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A cultura como mais valia
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A cultura como mais valia
O conjunto alargado de manifestações artísticas e culturais, a sua produção e divulgação, não é apenas significativo de modo directo na economia - pela riqueza e emprego que cria - mas também pela promoção de uma formação abrangente e de uma cidadania mais activa.
A cultura e a produção artística têm de dominar os próximos 25 anos. Neste mesmo jornal, à data da sua fundação e primeiros anos, já houve crítica de cinema. Que tem isto a ver com economia? Tudo. A ideia de que o sector cultural é marginal relativamente à nossa economia não podia ser mais ilusória. O conjunto alargado de manifestações artísticas e culturais, sua produção e divulgação, não é apenas significativo de modo directo na economia - pela riqueza e emprego que cria - mas também pela promoção de uma formação abrangente e de uma cidadania mais activa. A capacidade das gerações em interpretarem os fenómenos actuais, e assim poderem intervir de modo consciente em áreas diversas da vida colectiva, passa por um acesso informado à cultura. Esta potencialidade, se devidamente observada, poderá trazer repercussões positivas ao dinamismo económico e induzir entre nós uma maior capacidade para empreender e concretizar projectos criativos. E aqui a cultura deverá estar profundamente ligada à educação, isto é, acredito que o investimento numa delas não será produtivo sem o investimento na outra. Esta desejável reciprocidade, tantas vezes descurada, exige uma forte vontade política mas igualmente a participação de múltiplos agentes sociais e económicos. Um jornal diário, um museu, um banco ou uma associação cívica, e não apenas as escolas ou universidades, são agentes relevantes numa noção alargada de educação e de cultura, ainda que em diferentes quadros de intervenção ou mediação.
Se observarmos a situação nacional, as indústrias culturais têm tido um papel cada vez mais preponderante na nossa economia. Quando nesta última década a taxa de crescimento média anual das exportações culturais e criativas ultrapassou os 10% enquanto a economia no seu todo cresceu 9,8%, fica bem evidenciado o papel fulcral que estes sectores podem representar no futuro. Atendendo à nossa realidade produtiva, num contexto internacional de forte concorrência e em rápida mudança, impõe-se a pergunta: porquê concentrar esforços em sectores (ainda que mais tradicionais) em que essa competição está hoje muito condicionada por valores de escala, recursos ou custos, quando a diferenciação é desejável se não essencial?
Existem potencialidades, talvez menos evidentes mas oportunas, nos sectores que incluem valor cultural ou artístico, especificidade e identidade. Se até nesse F de futebol parecemos perder campo e jogo para outros países, não deixam de haver outras letras no alfabeto. Permitam-me as maiúsculas: podemos contar com um A de arte, um C de cultura, um D de design, para começo de conversa. Podemos pensar que em qualquer bem que é produzido, em qualquer sector de actividade, existe um potencial de distinção e especificidade. Claro que sim, e num tempo de irreversível globalização (iniciada afinal com os nossos Descobrimentos, não foi?) a identidade cultural apresenta-se como factor único de diferenciação e efectivo valor. E com tudo isto não falo de uma identidade fixa ou imutável, mas antes uma construção permanente. Importam aqui tanto a reactivação de algumas actividades artísticas tradicionais como a alteração dos seus modelos competitivos ou factores como o ‘branding' e a distribuição. Interessa tanto a criação contemporânea nas várias disciplinas artísticas, como a sua associação a actividades específicas e locais. Não creio que a economia possa ser hoje (se é que alguma vez o será!) alheia à criação e à diferenciação cultural.
Em momentos históricos de crise profunda, a ousadia e a criação artística estiveram associadas à reconstrução da sociedade, a novas oportunidades de reactivação económica, como por exemplo nos períodos pós-guerra. Os fenómenos culturais e manifestações artísticas estão profundamente ligados ao dinamismo das megapólis, sendo estas fortes catalisadores das actividades produtivas e da criação de emprego. A economia de qualquer país não resiste sem a riqueza produzida, directa ou indirectamente, nas cidades globais. Ao mesmo tempo, este conceito de cidade não pode passar sem a produção artística e cultural, sintoma da sua vitalidade e factor de atractividade. Nessas interdependências assenta, em último caso, a sobrevivência da Europa.
Também o turismo, cuja importância económica no território nacional é bem conhecida, pressupõe cidades activas, recuperadas e acolhedoras, cujo factor de diferenciação é a manifestação artística. Só um turismo diversificado e diferenciado poderá ser sustentável no futuro; mais do que uma moda o turismo tem de ser indissociável da oferta de produtos culturais qualificados.
Para que não restem dúvidas, o sector das indústrias culturais afirma-se como promissor na actual economia à luz de relatórios dos últimos anos, como os da OECD ("International Measurement of the Economic and Social Importance of Culture", 2006) ou no caso português do estudo para o sector cultural e criativo, e mais recentemente, "A cultura e a criatividade na internacionalização da economia portuguesa" (Mateus, 2010 e 2013).
Além disso, a internacionalização da nossa economia é actualmente uma das chaves para a superação da crise estrutural de competitividade de que padecemos. Ainda que subsistam no presente algumas dificuldades na exportação de produtos culturais, é possível melhorar a articulação entre lógicas de produção e de distribuição. Também uma maior alavancagem da língua portuguesa no contexto internacional, além de um valor em si mesmo, é uma condição essencial para a divulgação e exportação das nossas indústrias culturais, em países onde já existem cotas de mercado mas também noutras geografias.
Se hoje o sector cultural e criativo é um dos mais dinâmicos e resilientes do nosso mercado interno, mesmo comparando com actividades representativas como as da indústria têxtil e vestuário, torna-se evidente como a produção artística e cultural é determinante no processo da economia portuguesa ao mundo.
