O Mundo Da Energia Em Mutação

O mundo da energia está a mudar. Desde 1888, evoluímos de um sistema concentrado para um sistema descentralizado com diversas fontes de energia. Esta evolução foi desencadeada, essencialmente, por dois fatores: a introdução das tecnologias de informação no setor energético e a emergência de fontes alternativas de energia.

Nos últimos 20 anos, a internet conseguiu ligar 2,5 mil milhões de pessoas e estima-se que ligará o dobro em apenas 6 anos. Hoje, a convergência entre tecnologias de informação e energia – combinando softwares de TI e equipamentos elétricos – permite o acesso a informação sobre o consumo energético em tempo real e em qualquer local. Atualmente é possível atuar diretamente e de forma precisa sobre as mais diversificadas variáveis de consumo, para torná-lo mais eficiente. Num futuro próximo, está previsto o crescimento do consumo global de energia em mais de 40% nos próximos 20 anos, quase menos 15% que nos últimos 23 anos. Em Portugal, o consumo esteve em 2014 cerca de 6,5% abaixo do máximo verificado em 2010.

Numa altura em que se debate sobre as alterações climáticas e a união energética, a convergência da pluralidade de fontes de energia com as TI está a redefinir os ecossistemas energéticos de oferta e procura mas também, a criar oportunidades para o aumento da eficiência a todos os níveis: desde a geração e distribuição de energia até ao consumidor.

O benefício para os consumidores é relevante e com efeito secundário positivo para a economia nacional, já que a aplicação da internet das coisas permite de forma simples e móvel controlar o próprio consumo energético, ajustá-lo e assim reduzir os custos. O que por sua vez liberta o orçamento familiar e aumenta o poder de compra. O benefício para o país, com a implementação de uma política integrada para a eficiência, resulta na criação de oportunidades de redução de custos públicos e criação de novos empregos. Outro dos benefícios, e um dos mais importantes – inclusive para a União Europeia-, é a independência energética.

Portugal tem a oportunidade de ser um dos países mais beneficiados pela união energética a ser lançada até ao final deste ano. Graças ao objetivo de complementaridade das lacunas existentes entre os 28 estados membro para a independência energética, a União Europeia terá maior capacidade de negociação em bloco com os principais fornecedores de gás e petróleo.

Portugal poderá produzir mais mas, acima de tudo, estar mais ligado à Europa Central e escoar a energia que produz. A união energética poderá ainda incentivar ao investimento nas infraestruturas de transporte dos combustíveis fósseis que chegam ao país através do porto de Sines o que, no entanto, se traduzirá também na abertura a energia produzida por parceiros europeus e a uma mudança substancial no setor da energia nacional.

Conseguirá Portugal quebrar as barreiras de uma ilha Ibérica com baixas ligações energéticas? Ou será silenciado pela capacidade de oferta dos seus pares e continuará a lutar para escoar a energia que produz? Apesar daquilo que o futuro nos pode reservar, a palavra de ordem num país da dimensão de Portugal terá definitivamente que ser: eficiência.

David Claudino
Country President da Schneider Electric Portugal
8 Junho, 2015 13:02
OJE.pt