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"Vender" Portugal lá fora
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"Vender" Portugal lá fora
Investimento: há um grande desconhecimento dos investidores estrangeiros em relação à realidade e fatores de atração de Portugal, alertam os especialistas.
A multinacional alemã Siemens é um investidor centenário em Portugal onde está desde 1905 / Siemens
Siemens, Autoeuropa e Continental Mabor. Nomes que são sinónimo de investimento alemão estruturante, estável e de elevado valor em Portugal. Exemplos que o país necessita de replicar. Contudo, tem estado fora do radar de investimento externo das empresas germânicas, conclui um estudo da consultora Roland Berger, realizado em 2013 para a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã.
Qual o problema? Apenas 8% das empresas germânicas consideram Portugal atrativo como localização de investimento, conclui o estudo da Roland Berger. Apesar da crise económica, cerca de metade das empresas que já têm negócios no país pensava manter o seu nível de investimento e mais de 30% consideravam mesmo aumentá-lo em 2014-2015. Uma dicotomia que não se restringe às firmas alemãs. Segundo o "Portuguese Atractiveness Survey", da consultora EY (antiga Ernst & Young), em 2013, apenas 22% dos 200 líderes empresariais ouvidos planeavam estabelecer ou expandir operações em Portugal no horizonte de um ano. Mas, quando foram questionadas apenas as empresas já com operações no país (metade da amostra), 95% indicaram pretender manter a sua atividade num horizonte de 10 anos. Um valor muito acima da média da europeia (84%).
Quem está no país valoriza mais
"A perceção sobre a atratividade de Portugal é significativamente melhor por parte de quem já tem atividades no nosso país", conclui a EY. Até porque "há um grande desconhecimento de muitos investidores estrangeiros que ainda não estão cá, sobre a realidade portuguesa", alerta António Vitorino, sócio fundador da sociedade de advogados Macedo Vitorino & Associados. Uma constatação que levou a sociedade a elaborar o estudo "The case for investing in Portugal", apresentando factos concretos a partir da análise de relatórios internacionais. "Em muitos indicadores estamos melhor do que a média europeia e do que concorrentes diretos pela captação de investimento, como Espanha ou os países da Europa de Leste", salienta António Vitorino, frisando que "temos de ir para o exterior vender Portugal". Para Luís Florindo, diretor da EY, a AICEC "tem de continuar a apostar nos contactos diretos com potenciais investidores" e as missões de governantes ao exterior "devem privilegiar os contactos com empresários". E "os empresários não podem esperar por iniciativas públicas. A atração de investimento tem de passar por eles, numa lógica de atração de capital para as próprias empresas", defende António Vitorino.
Semelhanças de língua e cultura com economias emergentes, diversidade e qualidade da mão de obra, estabilidade do ambiente de negócios e capacidade de investigação e de inovação foram os fatores de atratividade lusa mais apontados pelos líderes empresariais inquiridos pela EY. Jaime Esteves, sócio da consultora PwC, aponta outros pontos fortes: "Excelentes infraestruturas, uma mão de obra flexível e com muitas competências e oferecemos tudo isso a um custo muito acessível". Características que apontam para oportunidades na captação de projetos de serviços qualificados e de investigação & desenvolvimento, já que "os salários médios dos trabalhadores qualificados são inferiores à média europeia", nota o estudo da EY.
Salários não são problema
Portugal deve continuar a desenvolver a educação e as qualificações, aconselham os líderes empresariais ouvidos pela EY sobre como pode o país melhorar a sua atratividade. E tem de reduzir carga fiscal. A reforma do IRC pode dar, aqui, resposta. Mas, "é preciso mostrar resultados rapidamente", alerta Luís Florindo. Apoiar as indústrias de alta tecnologia e a inovação, aumentar os incentivos para o investimento direto estrangeiro e facilitar o acesso ao crédito são os outros pontos mais referidos. Já a redução dos custos com a mão de obra, que esteve no centro das preocupações da troika, é "um não tema para os investidores, que consideram que está adequado à produtividade dos trabalhadores", nota Luís Florindo. Jaime Esteves remata com dois conselhos aos governantes: apostar na estabilidade e previsibilidade das políticas públicas e atacar os licenciamentos. Obstáculos que, se forem derrubados, terão grande impacto na atração de IDE, considera.
Sónia M. Lourenço
AS CONCLUSÕES DA CATÓLICA:
Mudar a mentalidade para aumentar a produtividade
A captação de investimento direto estrangeiro foi o alvo de mais uma investigação dos alunos da Católica.
No âmbito do projeto Portugal Próspero, uma parceria do Expresso com o Deutsche Bank e a Universidade Católica, os alunos Martin Beaucamp (alemão), Martine Ulvin (norueguesa), Cátia Araújo (portuguesa), Anders Farnes (norueguês), Tim Langer (alemão) e Marta Infantino (italiana), deram voz às empresas e analisaram o estado do investimento direto estrangeiro (IDE) em Portugal. Centraram-se em dois países e duas indústrias - a indústria marítima na Noruega e a automóvel na Alemanha (ver caixas ao centro) - e identificaram fatores de atração e os maiores entraves ao investimento estrangeiro.
Com base em entrevistas e inquéritos a empresas, câmaras de comércio e associações industriais e sectoriais, estatísticas e teses de mestrado, os alunos concluem que, ao nível dos recursos humanos, Portugal apresenta "alta percentagem de portugueses com formação superior (26ª posição no mundo, de acordo com o World Economic Forum)" e uma "elevada qualidade dos profissionais de engenharia", que estão a ser recrutados por empresas norueguesas.
