A(nota)mento do Dia Porto de Contentores se é bom para Setúbal porque carga de água será mau para o Barreiro?

O que sinto é que o Barreiro – como dizia ontem num comentário um amigo – “Estamos lixados. O Barreiro não tem uma alma no sector dos portos que nos defenda”.

E já agora, quando discutirem tudo isto não esqueçam a ponte para o Seixal e a ponte para o Montijo ( já que a ponte Barreiro Chelas e o TGV vão ficar pata as calendas).

Não percebo nada do assunto. Nem sei se é bom ou mau para o futuro do Barreiro. O que sei, isso sim e sinto é que o Barreiro precisa de investimento, precisa de atrair empresas, precisa de desenvolvimento.

Depois da história da «Cidade do Cinema» com investimentos de milhões e milhares de postos de trabalho.
Depois da ponte Barreiro-Chelas que colocava o Barreiro dentro de Lisboa.

Depois do projecto Arco Ribeirinho Sul, com a projecção de uma «mega cidade».

Lá andamos, ano após ano, a «pensar» e a «viver» em torno de sonhos que nascem e morrem no território da antiga CUF.

Olhamos para aquele território como quem olha para uma mina de ouro que um dia vai de novo colocar o Barreiro como cidade que produz. Só que aquele território não é de nenhum privado, é do Estado e como é do Estado, vai resistindo como «pérola» até, talvez, um dia a decisão seja a sua plena privatização.

Entretanto, agora temos em debate a eventual localização do terminal de contentores no âmbito da estratégia de alargamento do Porto de Lisboa.

Um projecto acarinhado desde a primeira hora quer pela Administração da Baía do Tejo, que vai ao encontro de opções perspectivadas pelo Governo.

Igualmente recebido de braços abertos pela Câmara Municipal do Barreiro, porque considera ser este um equipamento âncora e importante para atracção de empresas e gerador de emprego.

A localização do novo terminal de contentores do Porto de Lisboa, pelo que me tenho apercebido, conta com o total empenho de Carlos Humberto, presidente da Câmara Municipal do Barreiro e conta, igualmente, com a total disponibilidade do Secretário de Estado, Sérgio Monteiro, que considera, de alguma forma ser a melhor solução para o país e para a região.

Depois, tenho registado que ao nível dos agentes do sector portuário de Lisboa e Setúbal existe oposição à solução apontada no Barreiro.

O que sinto é que o Barreiro – como dizia ontem num comentário um amigo – “Estamos lixados. O Barreiro não tem uma alma no sector dos portos que nos defenda”.

E fico perplexo com os argumentos utilizados por alguns – especialistas – quando acham que a solução Barreiro não deve avançar.

Por exemplo, Carlos Matias Ramos, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, na sua tomada de posição para contestar a opção Barreiro falou essencialmente dos «perigos» do passivo ambiental, recorrendo a estudos que, no mínimo pela passagem dos anos, estão desactualizados, perante uma realidade que se transformou, mas, contraditoriamente, a esta posição o Secretário de Estado veio dizer-nos que a localização do porto no Barreiro vai trazer um ganho para gerações a “redução da pegada ambiental”.

Em que ficamos? Ganhamos ou perdemos? Pelo explicado acredito que ganhamos - o Barreiro, a região e o país, e as futuras gerações.

Depois, outro argumento, utilizado por Pedro Figueira, refere-se a «situações de risco» no Tejo, perdas de vidas humanas em caso de acidente, porque haverá cruzamento de rotas. Interrogo-me sobre os milhares de barcos de cruzeiros e cargas que já hoje entram no Tejo, mas, agora, é que surge este perigo. Porquê? E no Sado isto não é igual? 

Depois Carlos Matos Ramos, mistura no debate Sines, Roterdão e outros portos de outra dimensão e estratégia, concordando que o Porto de Lisboa estagnou nos últimos anos e que o Porto de Setúbal não se tem afirmado, ao mesmo tempo que valoriza os resultados de Leixões.

Deixa a interrogação: Que terminal no estuário do Tejo? Apontando o crescimento do Porto como tendo que ser “na margem norte”. Então, e nesta solução já não há rotas de barcos em perigo?

E, obviamente, defende, caso tenha que ser “na margem sul”, então – “o porto já lá está é Setúbal”. É assim, porque é assim, tem que ser Setúbal, o tal que, na sua opinião, "não se tem afirmado".

Em suma, tenho dúvidas que o governo até ao final do seu mandato decida sobre a localização. Até poderá decidir. 

Mas, uma coisa é certa, esta matéria merece um debate aberto, amplo, acima de opções e estratégias partidárias, de jogos de poder, acima de interesses de grupos portuários.

O que deve ser discutido é se de facto o país tem que apostar no crescimento da sua capacidade portuária. Saber qual o lugar de Lisboa ( cidade de duas margens) nessa estratégia.

Saber se o Barreiro pode ganhar na sua centralidade regional com a localização do Terminal de Contentores, com tudo o que pode advir dessa opção. 

O que sinto, de facto, é que o Barreiro não tem lobbie e vai continuar a ficar à espera que decidam por ele aqueles que só pensam Lisboa – Terreiro do Paço – e olham para esta margem com estigmas.

Não sei se o Porto de Contentores é coisa boa ou coisa má, o que sei e sinto é que se ele é bom para Setúbal, ou para Leixões, porque carga de água será mau para o Barreiro?

Expliquem-me com um desenho para eu perceber melhor.

É que os argumentos que colocam como coisa má no Barreiro, não vejo porque não podem ser aplicados no estuário do Sado.

E já agora, Lisboa só ganha se ganhar o Barreiro como terra onde tem continuidade.

E já agora, quando discutirem tudo isto não esqueçam a ponte para o Seixal e a ponte para o Montijo ( já que a ponte Barreiro Chelas e o TGV vão ficar pata as calendas).

E, cá por mim, como vou viver mais um, dois ou três governos deixem-me sentir a alegria de ver o Barreiro voltar a crescer e colocar de lado «cidades do cinema»…porque há filmes que já cansam, quando se trata de decidir Barreiro, há sempre quem queira decidir Lisboa.

António Sousa Pereira
05.11.2014 - 19:45