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Na melhor companhia
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Na melhor companhia
Germán Efromovich deve estar arrependido de ter borregado a tentativa de compra da TAP há dois anos. Na altura, não apresentou as garantias financeiras, o passo que faltava para fechar o negócio. Quis deixar no Estado português o risco da dívida - mil milhões de euros. Efromovich foi fiel à imagem de negociante que procura tirar vantagem de tudo o que pode, mas que também por isso deita tudo a perder mesmo quando tem a meta à vista. O escorpião é sempre um escorpião, até quando parece ter asas. Para Portugal, este erro de cálculo do empresário multinacional revelou-se uma sorte do destino.
A proposta de David Neeleman - com o apoio de Humberto Pedrosa, dono da Barraqueiro -, que ganhou ontem a reprivatização de 61% da companhia aérea, é não só mais sólida no Excel como tem por trás um grau de credibilidade estratégica muito superior. Neeleman fundou a Jetblue, nos Estados Unidos, uma empresa capaz de conciliar preços competitivos e qualidade de serviço, sem comprometer a solidez financeira da empresa. Mesmo nos anos mais duros da aviação comercial resistiu aos ventos fortes e soube adaptar-se depressa à turbulência do mercado com ganhos de eficiência.
No Brasil, fundou a Azul com o mesmo sentido de negócio: atenção ao cliente (conforto, preço) e proximidade com os trabalhadores, distribuindo proveitos sempre que houve lucros. Não é retórica, são escolhas que revelam uma cultura de empresa superior numa indústria dada a conflitos laborais mais pontuais do que as partidas e chegadas dos aviões. Para o governo, a operação também se traduz num êxito sem mas e sem ses. Foi conseguida no limite temporal, em fim de mandato, com riscos políticos evidentes e com a constante tentação de voltar a desistir perante tantos obstáculos, incluindo providências cautelares com tanto de oportunístico como de inconsequente.
O sucesso deve-se em grande medida ao secretário de Estado Sérgio Monteiro, que conduziu o processo sempre pela mão, mas também ao apoio incondicional do primeiro-ministro e a Fernando Pinto, CEO da TAP. Foi ele quem estabeleceu o primeiro contacto com Neeleman. Há dois anos, tentou vender-lhe a operação (deficitária) da VEM, no Brasil, já que a Azul começava a precisar de manutenção mais pesada. Trouxe-o depois a Lisboa, onde o entusiasmou com a TAP, e o resto é história: dinheiro na mesa, compromissos industriais para dez anos, uma nova TAP no horizonte com o centro de negócios em Portugal e o obrigatório hub em Lisboa. Menos portuguesa, sim, embora com o empresário Humberto Pedrosa a bordo, mas com outra saúde financeira, mais flexibilidade e, talvez, mais futuro.
O nacionalismo económico é relevante em algumas áreas da economia, mas na aviação comercial já há muito se tornou obsoleto perante tantas necessidades financeiras. Para os Emirados Árabes Unidos, uma companhia aérea é mais um brinquedo - um brinquedo sério -, para o Estado português seria mais uma conta a pagar no orçamento através dos impostos. Defendido o hub contratualmente, o resto será a economia a funcionar.
P.S.: A oposição que peça todos os esclarecimentos, tem esse direito, mas as ameaças são prematuras e carecem de fundamento.
por ANDRÉ MACEDO
Diário de Notícias
A proposta de David Neeleman - com o apoio de Humberto Pedrosa, dono da Barraqueiro -, que ganhou ontem a reprivatização de 61% da companhia aérea, é não só mais sólida no Excel como tem por trás um grau de credibilidade estratégica muito superior. Neeleman fundou a Jetblue, nos Estados Unidos, uma empresa capaz de conciliar preços competitivos e qualidade de serviço, sem comprometer a solidez financeira da empresa. Mesmo nos anos mais duros da aviação comercial resistiu aos ventos fortes e soube adaptar-se depressa à turbulência do mercado com ganhos de eficiência.
No Brasil, fundou a Azul com o mesmo sentido de negócio: atenção ao cliente (conforto, preço) e proximidade com os trabalhadores, distribuindo proveitos sempre que houve lucros. Não é retórica, são escolhas que revelam uma cultura de empresa superior numa indústria dada a conflitos laborais mais pontuais do que as partidas e chegadas dos aviões. Para o governo, a operação também se traduz num êxito sem mas e sem ses. Foi conseguida no limite temporal, em fim de mandato, com riscos políticos evidentes e com a constante tentação de voltar a desistir perante tantos obstáculos, incluindo providências cautelares com tanto de oportunístico como de inconsequente.
O sucesso deve-se em grande medida ao secretário de Estado Sérgio Monteiro, que conduziu o processo sempre pela mão, mas também ao apoio incondicional do primeiro-ministro e a Fernando Pinto, CEO da TAP. Foi ele quem estabeleceu o primeiro contacto com Neeleman. Há dois anos, tentou vender-lhe a operação (deficitária) da VEM, no Brasil, já que a Azul começava a precisar de manutenção mais pesada. Trouxe-o depois a Lisboa, onde o entusiasmou com a TAP, e o resto é história: dinheiro na mesa, compromissos industriais para dez anos, uma nova TAP no horizonte com o centro de negócios em Portugal e o obrigatório hub em Lisboa. Menos portuguesa, sim, embora com o empresário Humberto Pedrosa a bordo, mas com outra saúde financeira, mais flexibilidade e, talvez, mais futuro.
O nacionalismo económico é relevante em algumas áreas da economia, mas na aviação comercial já há muito se tornou obsoleto perante tantas necessidades financeiras. Para os Emirados Árabes Unidos, uma companhia aérea é mais um brinquedo - um brinquedo sério -, para o Estado português seria mais uma conta a pagar no orçamento através dos impostos. Defendido o hub contratualmente, o resto será a economia a funcionar.
P.S.: A oposição que peça todos os esclarecimentos, tem esse direito, mas as ameaças são prematuras e carecem de fundamento.
por ANDRÉ MACEDO
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