Ainda assim, há pontos fracos a apontar aos recursos humanos portugueses: "Falta de mão de obra qualificada, a relativa vantagem com baixo custo salarial que desaparece com a reduzida produtividade do trabalho, e a legislação laboral que é vista como entrave ao desenvolvimento dos negócios".
Aumento da produtividade
Os alunos da Católica sugerem, por isso, que se aposte na qualificação técnica, reforçando a formação técnica e profissional, revendo os incentivos para técnicos especializados e aumentando a visibilidade e o prestígio destas profissões.
Para atrair mais IDE, faz falta também, um aumento de produtividade. Aqui, é preciso uma "alteração de mentalidade no sentido do brio profissional, da promoção de eficiência, da diminuição de tempos mortos, da melhoria da qualidade; da promoção do mérito; do exemplo das chefias; da coragem em encerrar situações de ineficiência e do reconhecimento público dessa coragem". É igualmente relevante "reformular e flexibilizar a legislação laboral", seguindo padrões europeus de legislação laboral.
Ao nível das infraestruturas, "os entrevistados salientam a excelente integração de estruturas em torno de Lisboa", bem como as "características únicas do Porto de Sines". Ao mesmo tempo, porém, destacam "o mau aproveitamento do Porto de Sines e a falta de ligação ferroviária de mercadorias". A investigação sugere, assim, uma racionalização dos investimentos públicos em infraestruturas de transportes e a potencialização do Porto de Sines e ligação Sines-Madrid para mercadorias.
Reforma do Estado
Em termos da infraestrutura administrativa, as conclusões dos alunos da Católica notam uma "eficiência baixíssima da administração pública (116º no ranking mundial do World Economic Forum 2014), a inexistência de consequências visíveis de amplo e exaustivo debate sobre a reforma do Estado (recorrentemente se critica que o "Estado Português nada mais faz do que cobrar impostos")".
A este nível, para atrair mais captação de investimento direto estrangeiro (IDE), é preciso uma "redefinição do papel do Estado como veículo de apoio à economia, e não como mecanismo de condução da economia; uma verdadeira e ampla reforma do Estado, dando o exemplo na promoção de eficiência e na qualidade de serviço". Mas também é necessário "continuar, reforçar e dar visibilidade a esforços de desburocratização e e-government", bem como a estabilização do enquadramento tributário e de políticas económicas e fiscais.
No que diz respeito à infraestrutura energética, a análise revela também que os entrevistados receiam a tendência para o aumento de preços com fortes impactos na totalidade dos custos operacionais em Portugal. "Tornar custos energéticos mais competitivos internacionalmente e evitar aumentos de preços na fatura energética", são as recomendações da investigação.
Apostar no Brasil e África
Culturalmente, as conclusões apontam para diferenças entre Portugal, a Alemanha e a Noruega: "Tanto os noruegueses como os alemães têm muita dificuldade em lidar com fornecedores nacionais, que utilizam estratégias de negociação, começando por posicionar preços em patamares mais elevados para posteriormente negociarem os valores até chegarem a números consistentes com a realidade dos mercados. Esta situação que ocorre fundamentalmente de questões culturais gera desconfiança e incerteza nos parceiros destes países".
Por isso, sugerem os alunos, há que apostar na proximidade cultural ao Brasil e a África, "o que faz de Portugal uma ponte ou mesmo uma porta de entrada para esses mercados". Mas também na formação e na capacitação de empresários nacionais para "cross-cultural management" e na aproximação a padrões europeus, bem como no melhor esclarecimento sobre as condições dos mercados internacionais.
Margarida Fiúza
INDÚSTRIA MARÍTIMA escreveu:
- A indústria marítima (construção, manutenção e reparação de embarcações) é pouco relevante para a economia portuguesa (representava 0,13% do PIB em 2011), sendo que existem cerca de duzentas empresas a operar em Portugal, cinco das quais com capacidade para competir a nível global (a LISNAVE é reconhecida como uma empresa de referência)
- Tendências na indústria marítima a nível global: aumento da dimensão média dos navios a produzir; crescimento da frota mundial (cerca de 20% até 2020); e elevados níveis de exigência no que respeita a inspeções de navios, o que tem levado as grandes empresas de transporte marítimo a substituir os seus navios
- Estas tendências abrem excelentes janelas de oportunidade ao nível dos subsectores de reparação e de manutenção que Portugal pode aproveitar. Está muito próximo das mais importantes rotas internacionais e é o país europeu mais próximo do Panamá
INDÚSTRIA AUTOMÓVEL escreveu:
- A indústria automóvel tem um peso significativo na economia portuguesa (mais de 4% no PIB e mais de 9% nas exportações nacionais)
- Existem cerca de 30 empresas alemãs (fabricantes de automóveis e componentes) em Portugal
- Com base numa amostra de 161 operações de investimento alemão em Portugal (entre 1996 e 2013), conclui-se que os projetos feitos de raiz têm maior impacto na economia do que a aquisição de projetos existentes
- O IDE alemão (feito sobretudo por grande empresas alemãs e cotadas em Bolsa) prefere realizar novos projetos em sectores com mais I&D, maior crescimento e onde a presença de empresas alemãs já está mais consolidada
- Um aspeto determinante na escolha de Portugal é a pertença ao euro
- É preciso trazer mais sectores alemães para Portugal
- Para salvar empresas portuguesas em dificuldades deve-se promover a sua venda a cotadas alemãs
Sónia M. Lourenço (slourenco@impresa.pt) e Margarida Fiúza (mfiuza@impresa.pt) |
13:01 Quarta, 25 de Junho de 2014
Última atualização há 48 minutos
Expresso
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