas muito diferentes. A esquerda acusa o governo anterior de ortodoxia neoliberal e a direita acusa a esquerda de uma deriva despesista que inevitavelmente chocará com a realidade no mercado globalizado.

Mas uma análise mais fina leva-nos a concluir que as alternativas têm, afinal, uma proximidade maior do que os seus protagonistas afirmam.

Nem a direita aplicou uma política liberal, afinal não introduziu reformas de fundo que reduzissem o peso do Estado e a respetiva despesa e aumentou a carga fiscal, numa receita muito pouco liberal.

Nem o atual governo pôs em causa, até agora, os princípios e os compromissos que decorrem da nossa pertença à União Económica e Monetária; pelo contrário, tem-se esforçado, com algum sucesso, por obter a compreensão dos nossos parceiros europeus.

Para além dos projetos políticos, o que distingue o governo PSD/CDS do governo PS com apoio dos partidos à esquerda são o discurso e as atitudes.

O governo anterior assumiu um discurso moralista, semelhante ao subjacente à afirmação do Sr. Jeroen Dijsselbloem sobre o nosso laxismo e a culpa, que deveríamos expiar, pela "bebedeira" em que vivemos no tempo das vacas gordas. Imbuído desse sentimento, carregou na austeridade como pena pelas faltas cometidas.

Afinal, tenta demonstrar o atual governo, é preferível aliviar o garrote sobre os que mais sofreram, ter um discurso otimista, e o país recupera.

Até agora os partidos à sua esquerda têm contemporizado com o centrismo do governo PS.

Mas há quem pense à esquerda que os partidos sociais-democratas devem entrar numa via verdadeiramente alternativa à política que se impôs por todo o lado com a globalização, sob pena de desaparecerem do mapa, como sucedeu com o Pasok na Grécia, e agora com o Partido Trabalhista na Holanda. São os que detestam a terceira via de Tony Blair e Gerhard Schröder e esquecem os seus sucessos e de outros políticos de esquerda moderados, como Felipe González, Bill Clinton, para citar apenas os mais relevantes.

Nos maiores países europeus as derivas esquerdizantes dos partidos sociais-democratas têm tido resultados desastrosos, no Reino Unido com Jeremy Corbyn, em Espanha com Pedro Sánchez, em França com o candidato do PS Benoît Hamon, enquanto os moderados Emanuel Macron (em França) e Martin Schulz (Alemanha) podem ganhar e mudar o panorama político na Europa.

As alternativas que hoje se colocam perante a realidade que nos rodeia e se impôs em todo o mundo desenvolvido não são mais as ideologias do passado, esquerda-direita.

Hoje a fronteira, no Ocidente, é a que divide os que defendem um Estado forte e autoritário, o regresso às fronteiras de controlo das pessoas e do comércio, o fim da globalização, e os que lutam pelo Estado de direito, a não discriminação de qualquer espécie, a saudável convivência de crenças religiosas, culturas e modos de vida. Os partidos que têm governado Portugal podem ter muitos defeitos, mas nenhum se revê nos seus congéneres liderados por Marine Le Pen, Nigel Farage, Geert Rutte, nem no estilo e na prática de Trump, Putin ou Erdogan.

Afinal as alternativas, entre nós, não assustam.

Assim o PS resista aos demónios que o atormentam. E PSD e CDS encontrem um novo caminho para a prosperidade e a justiça social, com crescimento baseado na livre iniciativa privada e com menos Estado.

30 DE MARÇO DE 2017
00:04
Daniel Proença de Carvalho
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