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Falar é fácil
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Falar é fácil
Dois discursos e duas interrogações. O país ouviu, na semana que passou, o Presidente da República e o Governador do Banco de Portugal a proferirem frases contundentes e que merecem uma profunda reflexão.
Este 5 de Outubro, com bandeira hasteada impecavelmente ouvimos o Sr. Presidente da República falar em desgaste do sistema político-partidário e cito "repulsa dos cidadãos mais qualificados pelo exercício de funções públicas." Mas o Senhor Presidente da República foi mais longe afirmando "Na actividade partidária, têm vindo a agravar-se as barreiras à entrada de novos protagonistas e as limitações à concorrência na escolha dos dirigentes, aos mais diversos níveis, favorecendo inevitavelmente aqueles que já estão instalados nos aparelhos partidários."
Não podia estar mais de acordo com estas afirmações. É de facto, evidente que a elevação político-partidária anda pelas ruas da amargura. No entanto, é pertinente olhar para estas declarações e constatar que o político, no activo, com a mais longa carreira, descontando Alberto João Jardim e os dinossauros autárquicos, é... Aníbal Cavaco Silva. É revelador e sintomático.
Neste 5 de Outubro vislumbrámos a essência de Cavaco Silva em todo o seu esplendor. O não-político a criticar os outros políticos e os Partidos. O homem providencial que chegou onde chegou por exclusivo mérito próprio e sem ajudas da "máquina partidária". O homem que, olhando para o actual estado do país, governado por si durante 10 anos, enjeita qualquer responsabilidade. E será que hoje, aplicando a Lei de Gresham, julgando como no passado julgou, o país está melhor do que há dez anos? O monstro morreu? São estes, os dirigentes políticos que assumiram funções nestes dez anos depois da declaração solene do Professor Cavaco o exemplo de boa moeda? Mas, dez anos depois a sentença ditada ainda é válida?
Na comemoração da nossa vetusta República, tivemos o nosso manobrador político de excelência em acção. Com o discurso bem gizado, falou em reformas de sistema político. Ora muito bem. Concordo que há certamente falhas do actual sistema político que influem no atraso do País e da economia nacional. A falta de clareza, os mecanismos, as burocracias kafkianas, os atrasos na Justiça, aquela inércia do sistema, que por vezes existe, actuando como factor de bloqueio.
Fixando-nos na actualidade, não é Aníbal Cavaco Silva o inquilino de Belém há mais de oito anos? E o que fez o Sr. Presidente da República para mudar este sistema político? E mudar como e com que fim? Não chega pedir mudança, é preciso saber qual é e como será aplicada, para ser promovida uma discussão informada.
O Senhor Presidente foi até contundente numa declaração, que penso, todos subscrevem: "Na vida política portuguesa, tem sido prática constante, sobretudo nas últimas décadas, fazerem-se promessas e anunciarem-se medidas irrealistas com vista a conquistar o apoio dos cidadãos e o voto do eleitorado.
O incumprimento das promessas feitas constitui um dos principais factores de aumento da descrença dos Portugueses na sua classe política e de desconfiança nas instituições."
Continuo a achar que este é dos maiores pecados da nossa Democracia. A dicotomia candidato/eleito é um enorme causador de desconfiança nas pessoas. E é um sentimento que corrói por dentro, Partidos, Sociedade e Estado. E leva a um distanciamento tal que já ninguém suporta ouvir políticos, ver programas televisivos, de debate político, e as campanhas eleitorais. Todavia é bom compreender que a culpa é muito de quem pouco fez, quando mais podia fazer.
E por falar em fazer, chegamos a Carlos Costa. O nosso Governador do Banco de Portugal, numa cerimónia pomposa, deixou o recado, os trabalhadores coitados nem contam, mas os nossos gestores são os culpados da nossa situação. Afirmou que as empresas em Portugal são em média mal geridas. E que os nossos gestores são a maior debilidade na economia portuguesa. E como é interessante perceber o padrão que se repete. De novo, um Governador do Banco de Portugal (BdP), em funções, faz teorias sobre os nossos gestores. O mesmo Governador que foi "tão lesto" a tratar dos últimos assuntos de gestão da Banca comercial vem agora dar lições de cátedra a quem gere as nossas empresas.
Pois Sr. Governador, eu, na sua posição, ficava mais preocupado, com a minha própria "empresa". É que na casa dos outros cada um faz como acha melhor. E se são empresas privadas, desde que vivam por sua conta, sem garantias do Estado (sejam elas de que forma forem) ninguém, nem mesmo o Governador do Banco de Portugal deve opinar, se não fizerem irregularidades, obviamente.
Apesar da "pregação" do púlpito da Almirante Reis o país resiste às intempéries, até aquelas que o BdP devia, no mínimo minorar, porque temos um tecido empresarial que procura sobreviver neste desafio de produzir em Portugal, em regime de concorrência.
Gestores bons e maus há sempre, tal como Governadores de Bancos Centrais. No entanto, é graças às nossas empresas (com os gestores e trabalhadores que têm) que vamos aumentando as exportações, tentando apostar em inovação, apesar da escassez de recursos e graças ao esforço dos nossos trabalhadores e dos gestores que este país vai andando, sobrevivendo às tempestades.
Estes dois discursos são paradigmáticos do que tem sido a nossa Democracia. Esta nossa idiossincrasia de, tentando colocar-se de fora, mandar um palpites e falar do alto do cargo, como se não tivesse meios ou força, para fazer as coisas mudar, tem sido nefasta e prejudicial.
Estou cansado de homens providenciais, o D. Sebastião que nos salva, que passam a vida a dizer "eu alertei", "como eu já tinha dito", "eu bem avisei", homens que por dever dos cargos que ocupam deviam actuar mais e falar menos. Para quando pessoas nos lugares devidos a fazer e não somente a falar? Quanto a comentadores já estamos governados, não precisamos de mais.
Diogo Agostinho |
7:00 Segunda feira, 13 de outubro de 2014
Expresso
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