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Conhecimento sem objectivos específicos não basta
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Conhecimento sem objectivos específicos não basta
Estudos revelam que Portugal é dos países com maior número de pessoas que se consideram empreendedoras, mas é também aquele onde mais pessoas consideram haver menos oportunidades empreendedoras.
Disse Fernando Santos, treinador da seleção portuguesa, numa entrevista que cito de memória a uma estação de televisão após a vitória no Euro 2016: quando jogadores colocam em causa as suas instruções, responde-lhes: “o que tu sabes já eu esqueci”. Claro, não esqueceu nada. Referia-se à experiência, ao conhecimento acumulado ao longo de quase três décadas como criador de táticas de jogo e líder de homens. Saber sem ter de pensar.
O primeiro-ministro António Costa disse há dias que "o conhecimento é a base do nosso desenvolvimento e do nosso futuro, e para haver conhecimento é essencial investir na cultura e no acesso ao livro e à leitura". Disse também que “a indústria do século XXI vai distinguir-se muito pouco daquilo que é a atividade dos pintores, dos escultores ou dos criadores de moda, porque será assente na criatividade.”
O criador isolado no seu ateliê é uma ideia romântica, desfasada da realidade. Para ter lucro, a criatividade, mesmo que diletante, requer muito mais que essa abstracção – “conhecimento”. É preciso o desenvolvimento de políticas e instituições que facilitem a aplicação cumulativa de ciência, tecnologia e inovação a objetivos específicos. São precisas redes, organizações, universidades, capital, estratégia, liderança, hierarquias, formalismos, mercados, consumidores. São necessárias políticas que propiciem a criação de oportunidades para a aplicação de conhecimento em atividades produtivas e rentáveis.
“Quantas pessoas – e quais – serão precisas para descartar os delírios até se chegar a uma ideia que faça sentido para o país”, pergunta com pertinência Joana Petiz no Diário de Notícias sobre o chamado orçamento participativo, uma ideia referendária que tem latente o substrato populista “anti-peritos” que o ridículo (mas eficaz) ‘Brexiter’ Michael Gove lançou no Reino Unido antes do referendo. É preciso insistentemente qualificar a ideia ‘abrilista’ “o povo é quem mais ordena”. Sim, mas de quatro em quatro anos. Nos intervalos, quem ordena são os representantes eleitos, muitas vezes com a contribuição de peritos, porque os eleitos não sabem tudo.
A contribuição consultiva de peritos para a formulação de políticas de desenvolvimento foi sugerida, em 2005, pela ‘task force’ convocada pelas Nações Unidas e liderada por Calestous Juma, da Kennedy School of Government, Harvard, e Lee Yee-Cheong, da World Federation of Engineering Organizations, Paris, e da Academia das Ciências da Malásia. O relatório que produziram, “Innovation: Applying Knowledge in Development”, propõe um conjunto de políticas consideradas necessárias para concretizar os objetivos até 2015 do The UN Millennium Project, lançado pelo anterior secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e liderada pelo Professor Jeffrey Sachs, diretor de The Earth Institute da Universidade de Columbia.
Estas propostas contaram com a colaboração de dezenas de peritos de todo o mundo, mas infelizmente não houve o contributo de nenhuma instituição académica portuguesa (desconheço se já foi feito um balanço de aplicação das propostas do relatório). Embora os destinatários do documento fossem os chamados países em desenvolvimento, o elenco de políticas propostas tem, quanto a mim, âmbito genérico quando o tema é aplicar conhecimento ao desenvolvimento que é, afinal, o objetivo subjacente às declarações do primeiro-ministro.
De facto, o relatório da ONU afirma que a ‘task force’ “recolheu experiências de todo o mundo de modo a demonstrar como países em desenvolvimento e desenvolvidos têm utilizado a ciência, a tecnologia e a inovação para alcançar os seus objetivos”. A base do relatório é informada pelo processo de associação entre aprendizagem tecnológica e a competência tecnológica.
O relatório começa por afirmar que plataformas tecnológicas (TICs, biotecnologia, nanotecnologia e novos materiais) com amplas aplicações ou impactos na economia são chave. As infraestruturas são a fundação da tecnologia porque afetam a produção e o consumo das empresas e indivíduos gerando substanciais externalidades positivas e negativas. O investimento em ciência e tecnologia é uma das fontes mais críticas na transformação económica. Esse investimento deverá ser parte da estrutura para criar capacidades em ciência, tecnologia e inovação. As melhorias na educação superior devem ser acompanhadas pelo crescimento de oportunidades económicas para que os licenciados possam aplicar o conhecimento adquirido.
O problema em Portugal reside precisamente aqui. O que fazer, e como fazer, com o nosso conhecimento? Outros estudos revelam que Portugal é dos países com maior número de pessoas que se consideram empreendedoras, mas é também aquele onde mais pessoas consideram haver menos oportunidades empreendedoras. A ação governativa deve ir além de proclamações sem conteúdo. Não basta enaltecer a necessidade de conhecimento, tão vital à inovação e desenvolvimento como a água é à vida. Penso que é fundamental que os governos dediquem atenção à concretização das políticas de modo estratégico, holístico, aplicadas à soma total das atividades em Portugal e dirigidas a objetivos específicos.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
Nuno Cintra Torres, Investigador e Professor Universitário
Económico
Disse Fernando Santos, treinador da seleção portuguesa, numa entrevista que cito de memória a uma estação de televisão após a vitória no Euro 2016: quando jogadores colocam em causa as suas instruções, responde-lhes: “o que tu sabes já eu esqueci”. Claro, não esqueceu nada. Referia-se à experiência, ao conhecimento acumulado ao longo de quase três décadas como criador de táticas de jogo e líder de homens. Saber sem ter de pensar.
