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Debate de ideias
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Debate de ideias
A esfera pública portuguesa é caracterizada pela quase total ausência de debate de ideias.
Qualquer um de nós pode passar horas a ver programas de comentário político e a ler colunas de opinião sem que se confronte com um único debate substantivo. As questões em discussão são quase sempre de carácter pessoal, de estratégia ou táctica política, ou então meramente oportunistas face ao contexto da luta pelo poder. Mas nada que valha a pena discutir em si mesmo, independentemente de quem o diz e do objectivo político e pessoal pelo qual o diz. Por que razão é assim?
Há um conjunto alargado de causas, conectadas entre si. Para começar, Portugal é o único país que conheço no qual o comentário político (que acaba também por ser social, desportivo, etc.) é dominado por políticos profissionais e ex-políticos com esperança de voltar a sê-lo. Num país normal, por assim dizer, esse tipo de comentário está a cargo de escritores, académicos e jornalistas especializados. Ora, quando o comentário é feito por políticos profissionais ele tem sempre segundas intenções: aquilo que se diz é dito em função de objectivos políticos e não devido ao interesse genuíno pelas ideias e pelo debate que elas possam suscitar.
Esta bizarria portuguesa tem a ver com a fraqueza dos média de referência entre nós. Estes têm poucos recursos e precisam de viver da palavra fácil protagonizada por figuras próximas do poder, seja ele qual for. Por sua vez, esta fraqueza deriva da iliteracia funcional predominante e do facto de muito pouca gente ler jornais ou ter os instrumentos cognitivos mínimos para acompanhar debates com alguma complexidade. Também o facto de a sociedade civil ser fraca ao nível dos think-tanks, das associações culturais e sociedades científicas não ajuda a que o grau de exigência do público seja mais elevado.
Felizmente, algumas instituições procuram colmatar este problema, como a Fundação Gulbenkian e a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Mas fazem-no geralmente através da organização de eventos que ocorrem sempre em Lisboa e nos quais participam sempre os mesmos. Além disso, esses eventos estão por vezes ao serviço de propósitos políticos. Por exemplo, não tinha percebido por que razão tinha sido convidado para uma conferência recente em Lisboa o filósofo político Jeremy Waldron, cujo trabalho acompanho de perto há mais de vinte anos. Ao ver uma entrevista que ele deu a um jornal de direita - o Observador - compreendi porquê. Como Waldron é um crítico do activismo judicial, ele foi convidado para dizer aquilo que a direita queria ouvir, ou seja, que o tribunal constitucional português exorbita as suas funções. Mas ninguém entre nós estava minimamente interessado em debater com seriedade o seu pensamento.
João Cardoso Rosas
00.05 h
Económico
Qualquer um de nós pode passar horas a ver programas de comentário político e a ler colunas de opinião sem que se confronte com um único debate substantivo. As questões em discussão são quase sempre de carácter pessoal, de estratégia ou táctica política, ou então meramente oportunistas face ao contexto da luta pelo poder. Mas nada que valha a pena discutir em si mesmo, independentemente de quem o diz e do objectivo político e pessoal pelo qual o diz. Por que razão é assim?
Há um conjunto alargado de causas, conectadas entre si. Para começar, Portugal é o único país que conheço no qual o comentário político (que acaba também por ser social, desportivo, etc.) é dominado por políticos profissionais e ex-políticos com esperança de voltar a sê-lo. Num país normal, por assim dizer, esse tipo de comentário está a cargo de escritores, académicos e jornalistas especializados. Ora, quando o comentário é feito por políticos profissionais ele tem sempre segundas intenções: aquilo que se diz é dito em função de objectivos políticos e não devido ao interesse genuíno pelas ideias e pelo debate que elas possam suscitar.
Esta bizarria portuguesa tem a ver com a fraqueza dos média de referência entre nós. Estes têm poucos recursos e precisam de viver da palavra fácil protagonizada por figuras próximas do poder, seja ele qual for. Por sua vez, esta fraqueza deriva da iliteracia funcional predominante e do facto de muito pouca gente ler jornais ou ter os instrumentos cognitivos mínimos para acompanhar debates com alguma complexidade. Também o facto de a sociedade civil ser fraca ao nível dos think-tanks, das associações culturais e sociedades científicas não ajuda a que o grau de exigência do público seja mais elevado.
Felizmente, algumas instituições procuram colmatar este problema, como a Fundação Gulbenkian e a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Mas fazem-no geralmente através da organização de eventos que ocorrem sempre em Lisboa e nos quais participam sempre os mesmos. Além disso, esses eventos estão por vezes ao serviço de propósitos políticos. Por exemplo, não tinha percebido por que razão tinha sido convidado para uma conferência recente em Lisboa o filósofo político Jeremy Waldron, cujo trabalho acompanho de perto há mais de vinte anos. Ao ver uma entrevista que ele deu a um jornal de direita - o Observador - compreendi porquê. Como Waldron é um crítico do activismo judicial, ele foi convidado para dizer aquilo que a direita queria ouvir, ou seja, que o tribunal constitucional português exorbita as suas funções. Mas ninguém entre nós estava minimamente interessado em debater com seriedade o seu pensamento.
João Cardoso Rosas
00.05 h
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