E os populistas agradecem

À medida que os dias passam vai ficando cada vez mais claro que o ano da graça eleitoral de 2015 será pobre em política e rico, muito rico, em casos e casinhos. A oposição não deixará cair no esquecimento, e bem, todas as dúvidas sobre a carreira contributiva e fiscal de Pedro Passos Coelho. A maioria desenterrará as histórias que puder sobre o passado de António Costa na esperança de assim embaraçar o secretário-geral do PS. Pelo meio, e ainda a pré-campanha vai no adro, haverá os estilhaços da Operação Marquês e a incerteza sobre as consequências que a investigação a José Sócrates pode ter nas eleições em geral e no PS em particular. E propostas e soluções para sairmos da crise é que nem vê-las. É óbvio que Passos Coelho tem de se explicar. E bem pode o primeiro-ministro fazer o discurso do Calimero que não se livra de um tremendo problema político. Sim, é político e não pessoal, ao contrário do que Passos pretende fazer crer, precisamente porque não estamos perante um cidadão qualquer. E não, ninguém lhe exige que seja perfeito, apenas que cumpra as suas obrigações perante o Estado, sob pena de perder a autoridade moral perante os milhões de contribuintes portugueses. Mas isto não pode servir de desculpa a António Costa para que se finja de morto e continue, alegre e tranquilamente, à espera do verão para dizer ao país ao que vem e como pretende ultrapassar os desequilíbrios macroeconómicos que nos afligem. Um e outro têm o dever de não permitir que o período eleitoral que aí vem sirva para que a lógica da "porcaria na ventoinha" prevaleça sobre a política. Se não o fizerem, estarão a prestar um péssimo serviço à democracia e a dar razão a todos aqueles que, descrentes nos partidos e no sistema, amplificam o discurso e a mensagem de que os políticos são todos iguais. Se não o fizerem, darão pasto a todo o tipo de demagogias e populismos, de que Marinho e Pinto é o rosto mais visível.

por NUNO SARAIVA
05-03-2015
Diário de Noticias