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O país do faz de conta
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O país do faz de conta
Por trás da imagem bonita que está reflectida, por um espelho mediático e parlamentar simpático, há outra imagem a resgatar.
Lamentavelmente, em Portugal, e não raras vezes, há uma suspensão da consciência colectiva, quanto a certos assuntos sérios, sobretudo se tocarem em sectores e interesses controversos. Opta-se pelo recurso à intriga e ao boato. O diz que disse e a polémica. Sempre acessória. Os problemas vistos de frente? Isso fica para um qualquer prós e contras, onde os factos e a informação completa ficam suspensos em parte incerta. Cá no burgo o melhor mesmo é a navegação à vista seguindo a linha eixo do mal. Todos sabemos que existe uma longa tradição de crítica e pessimismo, basta lembrar o Velho do Restelo de Luís Vaz de Camões, assim dizer mal é das melhores artes lusitanas. É assim a vida.
A lista dos assuntos sérios tratados com ligeireza, ou deixados em segundo plano, é extensa. Bem extensa. Deixo de memória, com muitas honrosas ausências, alguns dos faz de conta mais recentes. Só para reavivar memórias.
Fizemos de conta que a nossa Banca era sólida as a rock, mas afinal todos os banqueiros nacionais tinham telhados de vidro e balanços pouco firmes.
Fazemos de conta que quem governa venceu as eleições, mas afinal o programa sufragado não venceu e vivemos numa coligação atípica e histórica, veremos mais adiante se por bons motivos.
Fazemos de conta que a Catarina Martins e a Marine Le Pen não têm nada em comum quando ambas anunciam a saída do Euro, rapidamente e em força, e que só em França existe populismo.
Varremos para baixo do tapete que os Partidos da maioria parlamentar malham no Tratado de Roma, enquanto o Primeiro-Ministro, representando Portugal, e bem, enaltece o Tratado fundador.
Fazemos de conta que nem notamos que um antigo Presidente, numa biografia não desautorizada, deixe que se apresentem argumentos de forma assaz displicente: fartou-se de um Primeiro-Ministro e por isso vá de dissolver o Parlamento, e ainda concorda, pois, até ao momento, não se ouviu qualquer nota ou apontamento seu em contrário, com um livro onde coloca na boca dos assessores as críticas que, alguns interpretariam, como não tendo a coragem de assumir de viva voz.
Fazemos de conta que não vivemos recentemente uma pré-bancarrota (se calhar porque o Dr. Sampaio se fartou) e continuamos alegremente a cantar loas aos défices mais baixos da Democracia. O défice mirífico que, talvez como certos rapazes fracotes que viram, do dia para a noite, fortes e musculados, na verdade tem, debaixo do aparente “caparro”, muitas bombadas…
Fazemos de conta que o défice de 2,1% foi o mais baixo, do Portugal democrático, quando Miguel Cadilhe, raio da memória, nos vem relembrar o do ano de 1989.
Fazemos de conta que podemos viver sem os SMS da trapalhada da Caixa, quando metade do país político já os leu e nada se passou.
Agora, no tempo novo, já não há manifestações na rua perante despedimentos, pois existem despedimentos com e sem mútuo acordo, e fechos de balcões da Caixa.
Fazemos de conta que não é um Governo apoiado pela Esquerda que vende o Novo Banco a um Fundo de Investimento Privado e que tem em mente… mais despedimentos.
Fazemos de conta que uma antiga Ministra possa dizer que assina de cruz documentos, que lhe são apresentados em Conselho de Ministros, bastando um e-mail.
Fazemos de conta que aquilo dos offshores não deve ser nada de especial e logo se passa à frente.
Fazemos de conta que a reportagem “Assalto ao Castelo” foi apenas uma novela de boa qualidade, transmitida em horário nobre, da SIC.
Fazemos de conta que agora sim Belém está bem, pois tem selfies e transborda afecto.
Fazemos de conta que num país democrático uns podem falar (à esquerda) e outros, como Jaime Nogueira Pinto, tem mais é que estar caladinhos e respeitar a “democracia” de certas Associações de Estudantes.
Fazemos de conta que os moralistas não querem lugares, mas um lugar no Conselho Consultivo do Banco de Portugal ou na Administração do CCB não se leva a mal.
Fazemos de conta que podemos colocar Ministros a pedirem a demissão do Presidente do Eurogrupo por uma linguagem imprópria, logo certos e conhecidamente coloquiais Ministros.
Fazemos de conta que vivemos um clima de euforia económica, mas o crescimento, esse está longe de ser pujante. Pujança que seria sempre oportuna dado o tamanho do elefante na sala, a dívida, que, grupos de trabalho à parte, é para se ir pagando e a horas. Caso contrário os PIMCO e BlackRock desta vida falarão mais grosso do que outros lesados.
E neste faz de conta, brincamos aos aeroportos havendo responsabilidade críticas e vitais da soberania nacional, como a Busca e Salvamento, que terão se acomodar aos acordos com a monopolista dos aeroportos.
Como diz Alberto João Jardim, era bom que os portugueses fossem como o Cristiano Ronaldo: focados, ambiciosos e determinados. Aliás, Cristiano Ronaldo deu uma lição a certo país do faz de conta no seu discurso, quando confrontou quem discorda do nome do novo aeroporto da Madeira: “Tudo bem, somos livres, vivemos numa democracia e todos temos direito a ter uma opinião. Prefiro sempre quem assuma as suas posições de viva voz às que se escondem atrás de quem fale por eles".
Uma expressão que resume bem este país do faz de conta, embalado pelo nacional porreirismo e pela facilidade com que o que hoje é verdade, amanhã poderá ser mentira. Pós-verdade do Trump? O Trump é um menino comparado com certos artistas locais.
