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A macroeconomia do populismo
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A macroeconomia do populismo
Buenos Aires, capital da Argentina.
Fotografia: DR
A economia alterna entre o "populismo" e o “neoliberalismo”. Os dois lados não percebem que sem continuidade de políticas e equilíbrio entre os dois objectivos, acabaremos mergulhados de crise em crise.
Rudi Dornbusch é uma figura incontornável no estudo da política económica em pequenas economias abertas como a portuguesa. Nos anos 80, este alemão americanizado dedicou-se a duas tarefas complementares. Primeiro, ele foi o mentor de várias gerações de economistas que passaram pelo MIT e que estão hoje no topo da academia ou a liderar as principais organizações de política internacional. Segundo, ele passou muito tempo na América Latina a dar conselhos aos seus governos que passavam por crises de dívida.
Em 1990, num artigo expandido num livro no ano seguinte, Dornbusch com o seu aluno Sebastian Edwards reflectiu sobre esta experiência para concluir que a América Latina era uma zona onde reinava “a macroeconomia do populismo”. Este ensaio, de uma perspectiva mais histórica e acessível a qualquer pessoa educada, é uma leitura quase obrigatória para quem estuda a macroeconomia dos países da América do Sul. Mas, depois de ler um artigo de Rui Ramos no Observador na semana passada, percebi pela primeira vez que talvez ele devesse ser também lido para perceber os dilemas da economia portuguesa.
De acordo com Dornbusch e Edwards, a economia dos países da América do Sul oscila entre duas fases. Na fase da consolidação, o país está em crise de finanças públicas e de contas externas. Para pagar a dívida pública e reduzir o défice, o governo tem de cortar nos programas sociais e subir impostos, implementando medidas de austeridade para evitar a bancarrota. Para pagar a dívida externa e equilibrar a balança corrente, os salários têm de descer, a economia tem de se virar para as exportações, e a ajuda do FMI é muitas vezes necessária.
Chegada ao fim esta fase, com as contas públicas e nacionais mais ou menos estabilizadas, a população está farta de austeridade. Um novo governo aumenta a despesa pública e promove políticas redistributivas para ajudar os mais pobres e a classe média, expandindo os programas sociais e o emprego público. As finanças públicas pioram, a dívida aumenta, e as contas externas começam a desequilibrar. Ao fim de poucos anos, o país está novamente numa crise de dívida e tem de chamar o FMI. A economia alterna entre o “populismo” e o “neoliberalismo”. Os dois lados dão guinadas nas políticas favorecendo quer a redistribuição, quer a estabilidade financeira. Nenhum deles percebe que sem alguma continuidade de políticas e um equilíbrio entre estes dois objectivos, então acabamos todos piores, mergulhados de crise em crise.
Recorde-se que isto foi escrito em 1991, e o tema era a América Latina. Mas a reflexão de Ramos sobre a economia portuguesa das últimas décadas encaixa-se quase perfeitamente no ciclo de Dornbusch e Edwards. Com a nomeação de um novo governo, seria bom que os seus responsáveis lessem Dornbusch e Edwards. Cavaco Silva tinha razão quando se preocupava em exigir que o próximo governo estivesse comprometido com a nossa integração na Europa. A alternativa é acabarmos como a América Latina.
Ricardo Reis
28.11.2015 / 00:01
Dinheiro Vivo
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