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Sozinho na noite
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Sozinho na noite
Antes de legislarem por decreto o nosso comportamento respeitem a noite. As suas nuances e virtudes. Não a matem.
Sou daquelas pessoas que gosta da noite. De vaguear sem destino pelas ruas e becos das cidades, descobri-las através dos sons dos bares e cheiros dos botecos, degustando gostos e culturas mergulhado em néctares e sabores locais, escondidos, destilando conversas com recém-conhecidos. Verdade que faço parte de uma geração que cresceu na noite, e que começando a sair em tenra idade, nunca deixou de ir beber um copo, tranquilo. Onde estiver. Vejo a noite como um espaço de liberdade e de encontros, de descobertas e surpresas, de confronto e crítica, política e cultura, sexo e prazer. Como um espaço de poesia e romance, de charme, um ponto privilegiado para observar o comportamento humano quando retirado das restrições profissionais e societais a que obriga o dia. Um espaço de abusos e tranquilidade, de troca de ideias, humor e engate, intelectualidade e fados, um palco privilegiado de literatura musicada, e embriagada, e experimental. De baladas subtis e viagens esotéricas sem destino. De prosa desafinada e poetas (frustrados). De boémia, raves e arte. Dança e desconcerto. Criação, desconstrução, energia. Transversal.
Saio há muitos anos (desde os anos 80), em muitas cidades, e muito. Gosto de o fazer como observador quieto, como boémio solto sem destino fixo, sociólogo amador excitado com o confronto de experiências disseminadas no espaço e no tempo, e que procura, comparativamente, depreender dos comportamentos nocturnos algumas das tendências das sociedades contemporâneas. Procurar entender no que nos estamos a tornar, o que valorizamos, como nos comportamos quando ébrios e contentes, quando ausentes das responsabilidades normativas de uma vivência enjaulada, prevista e decretada. Quando livres portanto, desprendidos.
Desconfio assim, sempre, de quem procura intervir politicamente na noite, de a regular compulsivamente, de a balizar a um determinado tipo de comportamento, ancorando a narrativa interventiva exclusivamente em visões maximalistas ou industriais.
Não quer isto dizer que não se possa pensar a noite, de a contextualizar e procurar soluções que possibilitem uma boa articulação entre as instituições (Câmaras municipais), quem saia à noite e quem habite nos seus bairros. Mas que o façam de forma enquadrada e criativa. Há barulho? Pois que contratem animadores culturais, como o fazem em Budapeste; cidade onde a polícia patrulha os bares munida de medidores de ruído, e onde jovens vestidos de mimos ocupam os espaços da cidade baixando-lhe os decibéis. É uma ideia, entre outras tantas, que cruza a intervenção urbano-artística com as necessidades dos moradores, criando um bom ambiente e apelando ao bom senso e responsabilidade de quem se cruza na noite. Ou seja, que antes de legislarem por decreto o nosso comportamento respeitem a noite. As suas nuances e virtudes. Não a matem. Cidades sem noite, ou com a noite totalmente organizada, são cidades tristes, previsíveis, mortas; sem energia, cultura solta ou pontos de encontros. Imaginem uma Lisboa com fadistas e letristas sem baiucas onde desgarrar, ou intelectuais e jornalistas, escritores encalhados, sem bar fora-de-horas onde conspirar e discutir? Perdíamos todos.
José Reis Santos
00.05 h
Económico
Sou daquelas pessoas que gosta da noite. De vaguear sem destino pelas ruas e becos das cidades, descobri-las através dos sons dos bares e cheiros dos botecos, degustando gostos e culturas mergulhado em néctares e sabores locais, escondidos, destilando conversas com recém-conhecidos. Verdade que faço parte de uma geração que cresceu na noite, e que começando a sair em tenra idade, nunca deixou de ir beber um copo, tranquilo. Onde estiver. Vejo a noite como um espaço de liberdade e de encontros, de descobertas e surpresas, de confronto e crítica, política e cultura, sexo e prazer. Como um espaço de poesia e romance, de charme, um ponto privilegiado para observar o comportamento humano quando retirado das restrições profissionais e societais a que obriga o dia. Um espaço de abusos e tranquilidade, de troca de ideias, humor e engate, intelectualidade e fados, um palco privilegiado de literatura musicada, e embriagada, e experimental. De baladas subtis e viagens esotéricas sem destino. De prosa desafinada e poetas (frustrados). De boémia, raves e arte. Dança e desconcerto. Criação, desconstrução, energia. Transversal.
Saio há muitos anos (desde os anos 80), em muitas cidades, e muito. Gosto de o fazer como observador quieto, como boémio solto sem destino fixo, sociólogo amador excitado com o confronto de experiências disseminadas no espaço e no tempo, e que procura, comparativamente, depreender dos comportamentos nocturnos algumas das tendências das sociedades contemporâneas. Procurar entender no que nos estamos a tornar, o que valorizamos, como nos comportamos quando ébrios e contentes, quando ausentes das responsabilidades normativas de uma vivência enjaulada, prevista e decretada. Quando livres portanto, desprendidos.
Desconfio assim, sempre, de quem procura intervir politicamente na noite, de a regular compulsivamente, de a balizar a um determinado tipo de comportamento, ancorando a narrativa interventiva exclusivamente em visões maximalistas ou industriais.
Não quer isto dizer que não se possa pensar a noite, de a contextualizar e procurar soluções que possibilitem uma boa articulação entre as instituições (Câmaras municipais), quem saia à noite e quem habite nos seus bairros. Mas que o façam de forma enquadrada e criativa. Há barulho? Pois que contratem animadores culturais, como o fazem em Budapeste; cidade onde a polícia patrulha os bares munida de medidores de ruído, e onde jovens vestidos de mimos ocupam os espaços da cidade baixando-lhe os decibéis. É uma ideia, entre outras tantas, que cruza a intervenção urbano-artística com as necessidades dos moradores, criando um bom ambiente e apelando ao bom senso e responsabilidade de quem se cruza na noite. Ou seja, que antes de legislarem por decreto o nosso comportamento respeitem a noite. As suas nuances e virtudes. Não a matem. Cidades sem noite, ou com a noite totalmente organizada, são cidades tristes, previsíveis, mortas; sem energia, cultura solta ou pontos de encontros. Imaginem uma Lisboa com fadistas e letristas sem baiucas onde desgarrar, ou intelectuais e jornalistas, escritores encalhados, sem bar fora-de-horas onde conspirar e discutir? Perdíamos todos.
José Reis Santos
00.05 h
Económico
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