DIOGO AGOSTINHO
03.04.2017 às 7h00
Expresso
Lamentavelmente, em Portugal, e não raras vezes, há uma suspensão da consciência colectiva, quanto a certos assuntos sérios, sobretudo se tocarem em sectores e interesses controversos. Opta-se pelo recurso à intriga e ao boato. O diz que disse e a polémica. Sempre acessória. Os problemas vistos de frente? Isso fica para um qualquer prós e contras, onde os factos e a informação completa ficam suspensos em parte incerta. Cá no burgo o melhor mesmo é a navegação à vista seguindo a linha eixo do mal. Todos sabemos que existe uma longa tradição de crítica e pessimismo, basta lembrar o Velho do Restelo de Luís Vaz de Camões, assim dizer mal é das melhores artes lusitanas. É assim a vida.
A lista dos assuntos sérios tratados com ligeireza, ou deixados em segundo plano, é extensa. Bem extensa. Deixo de memória, com muitas honrosas ausências, alguns dos faz de conta mais recentes. Só para reavivar memórias.
Fizemos de conta que a nossa Banca era sólida as a rock, mas afinal todos os banqueiros nacionais tinham telhados de vidro e balanços pouco firmes.
Fazemos de conta que quem governa venceu as eleições, mas afinal o programa sufragado não venceu e vivemos numa coligação atípica e histórica, veremos mais adiante se por bons motivos.
Fazemos de conta que a Catarina Martins e a Marine Le Pen não têm nada em comum quando ambas anunciam a saída do Euro, rapidamente e em força, e que só em França existe populismo.
Varremos para baixo do tapete que os Partidos da maioria parlamentar malham no Tratado de Roma, enquanto o Primeiro-Ministro, representando Portugal, e bem, enaltece o Tratado fundador.
Fazemos de conta que nem notamos que um antigo Presidente, numa biografia não desautorizada, deixe que se apresentem argumentos de forma assaz displicente: fartou-se de um Primeiro-Ministro e por isso vá de dissolver o Parlamento, e ainda concorda, pois, até ao momento, não se ouviu qualquer nota ou apontamento seu em contrário, com um livro onde coloca na boca dos assessores as críticas que, alguns interpretariam, como não tendo a coragem de assumir de viva voz.
Fazemos de conta que não vivemos recentemente uma pré-bancarrota (se calhar porque o Dr. Sampaio se fartou) e continuamos alegremente a cantar loas aos défices mais baixos da Democracia. O défice mirífico que, talvez como certos rapazes fracotes que viram, do dia para a noite, fortes e musculados, na verdade tem, debaixo do aparente “caparro”, muitas bombadas…
Fazemos de conta que o défice de 2,1% foi o mais baixo, do Portugal democrático, quando Miguel Cadilhe, raio da memória, nos vem relembrar o do ano de 1989.
Fazemos de conta que podemos viver sem os SMS da trapalhada da Caixa, quando metade do país político já os leu e nada se passou.
Agora, no tempo novo, já não há manifestações na rua perante despedimentos, pois existem despedimentos com e sem mútuo acordo, e fechos de balcões da Caixa.
Fazemos de conta que não é um Governo apoiado pela Esquerda que vende o Novo Banco a um Fundo de Investimento Privado e que tem em mente… mais despedimentos.
Fazemos de conta que uma antiga Ministra possa dizer que assina de cruz documentos, que lhe são apresentados em Conselho de Ministros, bastando um e-mail.
Fazemos de conta que aquilo dos offshores não deve ser nada de especial e logo se passa à frente.
Fazemos de conta que a reportagem “Assalto ao Castelo” foi apenas uma novela de boa qualidade, transmitida em horário nobre, da SIC.
Fazemos de conta que agora sim Belém está bem, pois tem selfies e transborda afecto.
Fazemos de conta que num país democrático uns podem falar (à esquerda) e outros, como Jaime Nogueira Pinto, tem mais é que estar caladinhos e respeitar a “democracia” de certas Associações de Estudantes.
Fazemos de conta que os moralistas não querem lugares, mas um lugar no Conselho Consultivo do Banco de Portugal ou na Administração do CCB não se leva a mal.
Fazemos de conta que podemos colocar Ministros a pedirem a demissão do Presidente do Eurogrupo por uma linguagem imprópria, logo certos e conhecidamente coloquiais Ministros.
Fazemos de conta que vivemos um clima de euforia económica, mas o crescimento, esse está longe de ser pujante. Pujança que seria sempre oportuna dado o tamanho do elefante na sala, a dívida, que, grupos de trabalho à parte, é para se ir pagando e a horas. Caso contrário os PIMCO e BlackRock desta vida falarão mais grosso do que outros lesados.
E neste faz de conta, brincamos aos aeroportos havendo responsabilidade críticas e vitais da soberania nacional, como a Busca e Salvamento, que terão se acomodar aos acordos com a monopolista dos aeroportos.
Como diz Alberto João Jardim, era bom que os portugueses fossem como o Cristiano Ronaldo: focados, ambiciosos e determinados. Aliás, Cristiano Ronaldo deu uma lição a certo país do faz de conta no seu discurso, quando confrontou quem discorda do nome do novo aeroporto da Madeira: “Tudo bem, somos livres, vivemos numa democracia e todos temos direito a ter uma opinião. Prefiro sempre quem assuma as suas posições de viva voz às que se escondem atrás de quem fale por eles".
Uma expressão que resume bem este país do faz de conta, embalado pelo nacional porreirismo e pela facilidade com que o que hoje é verdade, amanhã poderá ser mentira. Pós-verdade do Trump? O Trump é um menino comparado com certos artistas locais.
DIOGO AGOSTINHO
03.04.2017 às 7h00
Expresso
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