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Mensagem por Admin Qui Fev 05, 2015 5:53 pm

Como tem sido amplamente noticiado, a situação na Grécia, em termos económicos e sociais, é extremamente difícil para não dizer de desastre.


Desde o inicio da crise, o PIB teve uma contracção de mais de 25%, o desemprego regista a taxa mais elevada na UE (25%), sendo ainda pior a situação quanto ao desemprego jovem, e existem milhões de pessoas com níveis de vida precários e abaixo de subsistência.

Por tudo isto, não constituiu uma surpresa a vitoria expressiva do Syriza nas últimas eleições com uma votação que esteve à beira de uma maioria absoluta no Parlamento. No contexto social e político da Grécia, a continuação das medidas de austeridade não podia deixar de ser liminarmente recusada pela grande parte da população, face às teses (populistas) do Syriza de culpabilização da ‘troika' (dos alemães) pela situação criada e de que é possível aumentar salários, dar melhor cobertura social, não pagar a divida, acabar com as medidas de austeridade e continuar com o apoio financeiro dos parceiros europeus.

A UE e o FMI não são obviamente a causa da situação da Grécia mas sim, e pelo contrário, as entidades que realizaram os empréstimos que evitaram a entrada do país numa situação de bancarrota. Depois do ‘default' do país com um ‘hair cut' dos créditos de entidades privadas, a divida da Grécia está hoje concentrada em cerca de 80% no BCE e em outros governos europeus, o que traduz na prática a solidariedade dos contribuintes dos países da UE. Não significa isto que a ‘troika' não tenha cometido erros relacionados, na minha opinião, com a imposição de medidas de austeridade violentas concentradas num numero de anos muito reduzido e que tiveram por efeito aprofundar a crise social e económica, embora com alguns (magros) resultados nesta área como, por exemplo, a realização de um excedente primário.

Mas a raiz dos problemas da Grécia não se encontra na actuação de entidades externas mas sim nos longos anos (décadas) de deterioração da situação do país, com a acumulação de desequilíbrios económicos (externos, orçamentais etc.) e sociais insustentáveis, a que os gregos e os sucessivos governos que elegeram não conseguiram pôr cobro, e que, no fim de contas, impuseram inapelavelmente a ajuda externa.

As condições desta ajuda externa, definiram (impuseram) um caminho (tal como em Portugal) no qual as medidas de austeridade conjugadas com o aspecto critico da realização de reformas de fundo, estruturais, possibilitariam um impulso para o crescimento económico, criando condições para novos equilíbrios sustentáveis (das contas publicas, da dependência externa, das despesas de protecção social face aos recursos existentes, etc) e para a melhoria de vida da população.

Se se pretende alcançar uma situação sustentável da Grécia no âmbito da zona euro (ou seja a dum país sem emissão de moeda), sem situações cíclicas de quase bancarrota (o que aliás, julgo não ser mais tolerado pelos parceiros europeus ) não há alternativa ao caminho de combate aos desequilíbrios (que passa também por medidas de austeridade) e das reformas estruturais que são condições indispensáveis para um crescimento económico e para uma situação social sustentáveis.

Esta é a questão de fundo, a meu ver, que aponta o caminho inevitável para a solução possível dos problemas da Grécia: e não as medidas populistas do Syriza.


A atitude da Europa, neste contexto, deverá ser a de aceitar a procura de entendimentos com o novo governo grego mas sendo intransigente quanto à obrigação da Grécia de seguir as regras comuns da União Europeia, de assumir e cumprir um plano inequívoco de reformas de fundo e de respeitar os seus compromissos sem qualquer perdão de divida.

Apenas assim se poderá conseguir o duplo objectivo de fazer respeitar as regras comuns europeias por todos os países do euro e de assinalar que o caminho para a recuperação é mais árduo do que simplesmente votar para não ter mais medidas de austeridade.

 Luis Filipe Pereira       
00.05 h
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