João Concha
00.05 h
Económico
A cultura e a produção artística têm de dominar os próximos 25 anos. Neste mesmo jornal, à data da sua fundação e primeiros anos, já houve crítica de cinema. Que tem isto a ver com economia? Tudo. A ideia de que o sector cultural é marginal relativamente à nossa economia não podia ser mais ilusória. O conjunto alargado de manifestações artísticas e culturais, sua produção e divulgação, não é apenas significativo de modo directo na economia - pela riqueza e emprego que cria - mas também pela promoção de uma formação abrangente e de uma cidadania mais activa. A capacidade das gerações em interpretarem os fenómenos actuais, e assim poderem intervir de modo consciente em áreas diversas da vida colectiva, passa por um acesso informado à cultura. Esta potencialidade, se devidamente observada, poderá trazer repercussões positivas ao dinamismo económico e induzir entre nós uma maior capacidade para empreender e concretizar projectos criativos. E aqui a cultura deverá estar profundamente ligada à educação, isto é, acredito que o investimento numa delas não será produtivo sem o investimento na outra. Esta desejável reciprocidade, tantas vezes descurada, exige uma forte vontade política mas igualmente a participação de múltiplos agentes sociais e económicos. Um jornal diário, um museu, um banco ou uma associação cívica, e não apenas as escolas ou universidades, são agentes relevantes numa noção alargada de educação e de cultura, ainda que em diferentes quadros de intervenção ou mediação.
Se observarmos a situação nacional, as indústrias culturais têm tido um papel cada vez mais preponderante na nossa economia. Quando nesta última década a taxa de crescimento média anual das exportações culturais e criativas ultrapassou os 10% enquanto a economia no seu todo cresceu 9,8%, fica bem evidenciado o papel fulcral que estes sectores podem representar no futuro. Atendendo à nossa realidade produtiva, num contexto internacional de forte concorrência e em rápida mudança, impõe-se a pergunta: porquê concentrar esforços em sectores (ainda que mais tradicionais) em que essa competição está hoje muito condicionada por valores de escala, recursos ou custos, quando a diferenciação é desejável se não essencial?
Existem potencialidades, talvez menos evidentes mas oportunas, nos sectores que incluem valor cultural ou artístico, especificidade e identidade. Se até nesse F de futebol parecemos perder campo e jogo para outros países, não deixam de haver outras letras no alfabeto. Permitam-me as maiúsculas: podemos contar com um A de arte, um C de cultura, um D de design, para começo de conversa. Podemos pensar que em qualquer bem que é produzido, em qualquer sector de actividade, existe um potencial de distinção e especificidade. Claro que sim, e num tempo de irreversível globalização (iniciada afinal com os nossos Descobrimentos, não foi?) a identidade cultural apresenta-se como factor único de diferenciação e efectivo valor. E com tudo isto não falo de uma identidade fixa ou imutável, mas antes uma construção permanente. Importam aqui tanto a reactivação de algumas actividades artísticas tradicionais como a alteração dos seus modelos competitivos ou factores como o ‘branding' e a distribuição. Interessa tanto a criação contemporânea nas várias disciplinas artísticas, como a sua associação a actividades específicas e locais. Não creio que a economia possa ser hoje (se é que alguma vez o será!) alheia à criação e à diferenciação cultural.
Em momentos históricos de crise profunda, a ousadia e a criação artística estiveram associadas à reconstrução da sociedade, a novas oportunidades de reactivação económica, como por exemplo nos períodos pós-guerra. Os fenómenos culturais e manifestações artísticas estão profundamente ligados ao dinamismo das megapólis, sendo estas fortes catalisadores das actividades produtivas e da criação de emprego. A economia de qualquer país não resiste sem a riqueza produzida, directa ou indirectamente, nas cidades globais. Ao mesmo tempo, este conceito de cidade não pode passar sem a produção artística e cultural, sintoma da sua vitalidade e factor de atractividade. Nessas interdependências assenta, em último caso, a sobrevivência da Europa.
Também o turismo, cuja importância económica no território nacional é bem conhecida, pressupõe cidades activas, recuperadas e acolhedoras, cujo factor de diferenciação é a manifestação artística. Só um turismo diversificado e diferenciado poderá ser sustentável no futuro; mais do que uma moda o turismo tem de ser indissociável da oferta de produtos culturais qualificados.
Para que não restem dúvidas, o sector das indústrias culturais afirma-se como promissor na actual economia à luz de relatórios dos últimos anos, como os da OECD ("International Measurement of the Economic and Social Importance of Culture", 2006) ou no caso português do estudo para o sector cultural e criativo, e mais recentemente, "A cultura e a criatividade na internacionalização da economia portuguesa" (Mateus, 2010 e 2013).
Além disso, a internacionalização da nossa economia é actualmente uma das chaves para a superação da crise estrutural de competitividade de que padecemos. Ainda que subsistam no presente algumas dificuldades na exportação de produtos culturais, é possível melhorar a articulação entre lógicas de produção e de distribuição. Também uma maior alavancagem da língua portuguesa no contexto internacional, além de um valor em si mesmo, é uma condição essencial para a divulgação e exportação das nossas indústrias culturais, em países onde já existem cotas de mercado mas também noutras geografias.
Se hoje o sector cultural e criativo é um dos mais dinâmicos e resilientes do nosso mercado interno, mesmo comparando com actividades representativas como as da indústria têxtil e vestuário, torna-se evidente como a produção artística e cultural é determinante no processo da economia portuguesa ao mundo.
João Concha
00.05 h
Económico
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