Estranhos tempos

Vivemos tempos especialmente conturbados, bem demonstrativos do estado a que chegámos.

Temos uma Europa à beira da implosão, depois de muitos e longos anos com erros primários, ignorando os cidadãos, a situação económica e social de cada um de nós, exibindo políticos impreparados e eleitores facilmente enganáveis.

Sentimos agora - se dúvidas existissem - que os problemas da Europa são também problemas nossos, não obstante a falta de legitimidade material de quem decide e o distanciamento abissal entre eleitos e eleitores.

Em Portugal temos também tempos preocupantes.

Um anterior primeiro-ministro preso preventivamente, com a defesa e os magistrados a digladiarem-se na praça pública, em manobras que enfraquecem o que deve ser uma justiça discreta e racional em detrimento do exibicionismo primário.

Mas temos mais: um anterior Presidente da República que insulta - na verdadeira tradição republicana soarista - quem ousa discordar, ignorando qual deve ser a função de um antigo Presidente, que é financeiramente suportado por todos nós.

E ainda mais: declarações sobre o BES que nos revelam a estirpe de um líder que dominou o país durante várias décadas.

E acresce um país em que cerca de 2 milhões de pessoas vivem no limiar da pobreza, onde morrem pessoas por os medicamentos custarem demasiado.

Tudo isto e muito mais vai ocorrendo perante uma comunicação social que, amiúde, se rege por critérios estritamente comerciais em prejuízo de um escrupuloso cumprimento das mais elementares regras deontológicas.

Vai tudo mal? Não. Mas há demasiadas coisas erradas para estarmos em paz.

Professor da Faculdade de Direito de Lisboa

Escreve à quarta-feira

Por Luís Gonçalves da Silva
publicado em 11 Fev 2015 - 08:00
Jornal i