A timidez não vai pagar a dívida

A austeridade está sob ataque. Há ideias diferentes que entram em cena. A multidão já clamorava, os ânimos já se agitavam. E enquanto o pano sobe e o aplauso está a descer é hora de perceber: nova trama se trava no reconfigurado teatro de operações europeu.

A governação da Moeda Única está a ser alvo de crescentes e cada vez mais potentes críticas. Atenção: a questão não é só  Quem é Que Está Disposto a Pagar o Perdão da Dívida? . Atenção, atenção: numa Europa estagnada, desequilibrada e fragmentada a questão é  Quem está Disposto a Viver numa Sociedade sem Civilização ? Obrigado pela atenção.

Afinal de "contos", quem é que diz que assim não se pagam contas?!

Vejamos. Há agora quem diga (já em voz alta!) (já em círculos oficiais!!) que o velho continente está preso numa "ratoeira de dívida"... 

• Mas quem diabo diz isso ?! 
  

Temos quem afirme (economistas profissionais!) (tomadores de decisões!!) que Zona Euro pode entrar numa sucessão de túneis sem luz, numa sucessão de "décadas perdidas"... 

•  Que tipo de marxistas erráticos dizem irresponsabilidades destas? 
  

Já se declara que é preciso "progresso rápido" numa política de redistribuição entre ricos do norte e pobres do sul... 

•  Mas de onde saíram estes jovens radicais impreparados e utópicos?!  
  

Já se pedem "mecanismos de partilha de risco" e "mais suporte" por via de política fiscal...

• Que tipo conversas infantis vêm a ser estas?!
  

E a resposta é ... 

Bom, ... ... ... quem desfere este "forte ataque" ao status quo é o  Governador do Banco de Inglaterra  esta semana.  

Marc Carney congratula-se por estar num país que não está sujeito a regras exógenas, inflexíveis e ultra-restritivas. E acusa a actual política de falhar aquilo que era antes um processo de integração europeia.

Para este responsável de política económica  uma coisa é clara : a "timidez" da acção pública ao nível comunitário tem causado uma recessão deflacionista a uma escala absolutamente continental.

Desvalorizações internas em alguns países não criam dinamismo para o continente como um todo, e o problema de todos está precisamente aí.

Curiosamente ao mais alto nível governativo europeu algo já se passa: há vários rostos (na  Irlanda  e na  França ) que se voltam atentos em direcção à Grécia.

Portanto, ... 

O comentariado convencional que se cuide. Não se pode perder tudo todo o tempo sem que isso mude  a correlação de vontades .

O que se tem vindo a passar em vários países da Europa tem sido mesmo um " estupro financeiro ".

As ditas "reformas estruturais" aplicadas às cobaias da periferia  não resolveram nem o desemprego, nem a dívida, nem os problemas de competitividade . 

A arte do compromisso é que é a saída. Em tempos em que na Europa se tinha consciência do passado e uma visão de futuro  isso fui muito bem sucedido .

Portanto,  a ideia é esta : não se pode ser acusado de se ser irrealista por se reivindicar apenas aquilo que se sabe que já foi possível.

Sandro Mendonça |
7:00 Quinta feira, 29 de janeiro de 2015
Expresso