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Que venha a conta
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Que venha a conta
Não deixa de me espantar o nível de indignação nacional contra os salários da nova administração da Caixa Geral de Depósitos. Num país onde uma em cada cinco pessoas vive na pobreza - estamos a falar de dois milhões de portugueses -, não me lembro de assistir a tamanho sobressalto cívico em protesto contra baixos salários ou pensões, ou de um qualquer protesto mais inflamado a propósito de casos de exclusão social.
Seja devido ao estado de anomia em que a nossa comunidade mergulhou desde o resgate de 2011 seja porque ainda sobram marcas genéticas do período entre 1933 e 1974 - em que havia uma quase glorificação da pobreza -, o facto é que não nos sobra, enquanto comunidade, um pingo de indignação para esse tema. Com grande alívio de consciência, este é um daqueles assuntos que entregamos alegremente a quem nos representa. Que sejam "eles", os políticos - que também "ganham fortunas", claro -, a identificar, a lamentar e a resolver a pobreza.
Nós, que andamos aqui pela classe média ou mais abaixo, não temos tempo nem paciência para isso. Gastamos todas as munições num ancestral preconceito de classe contra "os ricos e poderosos". Enquanto cidadãos, enquanto sociedade civil ainda frágil e pouco organizada, convivemos relativamente bem com a pobreza. É olhar para o lado e seguir caminho. Mas depois, quando tropeçamos numa notícia de um salário que não encaixa no que consideramos aceitável, nem paramos para pensar. Foge-nos o pé para a indignação e temos sempre uns minutos para mais uma posta inflamada no Facebook, ou para uma meia dúzia de palavrões exaltados, à mesa do café, contra "aqueles tipos" que foram para a CGD ganhar salários "milionários".
Voltando a quem nos representa, a quem escolhemos livremente para nos representar. Pagamos a um deputado em regime de exclusividade, limpo de impostos, qualquer coisa como 2500 euros/mês. O primeiro-ministro leva para casa, líquido, perto de 3700 euros. Sem chegar à banca, em que os níveis de responsabilidade andam de mão dada com lucros ou prejuízos na casa das dezenas ou centenas de milhões, apontem-me uma PME que seja liderada por alguém com este nível de remuneração. E, falando agora de banca, quem é que conseguiríamos contratar para a CGD por 3700 euros limpos por mês? Queremos ter o banco público entregue a um gestor que aceite esse nível de compensação? Pois, bem me parecia que não, mas a indignação sai-nos sempre fácil, cega e afiada.
Limpo de impostos, o novo presidente da Caixa vai levar para casa cerca de 12 mil euros por mês. Se este é o preço a pagar para ter uma administração profissional e competente na CGD e um banco público livre de comissários políticos, que venha a conta.
21 DE OUTUBRO DE 2016
00:01
Paulo Tavares
Diário de Notícias
Seja devido ao estado de anomia em que a nossa comunidade mergulhou desde o resgate de 2011 seja porque ainda sobram marcas genéticas do período entre 1933 e 1974 - em que havia uma quase glorificação da pobreza -, o facto é que não nos sobra, enquanto comunidade, um pingo de indignação para esse tema. Com grande alívio de consciência, este é um daqueles assuntos que entregamos alegremente a quem nos representa. Que sejam "eles", os políticos - que também "ganham fortunas", claro -, a identificar, a lamentar e a resolver a pobreza.
Nós, que andamos aqui pela classe média ou mais abaixo, não temos tempo nem paciência para isso. Gastamos todas as munições num ancestral preconceito de classe contra "os ricos e poderosos". Enquanto cidadãos, enquanto sociedade civil ainda frágil e pouco organizada, convivemos relativamente bem com a pobreza. É olhar para o lado e seguir caminho. Mas depois, quando tropeçamos numa notícia de um salário que não encaixa no que consideramos aceitável, nem paramos para pensar. Foge-nos o pé para a indignação e temos sempre uns minutos para mais uma posta inflamada no Facebook, ou para uma meia dúzia de palavrões exaltados, à mesa do café, contra "aqueles tipos" que foram para a CGD ganhar salários "milionários".
Voltando a quem nos representa, a quem escolhemos livremente para nos representar. Pagamos a um deputado em regime de exclusividade, limpo de impostos, qualquer coisa como 2500 euros/mês. O primeiro-ministro leva para casa, líquido, perto de 3700 euros. Sem chegar à banca, em que os níveis de responsabilidade andam de mão dada com lucros ou prejuízos na casa das dezenas ou centenas de milhões, apontem-me uma PME que seja liderada por alguém com este nível de remuneração. E, falando agora de banca, quem é que conseguiríamos contratar para a CGD por 3700 euros limpos por mês? Queremos ter o banco público entregue a um gestor que aceite esse nível de compensação? Pois, bem me parecia que não, mas a indignação sai-nos sempre fácil, cega e afiada.
Limpo de impostos, o novo presidente da Caixa vai levar para casa cerca de 12 mil euros por mês. Se este é o preço a pagar para ter uma administração profissional e competente na CGD e um banco público livre de comissários políticos, que venha a conta.
21 DE OUTUBRO DE 2016
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Paulo Tavares
Diário de Notícias
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