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Mensagem por Admin Qua Out 01, 2014 11:21 pm

Na vida política existe um certo tropismo para confundir a eficácia da mensagem com a radicalização do discurso e a simplificação na formulação de propostas concretas.


Se a austeridade excessiva e, por isso mesmo, destruidora merece ser criticada, então o que se apresenta mais popular para certos meios é a rejeição radical de tudo o que cheire a políticas de convergência nominal, a rigor orçamental, a ‘troika' e o Pacto Orçamental.

Trata-se de um discurso a preto e branco, considerando-se todos aqueles que pretendam conciliar políticas de crescimento com rigor orçamental conciliadores com políticas neo-liberais, incapazes de se distinguirem, verdadeiramente, da direita conservadora. Para mais, o discurso radicalizante tem a pretensa vantagem da simplificação analítica, facilitando a assimilação de mensagens orientadas para a mudança por grande parte do eleitorado potencial. Mas, o mérito do político responsável está em procurar formular propostas realistas, explicando, por exemplo, quais as medidas de incentivo fiscal ao investimento conciliáveis com um reduzido impacto fiscal nas receitas orçamentais e tidas como aceitáveis no actual quadro comunitário.

É, por exemplo, explicar como é possível reciclar, a prazo de um ou dois anos, a dívida pública, por forma a obter-se uma redução da ordem dos 1500 milhões de euros ao nível dos encargos financeiros.

É, ainda, explicar como é possível repor as pensões de reforma nos níveis anteriores a 2012 sem pôr em causa os objectivos de redução do défice orçamental, a médio e longo prazos.
Infelizmente, este tipo de discurso é confundido por muitos com tibieza em relação à direita e com ausência de uma alternativa clara ao neo-liberalismo. A vida política das nações tem vindo a mostrar que quando os partidos socialistas democráticos guinam à esquerda tendem, inexoravelmente, para o insucesso governativo.

Não me lembro de um único líder trabalhista da ala esquerda do partido que tivesse governado muito tempo em Inglaterra.

Mas, lembro-me de Blair, que governou dez anos, em " situação de participação em guerra " e com o apoio largamente maioritário do eleitorado britânico. Não me lembro de um único líder da ala esquerda do SPD alemão que tivesse governado muito tempo na Alemanha. Mas, lembro-me de Helmut Schmidt. Como me lembro de Filipe Gonzalez.

O próprio Mitterrand teve que substituir o seu primeiro-ministro por Laurent Fabius ( considerado, como é sabido, na altura, um social-democrata) ao fim de pouco tempo e precisou sempre do apoio de políticos moderados como Gaston Defferre. Seria, pois, importante que os políticos, ao agir no presente, pensassem no futuro.

Como diria Fernando Pessoa, " não tendo uma ideia do futuro também não temos uma ideia de hoje, porque o hoje, para o homem de acção, não é senão o prólogo do futuro".

Nem mais, nem menos...

António Rebelo de Sousa
00.06 h
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