O primeiro-ministro António Costa disse há dias que "o conhecimento é a base do nosso desenvolvimento e do nosso futuro, e para haver conhecimento é essencial investir na cultura e no acesso ao livro e à leitura". Disse também que “a indústria do século XXI vai distinguir-se muito pouco daquilo que é a atividade dos pintores, dos escultores ou dos criadores de moda, porque será assente na criatividade.”
O criador isolado no seu ateliê é uma ideia romântica, desfasada da realidade. Para ter lucro, a criatividade, mesmo que diletante, requer muito mais que essa abstracção – “conhecimento”. É preciso o desenvolvimento de políticas e instituições que facilitem a aplicação cumulativa de ciência, tecnologia e inovação a objetivos específicos. São precisas redes, organizações, universidades, capital, estratégia, liderança, hierarquias, formalismos, mercados, consumidores. São necessárias políticas que propiciem a criação de oportunidades para a aplicação de conhecimento em atividades produtivas e rentáveis.
“Quantas pessoas – e quais – serão precisas para descartar os delírios até se chegar a uma ideia que faça sentido para o país”, pergunta com pertinência Joana Petiz no Diário de Notícias sobre o chamado orçamento participativo, uma ideia referendária que tem latente o substrato populista “anti-peritos” que o ridículo (mas eficaz) ‘Brexiter’ Michael Gove lançou no Reino Unido antes do referendo. É preciso insistentemente qualificar a ideia ‘abrilista’ “o povo é quem mais ordena”. Sim, mas de quatro em quatro anos. Nos intervalos, quem ordena são os representantes eleitos, muitas vezes com a contribuição de peritos, porque os eleitos não sabem tudo.
A contribuição consultiva de peritos para a formulação de políticas de desenvolvimento foi sugerida, em 2005, pela ‘task force’ convocada pelas Nações Unidas e liderada por Calestous Juma, da Kennedy School of Government, Harvard, e Lee Yee-Cheong, da World Federation of Engineering Organizations, Paris, e da Academia das Ciências da Malásia. O relatório que produziram, “Innovation: Applying Knowledge in Development”, propõe um conjunto de políticas consideradas necessárias para concretizar os objetivos até 2015 do The UN Millennium Project, lançado pelo anterior secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e liderada pelo Professor Jeffrey Sachs, diretor de The Earth Institute da Universidade de Columbia.
Estas propostas contaram com a colaboração de dezenas de peritos de todo o mundo, mas infelizmente não houve o contributo de nenhuma instituição académica portuguesa (desconheço se já foi feito um balanço de aplicação das propostas do relatório). Embora os destinatários do documento fossem os chamados países em desenvolvimento, o elenco de políticas propostas tem, quanto a mim, âmbito genérico quando o tema é aplicar conhecimento ao desenvolvimento que é, afinal, o objetivo subjacente às declarações do primeiro-ministro.
De facto, o relatório da ONU afirma que a ‘task force’ “recolheu experiências de todo o mundo de modo a demonstrar como países em desenvolvimento e desenvolvidos têm utilizado a ciência, a tecnologia e a inovação para alcançar os seus objetivos”. A base do relatório é informada pelo processo de associação entre aprendizagem tecnológica e a competência tecnológica.
O relatório começa por afirmar que plataformas tecnológicas (TICs, biotecnologia, nanotecnologia e novos materiais) com amplas aplicações ou impactos na economia são chave. As infraestruturas são a fundação da tecnologia porque afetam a produção e o consumo das empresas e indivíduos gerando substanciais externalidades positivas e negativas. O investimento em ciência e tecnologia é uma das fontes mais críticas na transformação económica. Esse investimento deverá ser parte da estrutura para criar capacidades em ciência, tecnologia e inovação. As melhorias na educação superior devem ser acompanhadas pelo crescimento de oportunidades económicas para que os licenciados possam aplicar o conhecimento adquirido.
O problema em Portugal reside precisamente aqui. O que fazer, e como fazer, com o nosso conhecimento? Outros estudos revelam que Portugal é dos países com maior número de pessoas que se consideram empreendedoras, mas é também aquele onde mais pessoas consideram haver menos oportunidades empreendedoras. A ação governativa deve ir além de proclamações sem conteúdo. Não basta enaltecer a necessidade de conhecimento, tão vital à inovação e desenvolvimento como a água é à vida. Penso que é fundamental que os governos dediquem atenção à concretização das políticas de modo estratégico, holístico, aplicadas à soma total das atividades em Portugal e dirigidas a objetivos específicos.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
00:05 h
Nuno Cintra Torres, Investigador e Professor Universitário
Económico
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