Populismo

A narrativa anti-casta e patriótica do Podemos faz desta força política um partido populista, não seja este o preço a pagar para chegar ao poder.


Se vivesse num país onde pudesse escolher entre o Podemos e o Livre para governar, em qual votaria? Em termos programáticos a grande diferença entre os dois partidos é que o Podemos é mais progressista nas políticas distributivas: defende um rendimento básico incondicional, que alteraria de forma radical a actual relação entre produção e consumo. Nas questões ditas fracturantes, o Podemos sem surpresa, é extremamente liberal. Em termos estratégicos as diferenças são ainda mais significativas e são essencialmente duas: a relação de ambos com o poder e com o discurso populista. A extrema-esquerda em Portugal sempre foi constituída por forças de protesto que apenas estão bem na oposição. Embora venha desse território, esta não é a ambição do Podemos, cujo discurso penetra até ao centro do espectro político. 

A posição do Livre é, paradoxalmente, "radical-burguesa" num partido radical: não quer nem viver na oposição, nem tomar o poder. 

Como qualquer partido sensato do centro, pretende desde logo participar nele. 

O discurso do Podemos é muito mais crítico do sistema e da corrupção da "casta", crítica que poderia ser mais intensa em Portugal, onde o conforto do bloco central e dos pactos de regime se assemelham cada vez mais a uma conspiração contra o povo. Por fim, o discurso do Podemos é patriótico. 


Este discurso anti-casta e patriótico faz do Podemos um partido populista. O populismo costuma ser associado à direita, mas há também uma interpretação de esquerda proposta por vários pensadores, entre os quais se destaca Ernesto Laclau, cuja obra inspira os líderes do Podemos. Será o risco do populismo o preço a pagar para chegar ao poder? A verdade é que graças ao seu populismo, o Podemos fascina e assusta, o Livre não assusta, mas também não encanta.

Roberto Merrill
00.04 h
Económico