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A ameaça capitalista para o capitalismo

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A ameaça capitalista para o capitalismo Empty A ameaça capitalista para o capitalismo

Mensagem por Admin Ter Jul 01, 2014 7:54 pm

A ameaça capitalista para o capitalismo Img_126x126$2013_11_20_14_29_20_209996

O capitalismo conduziu a economia mundial a uma prosperidade sem precedentes. No entanto, também se revelou disfuncional de variadas formas

Winston Churchill disse um dia, como é sabido, que a democracia é a pior forma de governo – exceptuando todas as outras que já foram tentadas. Se hoje fosse vivo, talvez pensasse o mesmo do capitalismo como veículo para o progresso social e económico.
 
O capitalismo conduziu a economia mundial a uma prosperidade sem precedentes. No entanto, também se revelou disfuncional de variadas formas. Frequentemente incentiva a falta de visão, contribui para grandes disparidades entre ricos e pobres e tolera o tratamento negligente do capital ambiental.
 
Se estes custos não podem ser controlados, o apoio ao capitalismo pode desaparecer – e, com isso, a melhor esperança da humanidade de alcançar prosperidade e crescimento económico. Portanto, é hora de considerar os novos modelos de capitalismo que estão a surgir em todo o mundo – sobretudo o capitalismo consciente, o capitalismo moral e o capitalismo inclusivo.
 
Estes esforços de redefinição do capitalismo reconhecem que as empresas devem olhar além dos ganhos e perdas para manter o apoio público a uma economia de mercado. Todos eles partem do princípio de que as empresas devem estar conscientes do seu papel na sociedade e esforçar-se por garantir que os benefícios do crescimento sejam amplamente repartidos e não imponham custos ambientais e sociais inaceitáveis.
 
Assim, apesar do recente crescimento dos mercados emergentes, a economia mundial é um lugar de extremos surpreendentes. Os 1.200 milhões de pessoas mais pobres do planeta representam apenas 1% do consumo global, ao passo que os mil milhões de pessoas mais ricas são responsáveis por 72%. De acordo com um estudo recente, as 85 pessoas mais ricas do mundo acumularam a mesma riqueza que os 3.500 milhões de pessoas da parte inferior da pirâmide. Uma em cada oito pessoas vai para a cama com fome todas as noites, ao passo que 1.400 milhões de adultos têm excesso de peso.
 
Qualquer sistema que gera este tipo de excessos e exclui tantas pessoas enfrenta o risco de rejeição pública. O inquietante é que os efeitos colaterais negativos do capitalismo estão a intensificar-se, ao passo que a confiança nas instituições públicas caiu para um mínimo histórico. Segundo o mais recente Barómetro de Confiança Edelman, menos de metade da população mundial confia no governo. As empresas têm melhor classificação, mas não muito mais. Os escândalos – desde as conspirações para fixar taxas financeiras chave até à descoberta de carne de cavalo na cadeia alimentar - minam a fé das pessoas nas empresas enquanto agentes para um mundo melhor.
 
Desiludidas com o Estado e o mercado, as pessoas cada vez mais se perguntam se o capitalismo, tal como o praticamos, justifica os custos. Vemos isso em movimentos como o Dia da Terra e o "Occupy Wall Street". Em muitas regiões do mundo – desde os países da Primavera Árabe até ao Brasil, Turquia, Venezuela e Ucrânia, as populações frustradas estão a acorrer às ruas.
 
Combater os fracassos do capitalismo moderno exigirá uma liderança forte e uma ampla cooperação entre as empresas, governos e organizações não-governamentais. Há que estabelecer medidas concretas que as empresas podem adoptar para começar a mudar a forma de fazer negócios - e reconstruir a confiança da opinião pública no capitalismo.
 
Tal esforço pode dar frutos, como o demonstram as acções levadas a cabo pela Unilever. Desde que abandonou o princípio dos planos de orientação e a elaboração de relatórios trimestrais de resultados, a empresa tem trabalhado arduamente para instituir uma reflexão de longo prazo. A Unilever adoptou planos para impulsionar o seu crescimento, reduzindo a sua pegada ambiental e melhorando o seu impacto social positivo.
 
Muitas das suas marcas têm agora missões sociais - por exemplo, os produtos Dove são comercializados de par com uma campanha sobre a auto-estima das mulheres, e o sabão Lifebuoy tem como alvo as doenças transmissíveis através dos seus programas globais de incentivo à lavagem das mãos. Assim, talvez não seja de surpreender que estas duas marcas estejam entre que mais crescem na empresa.
 
No entanto, há um limite para o que qualquer empresa pode alcançar. As evoluções transformacionais só acontecerão se houver uma acção concertada de todos e das empresas. Uma vez mais, estamos esperançosos, porque a dinâmica existe. Estão a ser formadas coligações para abordar questões que vão desde a desflorestação ilegal até à segurança alimentar. Organismos como o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável e o Fórum Global de Bens de Consumo estão a unir-se aos principais intervenientes da indústria e a exercerem pressão sobre os governos para juntar forças na busca de um capitalismo sustentável.
 
À medida que o custo da inacção aumenta, os governos e as empresas devem continuar a oferecer uma resposta. Nenhum de nós pode prosperar num mundo onde mil milhões de pessoas vão dormir com fome todas as noites e onde 2.300 milhões não têm acesso a instalações sanitárias básicas. As empresas também não podem prosperar quando a confiança da opinião pública no futuro e nas instituições está em mínimos históricos.
 
Temos um longo caminho a percorrer, mas acreditamos que a transformação necessária está a começar. Um crescente volume de evidências sugere que novos modelos económicos podem oferecer um crescimento responsável. A Conferência sobre Capitalismo Inclusivo foi mais um passo em frente. Embora o nosso trabalho ainda agora tenha começado, estamos convencidos de que, no espaço de uma geração, seremos capazes de redefinir o capitalismo e construir uma economia global sustentável e equitativa.
 
Não temos tempo a perder. Conforme disse certa vez Mahatma Gandhi, "o futuro depende daquilo que fizermos hoje".
 
Paul Polman é CEO da Unilever. Lynn Forester de Rothschild é CEO da E.L. Rothschild e foi co-anfitriã da Conferência sobre Capitalismo Inclusivo, que decorreu a 27 de Maio de 2014, em Londres.
 
Direitos de autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org
 
Tradução: Carla Pedro

 01 Julho 2014, 10:00 por Paul Polman e Lynn Forester de Rothschild
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