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Estabelecer os objectivos globais correctos

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Estabelecer os objectivos globais correctos Empty Estabelecer os objectivos globais correctos

Mensagem por Admin Qui Jun 26, 2014 11:11 am

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Alguns dos objectivos propostos pelas Nações Unidas são inteiramente irrealistas, como a promessa de trabalho para todos.

De um modo geral, o mundo tornou-se num sítio muito melhor nos últimos 50 anos. Os cépticos irão negar esta ideia de melhoria global, mas os números não mentem. A tarefa que enfrentamos actualmente é tornar o mundo ainda melhor.
 
Em 1960 morreram 20 milhões de crianças com menos de cinco anos. Em 2011, apesar de terem morrido demasiadas crianças, o número total de crianças foi 40% maior, enquanto o número de mortes caiu dois terços para 6,9 milhões.
 
Em 1970 apenas 5% das crianças eram vacinadas contra o sarampo, tétano, tosse convulsa, difteria e poliomielite. Em 2000 a proporção era de 85%, permitindo salvar 3 milhões de vidas anualmente. Em cada ano, estas vacinas, per si, salvaram mais pessoas do que teria salvado a eventual paz mundial no século XX.
 
A poluição do ar, o maior problema ambiental mundial, caiu significativamente. No entanto, apesar de um pequeno aumento na poluição do ar exterior, o problema muito maior que representa a poluição do ar interior – cozinhar e climatizar com fogos abertos e contaminadores – diminuiu vertiginosamente. Desde 1960 o risco de morte devido a todos os tipos de poluição atmosférica caiu para menos de metade.
 
A educação também melhorou. Em 1642, 41% das crianças em todo o mundo não iam à escola – hoje esse número está abaixo de 10%. Os níveis de literacia cresceram de um terço para dois terços.
 
Do mesmo modo, a percentagem daqueles que, em todo o mundo, viviam na pobreza caiu de 43% para menos de 18% em 1981. Durante este período mais de 3 mil milhões de pessoas passaram a pertencer aos rankings dos não-pobres.
 
Existem muitas razões para este progresso – especialmente o rápido desenvolvimento económico, em particular na China. Todavia também existiu um esforço internacional concertado, plasmado no Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que as Nações Unidas adoptaram em 2000 para tornar o mundo num lugar melhor até 2015. Os ODM estabeleceram 18 metas claras e realistas em oito áreas, incluindo pobreza e fome, igualdade de género, saúde infantil e materna. No período desde 2000, a ajuda para o desenvolvimento em todo o globo atingiu cerca de 900 mil milhões de dólares, dos quais talvez 200 mil milhões se deveram aos ODM.
 
As Nações Unidas estão, agora, a pensar como estender este processo de definição de metas de 2015 para 2030. Se o projecto sucessivo, designado de Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tiver um impacto similar, tal poderia garantir a alocação de mais de 700 mil milhões de dólares. Obviamente, isto significa que todos querem o seu assunto favorito na agenda e mais de mil metas foram propostas, o que representa, na prática, o não estabelecimento de prioridades nenhumas.
 
Seria útil, por conseguinte, ter noção daquilo que realmente funciona, não apenas daquilo que soa bem. O meu ‘think tank’, o Centro de Consenso de Copenhaga, solicitou a 57 equipas de economistas que estudassem 19 áreas fundamentais e cerca de 50 objectivos – tentando saber quanto custaria e quão bem faria cada uma – até ao final deste ano, bem antes de as Nações Unidas decidirem sobre os ODS nos finais de 2015. Mas as negociações já começaram e as Nações Unidas gostariam de ter alguma informação já. Por isso solicitámos aos nossos economistas para que forneçam uma rápida avaliação de cerca de 100 dos objectivos propostos.
 
Alguns objectivos, como garantir acesso a planeamento familiar, são realmente bons. Isto porque a anticoncepção é bastante barata e pode ajudar tanto as pessoas como a sociedade. Os benefícios podem crescer até 150 dólares por cada dólar gasto.
 
Em termos semelhantes, também deveríamos baixar, pelo menos, a subnutrição para metade porque existem fortes indícios de que uma nutrição adequada em crianças pequenas possibilita uma vida com grandes benefícios – maior desenvolvimento cerebral, melhor performance escolar e, finalmente, maior produtividade enquanto adultos. Por cada dólar gasto as futuras gerações receberão cerca de 60 dólares em benefícios.
 
Mas o projecto das Nações Unidas revela que devemos "acabar com a subnutrição" e os economistas alertam que enquanto esta meta possa parecer tentadora, é tão pouco plausível quanto ineficiente. Não podemos atingir esta meta e mesmo que pudéssemos os recursos necessários para ajudar a última pessoa mal nutrida seriam muito melhor empregues de outra forma.
 
Igualmente, as Nações Unidas gostariam de erradicar o HIV, a malária e a tuberculose. E, enquanto reduzir de forma significativa a malária e a tuberculose é um objectivo muito bom, o objectivo de erradicação é irrealista e antieconómico.
 
No outro prato da balança, alguns dos objectivos propostos pelas Nações Unidas são inteiramente irrealistas, como a promessa de trabalho para todos. Não sabemos como o conseguir e um baixo nível de desemprego é necessário para que o mercado laboral funcione correctamente, possibilitando uma base de recruta aos empregadores. Em vez disso, os economistas sugerem o foco na redução de barreiras ao emprego, particularmente para as mulheres.
 
Outros objectivos custam mais do que o benefício que trariam. Duplicar a proporção de energias renováveis até 2030 soa bem, mas é uma forma cara de cortar apenas um pouco de CO2. Como alternativa, deveríamos focar-nos em garantir mais energia para as populações pobres, o que é uma garantia de aumento do crescimento e de redução da pobreza. E, para reduzir as emissões de CO2, podíamos ir reduzindo os enormes subsídios aos combustíveis fósseis que caracterizam a maior parte dos países em desenvolvimento e que resultam num consumo de desperdício que penaliza os orçamentos dos governos.
 
O contributo dos economistas não resolverá com uma varinha de condão todas as complicações resultantes da profunda e complexa discussão política necessária a fim de uma decisão final sobre a definição dos objectivos para os próximos 15 anos. Mas mostrar evidências daquilo que funciona verdadeiramente bem e daquilo que não, torna mais provável que a escolha de bons objectivos – e que os piores serão deixados para trás.
 
De forma realista, esta aproximação pode contribuir para excluir apenas alguns maus objectivos, ou até mesmo apenas um, e poderá gerar ventos favoráveis para a adopção de apenas um bom objectivo na lista final. Contudo, porque é provável que o mundo venha a gastar 700 mil milhões de dólares nos ODS, mesmo uma pequena mudança pode garantir a boa aplicação de dezenas ou mesmo centenas de milhões de dólares. É por isso que apoiar as Nações Unidas a estreitar as prioridades para, assim, incluir os melhores objectivos pode ser a melhor coisa que cada um de nós pode fazer nesta década.
 
Bjørn Lomborg, professor adjunto na Copenhagen Business School, é fundador e director do Centro de Consenso de Copenhaga. É autor dos livros "The Skeptical Environmentalist" e "Cool It" e editor do "How Much have Global Problems Cost the World?"
 
David Santiago: Project Syndicate, 2014. 
www.project-syndicate.org
 
Tradução: David Santiago

25 Junho 2014, 22:40 por Bjørn Lomborg | © Project Syndicate, 2008 www.project-syndicate.org
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