O populismo

Há muitos anos atrás, alguém escreveu que populismo é a ideologia segundo a qual a legitimidade reside no povo. Seria, assim, uma ideologia associada a movimentos de contestação, principalmente da ordem estabelecida, que tende a evidenciar ou privilegiar só os aspectos mais negativos do sistema em que essa mesma ordem se baseia. Neste contexto, o populismo será transversal, precisamente na sua rejeição de quaisquer lutas de classes, e visa o encontro unificador de todos os que se sentem injustiçados, contrariados ou revoltados, seja qual for a sua situação social ou profissional. O seu surgimento está habitualmente associado a épocas de transição ou a momentos de grande indefinição ideológica, de constante desordem valorativa e de plena instabilidade quanto ao futuro. 

 

Mas o que é, afinal, um populista? Aquele que diz o que o povo pensa? Aquele que critica o que de mais errado existe na sociedade ou aquele que não se submete aos critérios de participação e intervenção estabelecidos? Creio que este tema merecia um debate sério e sereno. Um debate que tentasse verdadeiramente compreender as razões que conduzem ao surgimento de cada vez mais desalinhados face ao sistema instituído e a um número crescente de eleitores que optam pela abstenção. Bem sei que o que peço é tarefa difícil, talvez mesmo impossível mas, ainda assim, necessária se a democracia for considerada um valor mais importante do que a simples sustentabilidade daqueles que entre si guerreiam para obterem lugares de representação. Não fazer esse debate é não perceber que há uma imensa diferença entre o governo da maioria do povo e o governo da maioria da minoria dos que votam. E quem não o perceber, ou não o quiser perceber, não poderá amanhã lamentar-se do imenso vazio que à sua volta foi sendo construído.

 

Professor da Universidade LusíadaEscreve à quarta-feira

Por Manuel Monteiro
publicado em 1 Abr 2015 - 08:00

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