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Confiança na política
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Confiança na política
A morosidade na condução dos processos judiciais, que levam a prescrições, e a percepção de que a justiça tende a não ser igual para todos, faz desta uma das instituições portuguesas cujos níveis de confiança mais nos afastam da média europeia
confiança nas instituições políticas é um princípio fundamental das democracias liberais tal como as conhecemos, e por isso o decréscimo dos níveis de confiança nas últimas décadas tem feito soar alarmes e contribuído para aumentar o interesse político e académico sobre este assunto. A confiança política não deve, porém, ser entendida como um bem em si, como um termómetro da vitalidade da democracia. Esta pode ser sinónimo de demissão dos cidadãos do seu papel de vigilantes do sistema. Se um governo é corrupto e ainda assim continua a merecer a confiança do eleitorado, isso é positivo? Neste sentido, a existência de atitudes críticas e de desconfiança em relação ao funcionamento do sistema pode ser benéfica, já que estimula a realização de reformas de molde a melhorar o mesmo.
Nas últimas décadas, a quebra da confiança dos cidadãos na esfera política tem sido um fenómeno transversal aos países ocidentais. Se olharmos para alguns dados no panorama europeu (utilizando o Eurobarómetro como fonte), observa-se que a tendência decrescente da confiança afecta Portugal de forma particularmente grave. Esta é em especial significativa no que respeita ao governo e ao parlamento nacionais. Em qualquer destes casos, Portugal tinha em 1997 uma percentagem de indivíduos a manifestarem confiança acima dos 50%, que se mantém até 2003. O declínio da confiança no governo e no parlamento é acentuado nos dez anos seguintes.
Neste declínio Portugal é acompanhado de perto por outros países do Sul da Europa. Em 2013 Espanha tem, por exemplo, cerca de 8% de cidadãos a confiar no seu parlamento, Itália 10%, Grécia 12% e Portugal 15%. Dados similares observam-se em relação aos governos nacionais: em 2013 apenas 9% dos espanhóis e 11% dos gregos, 14% dos franceses, 15% dos portugueses e 18% dos irlandeses admitem confiar nos governos nacionais.
Os partidos políticos são as instituições menos confiança geram. Apesar de Portugal evidenciar uma muito baixa percentagem de confiança nos partidos em 2013 (apenas 12%), são vários os países em que a percentagem da população que admite confiar nos partidos alcança valores inferiores: a Grécia (4,5%), França (7,1%), Itália (7,6%) ou Espanha (5,6%).
Outro âmbito crítico para a confiança dos portugueses reporta-se ao sistema judicial. A morosidade na condução dos processos judiciais, que levam a prescrições,e a percepção de que a justiça tende a não ser igual para todos, faz desta uma das instituições portuguesas cujos níveis de confiança mais nos afastam da média europeia. A percentagem mais baixa de sempre verifica-se no último ano para o qual há dados, 2010, em que apenas 29% dos portugueses dizem confiar na justiça.
A confiança na União Europeia também não vive tempos fáceis, acompanhando a tendência decrescente que se observa nas instituições nacionais. O declive é especialmente acentuado após a eclosão da crise económica. Portugal tem uma população pouco eurocéptica: em todo o período em análise, excepto no pós-emergência da crise, evidenciou maior confiança na UE que a média dos países da União. A tendência fortemente decrescente dos últimos anos parece, por isso, associada à crise económica e à forma como a UE lidou com os países em dificuldades. É interessante notar que os países europeus que em 1997 depositavam mais crédito na UE – Irlanda (77%), Portugal (65%), Grécia, Espanha (ambos com 64%) e Itália (63%) – são em 2013 os que menos confiam mostram na mesma (agora entre os 20% e os 34%). A este conjunto junta-se Chipre, que após a sua adesão à UE, em 2004, tinha 64% de cidadãos a dizerem confiar na UE, percentagem que desce para uns meros 17% em 2013.
No mundo ocidental, os desaires económicos, os escândalos políticos e demais problemas de eficiência governativa e falta de transparência terão estado na origem do declínio dos níveis de confiança política. A mudança de comportamento dos políticos é fundamental para recuperar a confiança perdida. Tal mudança implica também o aumento do interesse e da informação política dos cidadãos. Sem interesse e informação política, a desconfiança ou qualquer exigência face ao sistema significarão muito pouco, ou mesmo nada.
O divórcio entre os cidadãos e a política e o acentuar do descrédito podem ter sido agravados pela crise económica e social. Contudo, a tendência não é recente; simplesmente acentuou-se, atingindo níveis críticos no Sul da Europa. São três as principais linhas de reflexão em vale a pena pensar com vista a uma reconciliação entre os portugueses e as instituições democráticas: a aposta numa democracia mais aberta e participativa, a moralização da vida pública e a reforma do sistema eleitoral com vista a esbater o monopólio dos partidos na vida política portuguesa.
Doutorada em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Políticos da UCP, é professora auxiliar no ISCTE-IUL, subdirectora do CIES-IUL e coordenadora do mestrado em Ciência Política do ISCTE-IUL. Tem estudado diversos temas, como a representação política, as percepções políticas ou as atitudes e comportamentos dos eleitores. O seu trabalho tem sido publicado em livros e revistas académicas
Por Ana Maria Belchior
publicado em 26 Fev 2015 - 08:00
Jornal i
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