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A substituição digital da mão-de-obra
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A substituição digital da mão-de-obra
As tecnologias digitais estão a transformar, mais uma vez, as cadeias de valor mundiais e, com elas, a estrutura da economia global. O que precisam de saber as empresas, os cidadãos e os decisores políticos, que lutam para seguir o ritmo das transformações?
A digitalização das cadeias de abastecimento resultou num aumento da eficiência e numa redução drástica dos prazos de entrega. Sendo o capital mais móvel do que a mão-de-obra, a actividade económica teve tendência para deslocar-se para qualquer país ou região acessível com mão-de-obra e capital humano relativamente mais baratos. Com um ligeiro atraso, apenas, a complexidade tornou-se controlável, e o modelo linear das cadeias de abastecimento (algo produzido no país A é consumido no país B) deu lugar a um modelo mais complexo, com redes de fornecimento mais fragmentadas, mas mais eficientes.
Ao mesmo tempo, ocorreu uma mudança considerável do lado da procura, com o crescimento das economias emergentes e a sua transformação em países de rendimento médio. Os produtores dos países em desenvolvimento, que constituíam uma fracção relativamente pequena da procura global, tornaram-se grandes consumidores.
Isto levou as redes de abastecimento globais a mudarem de novo, acomodando a fragmentação e a dispersão de ambos os lados da estrutura, a procura e a oferta, num processo que se denomina como "atomização tecnologicamente habilitada": a divisão das redes de abastecimento em partes cada vez mais pequenas, permitindo quebrar as ligações de proximidade e as restrições impostas pelos custos de transacção, que prevaleciam anteriormente.
Por exemplo, muitos serviços relacionados à procura intermédia e final requerem conhecimento, experiência, informação e comunicação para a sua entrega. O que não exigem é proximidade geográfica ou movimento físico de mercadorias. Estes serviços representam uma parte importante da economia global e estão a gravitar, rapidamente, para o sector dos bens transaccionáveis, com a cada vez mais poderosa tecnologia digital e tecnologia da informação a correr atrás dos recursos humanos móveis e dos mercados em rápido crescimento.
No curso dessa transformação, milhões de pessoas integraram a economia global, com consequências de grande alcance - muitos das quais permanecem um desafio – no que diz respeito à pobreza, preços, salários e distribuição de rendimentos.
Agora, aproxima-se uma segunda onda de tecnologia digital, potencialmente mais poderosa, e que implica a substituição da mão-de-obra em tarefas cada vez mais complexas. Este processo de substituição da mão-de-obra e desintermediação já está a acontecer há algum tempo no sector dos serviços – basta pensar nos terminais ATM, serviços bancários "online", planeamento de recursos empresariais, gestão de relacionamento com o cliente, sistemas de pagamento móvel, e muito mais. Esta revolução está a estender-se à produção de bens, onde os robots e as impressoras 3D estão a substituir a mão-de-obra.
É importante compreender os aspectos económicos destas tecnologias. Grande parte dos custos concentram-se no início, no projecto de hardware (como sensores) e, mais importante ainda, na criação do software que produz a capacidade de realizar várias tarefas. Uma vez concluída esta primeira fase, o custo marginal do hardware é relativamente baixo (e diminui com o aumento da escala), e o custo marginal de replicar o software é praticamente nulo. Com um enorme mercado potencial para amortizar os custos fixos iniciais de concepção e ensaio, os incentivos para investir são convincentes.
Por outras palavras, ao contrário da anterior onda de tecnologia digital, em que as empresas estavam motivadas a procurar, por todo o mundo, fontes de mão-de-obra subutilizadas e aproveitá-las, a força motriz desta nova onda é a redução de custos através da substituição da mão-de-obra.
Esta transformação tem efeitos colaterais importantes. Os bens físicos supõem custos de logística e de tempos de espera, resultantes da manuteenção de inventários e da dificuldade de fazer previsões exactas sobre o mercado. Mas o uso de tecnologias intensivas em capital digital levará, inevitavelmente, a que produção se traslade para o mercado final, onde quer que este seja. Esta re-localização constitui uma grande mudança na estrutura das redes de fornecimento globais.
Um exemplo particularmente extremo é o da impressora 3D, uma tecnologia que faz com que seja possível produzir uma gama de produtos surpreendentemente vasta e crescente, que se pode aplicar a materiais de construção, calçado desportivo, lâmpadas, asas de aviões, etc.
À medida que os custos dessa tecnologia diminuam, é fácil imaginar que a produção se tornará extremamente local e personalizada. Além disso, pode produzir-se em resposta à procura real, e não à procura esperada ou prevista. Em certo sentido, isso representa a etapa final da compressão das cadeias de abastecimento, porque as empresas poderão produzir de acordo com a procura e com uma demora mínima.
Ao mesmo tempo, o impacto da robótica (outra tecnologia com base digital), não se limita à produção. Apesar de os carros e drones de auto-condução serem os exemplos mais flagrantes, o seu impacto sobre a logística não é menos transformador. Actualmente, o porto de Singapura, um dos mais eficientes do mundo, utiliza computadores e guindastes robóticos, que são agendados para se moverem em torno de contentores e navios de carga.
Os países em desenvolvimento nos estágios iniciais de crescimento precisam de compreender estas tendências. A mão-de-obra, não importa o quão barata, vai tornar-se um activo menos importante para o crescimento e expansão do emprego; esses países já não poderão basear-se na produção industrial intensiva em mão-de-obra e orientada para processos como modo eficaz de se integrarem na economia global.
Em todo o lado existirá re-localização, incluindo nos países de rendimentos mais baixos. A produção não vai desaparecer; mas dependerá menos da mão-de-obra. Todos os países acabarão por ter de reconstruir os seus modelos de crescimento em torno de tecnologias digitais e do capital humano que suporta a sua implementação e expansão.
O sector do retalho também está em transformação. Em muitas economias, tanto avançadas como em desenvolvimento, está a assistir-se a uma expansão das vendas através da internet e da logística subjacente. Na China, onde o crescimento ocorre de forma muito acelerada, as estimativas sugerem que apenas uma parte da expansão é feito à custa do retalho tradicional.
Na verdade, as vendas através da internet parecem provocar uma aceleração de todo o mercado de consumo. Especialistas na matéria consideram que o novo modelo de comércio de retalho integrará formas de venda física e electrónica, cada uma delas modificada pela presença da outra. Pensemos novamente no modelo de impressão 3D, que pode converter-se numa forma de produção massiva e personalizada, guiada pela procura, e a sua combinação com os sistemas de pagamento móvel e as redes sociais. Haverá um terceiro elemento fundamental, que será a integração do abastecimento com a logística e o retalho.
Estamos a entrar num mundo onde os fluxos globais mais importantes não serão compostos por bens, serviços e capital na sua forma tradicional, mas por ideias e capital digital. A adaptação a esta realidade exige uma alteração de mentalidades, políticas, investimentos (especialmente em capital humano) e, muito possivelmente, dos modelos de emprego e distribuição. Ninguém sabe totalmente como se vai desenrolar o processo. Mas tentar compreender para onde nos levam as forças e as tendências tecnológicas é um bom ponto de partida.
Michael Spence, laureado com o Prémio Nobel da Economia, é professor de Economia na Stern School of Business, da Universidade de Nova Iorque, e conselheiro no Instituto Hoover. O seu último livro é "The Next Convergence – The Future of Economic Growth in a Multispeed World".
Copyright: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
30 Junho 2014, 13:02 por Michael Spence
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