“Não tenho dúvidas que as pessoas voltarão a optar pelos fundos”

José Veiga Sarmento diz que anterior moldura fiscal “matou os fundos de investimento”.

Para o presidente da associação do sector, a primeira edição do evento que premiou os melhores fundos nacionais foi um sucesso, "que traz responsabilidades para o futuro". "Acho que foi uma sessão que homenageou a actividade nacional de gestão de fundos de investimento e acho que as pessoas saíram motivadas para fazer melhor no futuro próximo". Um futuro que antevê mais risonho para a indústria nacional de fundos num momento em que as alterações à fiscalidade deste produto estão prestes a entrar em vigor.

O que pensa dos alertas que Carlos Tavares trouxe aqui hoje?

São alertas que são partilhados pelos reguladores a nível global. E reflectem de facto uma situação de algum desequilíbrio nos mercados financeiros e para a qual os reguladores devem olhar com muita atenção e devem tomar as medidas necessárias para tentar controlar possíveis acidentes. Mas creio que o teor das preocupações que o Dr. Carlos Tavares referiu tem mais a ver com o mercado global do que com o mercado nacional. 

Acha que são os receios em relação a esses desequilíbrios que têm afastado os investidores portugueses dos fundos de investimento?

Acho que tem de se entender que 2014 não foi um bom ano para a produção de fundos de investimento mas foi um excelente ano para a produção de seguros de capitalização, que do ponto de vista de instrumentos colectivos de investimento são semelhantes. 

Os bancos estão a canalizar os clientes para esse produto?

Não são os bancos que escolhem. São as pessoas que escolhem. Os bancos oferecem fundos de investimento, nacionais e internacionais, e oferecem seguros de capitalização. E perante um instrumento como os fundos de investimento, que tinham uma moldura fiscal altamente penalizadora, e perante um seguro de capitalização que tem uma moldura fiscal que é altamente beneficiadora, as pessoas escolhem o seguro de capitalização. Os bancos comercializam fundos e seguros de capitalização cuja natureza de investimento é idêntica. Do ponto de vista de carteiras são clones, do ponto de vista fiscal são diferentes e as pessoas escolhem. 

Considera os benefícios fiscais de que gozam os seguros de capitalização uma vantagem competitiva desleal?

É fruto da falta de boa gestão regulatória nacional, não é culpa dos seguros de capitalização. Houve uma grande desatenção por parte das autoridades relativamente aos fundos de investimento, que eram entendidos como uma fonte de receita, sem a preocupação de precaver a sua racionalidade económica. Porque não adianta nada ter uma carga fiscal monumental em algo que está condenado ao declínio. É preciso manter o produto vivo. E o fundo de investimento foi morto ao longo destes anos por uma fiscalidade completamente irracional. Isso foi corrigido agora. Os fundos de investimento têm características do ponto de vista de transparência que são difíceis de igualar. E portanto se esse instrumento tiver uma fiscalidade eficiente não tenho dúvidas que as pessoas voltarão a optar pelos fundos de investimento.

MARTA MARQUES SILVA
00:05 h
Económico