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Sensibilidade social e laboral precisa-se

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Mensagem por Admin Seg Abr 10, 2017 10:39 am

Assistir à romagem do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, pela noite dentro, para ajudar na entrega de alimentos às pessoas sem-abrigo, foi mais um gesto de alguém que, definitivamente, não quer estar sentado na poltrona de Belém, recebendo pessoas e “forças vivas” em audiências palacianas e empregando o seu tempo lendo dossiers e relatórios.

Foi, verdadeiramente, um murro no estômago para muitos decisores políticos. É que, para além da necessidade de um político ter os pés firmemente assentes na terra, ir ao terreno, não apenas no propício período eleitoral, dá uma noção e dimensão que nenhum relatório ou PowerPoint poderão avaliar. O drama é que vivemos há muitos anos, demasiados anos, dentro da bolha decisória de reuniões, inaugurações e relatórios. Entre croquetes e beberetes, umas palavras escritas e uns salamaleques, este país foi sendo gerido num casulo tecido com Excel e PowerPoint. Dir-me-ão que era a inovação tecnológica a chegar. Sim. E a sensibilidade social a sair. E saiu. Sentimos hoje que a discussão político-partidária não reflecte, como deveria, os problemas do cidadão comum.

Será que um político sabe quanto custa um litro de leite ou uma carcaça? Será que um político, daqueles que realmente decidem, sabe como comprar o bilhete do metro, usar o autocarro ou simplesmente entrar numa Loja do Cidadão ou enfrentar as longas esperas das urgências de um qualquer hospital público? Saberá? Não sei. Ainda tenho uma réstia de fé que saibam e que a realidade não seja uma coisa vaga e distante para aqueles e aquelas que decidem o nosso destino colectivo.

No entanto, após anos e anos a ajustar, continuamos sem soluções para quase tudo.

Reformas estruturais? Muitas ficaram pelo caminho ou na gaveta. E o que Marcelo Rebelo de Sousa fez foi, através da sua ampla cobertura mediática, dar a conhecer uma realidade, bem real, desculpem a tautologia, que está à frente de todos e que uns fingem não ver ou apenas contemplam, de longe, com pena.

Todavia como podemos nós, dar a volta a esta triste sina? Um país que não produz riqueza abundante para todos, que não sai do marasmo em que se tornou este princípio de século, que assim não tem capacidade de enquadrar e integrar os mais desfavorecidos, que tem graves assimetrias de rendimentos, sem falar de outras desigualdades, que vive ao sabor das marés e dos humores dos credores, como pode sair do limbo? Sim, temos bom tempo, boa comida e somos relativamente remediados. E ficamos por aqui? De braços caídos, de costas vergadas com o peso do fado, do destino que não nos deu uma tia rica com herança choruda, capaz de resolver todos os nossos males.

Entretanto, abrimos os jornais e vemos que Portugal é o país com a taxa de depressão mais elevada da Europa e o segundo do mundo. Alô! Está aí alguém? Será que isto não merece reflexão e respostas? Será que isso da depressão é tipo moda que logo passa? Não é. E as causas estão à vista de todos. Falta de sensibilidade social e laboral, espírito de corpo. Perdeu-se o sentido de colectividade, de comunidade, ou seja, perderam-se aqueles laços

de vizinhança e amizade que muitos, dos que fizeram parte do grande êxodo rural dos anos 60 e 70, traziam das aldeias para os bairros tradicionais dos grandes centros urbanos, como Lisboa. O flagelo da depressão atinge, cada vez mais os jovens. A falta de emprego e, quando o há, não existirem políticas sustentadas e sensíveis de recursos humanos, que pensem mais nos trabalhadores como pessoas e não como ferramentas, são factores geradores de frustração e insatisfação que são terreno fértil para esta doença.

Políticas que previnam más decisões, que acompanhem a evolução laboral de cada trabalhador, que não tratem cada um como mero objecto descartável que se tira e coloca conforme as modas.

Olhemos para a venda do Novo Banco e o destino que está traçado para aquelas pessoas. Está traçado, como que escrito em pedra. Nem preciso de dizer mais. E quem diz Novo Banco, diz também Caixa Geral de Depósitos e BPI. Tal como BCP. Pois. E não querem depressões?

Pouca atenção foi dada, mas já este ano um bancário se suicidou nas instalações do Banco onde trabalhava. E então? Não serve para alertar para a mediocridade e desumanidade da sociedade, que, desta forma, estamos a construir? Não serve para tocarem as campainhas de alarme dos decisores políticos e empresariais? Quem manda tem uma pressão gritante. Não o podemos negar, nem menorizar. Contudo, para atingir os resultados não vale, nem pode valer tudo. Não pode valer. Uma sociedade não pode viver refém de números, de engordar o EBITDA, de “optimizar” custos e estruturas, cortando até ao tutano do osso. Uma sociedade existe e progride com as pessoas. Bem enquadradas, respeitadas e motivadas. Ou será que as pessoas servem o sistema económico e não o contrário?

É preocupante a falta de sensibilidade social e laboral que grassa entre nós. Acordemos,são horas.

10.04.2017 às 9h33
DIOGO AGOSTINHO
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