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Ilusões tecnocráticas
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Ilusões tecnocráticas
A tecnocracia é um dos maiores perigos para as democracias actuais.
Embora a abordagem tecnocrática tenha sido, paradoxalmente, teorizada por um autor ideologicamente socialista (Saint-Simon), o seu intuito é retirar a ideologia da política e substituir o "governo dos homens" pela "administração das coisas".
Entre nós, o Presidente da República, que sempre foi tentado por ilusões tecnocráticas - recorde-se o seu velho texto sobre "Políticos, Burocratas e Economistas" -, veio agora traçar objectivos económico-financeiros para o próximo executivo, esquecendo que cabe ao Presidente interpretar e formular os grandes desígnios nacionais e não as directivas contabilísticas do Estado.
Mas a quase redução da política à "administração das coisas" surge também nos partidos. Basta ver os programas do PS e da coligação PSD-CDS. Em ambos os casos predominam os objectivos financeiros e económicos, com várias medidas que são defendidas pela esquerda, mas também poderiam sê-lo pela direita, ou vice-versa. O facto de o PS ter adoptado como ponto de partida do seu programa a aceitação da ordem tecnocrática imperante na UE leva a uma aparente convergência programática entre o centro-esquerda e a direita. Essa aparente convergência é também favorecida pela recente tentativa da direita em encobrir o programa de destruição do Estado que levou a cabo durante a presente legislatura.
O lado bom da maneira nova de fazer programas políticos, que o PS teve o mérito de inaugurar e a coligação PSD-CDS tentou acompanhar de modo canhestro, reside na maior seriedade da sua base técnica. O lado negativo, ou melhor, aquilo que fica em falta, são as visões unificadoras que marquem a distinção entre os dois campos em confronto.
Note-se que os protagonistas também mudaram. Dantes, os programas eram feitos sobretudo por juristas, geralmente com propensão doutrinal. Hoje em dia os programas são feitos por economistas - o que é já de si empobrecedor - e geralmente apenas os ortodoxos, ignorando a diversidade do próprio pensamento económico.
Alguns pensarão que isto corresponde à evolução natural da política democrática e à "morte das ideologias" anunciada por Daniel Bell e outros desde meados do século passado. Eu creio que constitui antes uma forma de empobrecimento democrático que, aliás, não existe ao mesmo nível noutros contextos bem próximos de nós (e.g. Espanha).
Este empobrecimento tem dois efeitos. Por um lado, bloqueia a articulação de novas alternativas que captem a imaginação política dos cidadãos. Por outro lado, encobre alternativas que até já existem - o PS não é efectivamente igual ao PSD/CDS - mas ficam escondidas por um discurso pretensamente neutro.
00:05 h
João Cardoso Rosas
Económico
Embora a abordagem tecnocrática tenha sido, paradoxalmente, teorizada por um autor ideologicamente socialista (Saint-Simon), o seu intuito é retirar a ideologia da política e substituir o "governo dos homens" pela "administração das coisas".
Entre nós, o Presidente da República, que sempre foi tentado por ilusões tecnocráticas - recorde-se o seu velho texto sobre "Políticos, Burocratas e Economistas" -, veio agora traçar objectivos económico-financeiros para o próximo executivo, esquecendo que cabe ao Presidente interpretar e formular os grandes desígnios nacionais e não as directivas contabilísticas do Estado.
Mas a quase redução da política à "administração das coisas" surge também nos partidos. Basta ver os programas do PS e da coligação PSD-CDS. Em ambos os casos predominam os objectivos financeiros e económicos, com várias medidas que são defendidas pela esquerda, mas também poderiam sê-lo pela direita, ou vice-versa. O facto de o PS ter adoptado como ponto de partida do seu programa a aceitação da ordem tecnocrática imperante na UE leva a uma aparente convergência programática entre o centro-esquerda e a direita. Essa aparente convergência é também favorecida pela recente tentativa da direita em encobrir o programa de destruição do Estado que levou a cabo durante a presente legislatura.
O lado bom da maneira nova de fazer programas políticos, que o PS teve o mérito de inaugurar e a coligação PSD-CDS tentou acompanhar de modo canhestro, reside na maior seriedade da sua base técnica. O lado negativo, ou melhor, aquilo que fica em falta, são as visões unificadoras que marquem a distinção entre os dois campos em confronto.
Note-se que os protagonistas também mudaram. Dantes, os programas eram feitos sobretudo por juristas, geralmente com propensão doutrinal. Hoje em dia os programas são feitos por economistas - o que é já de si empobrecedor - e geralmente apenas os ortodoxos, ignorando a diversidade do próprio pensamento económico.
Alguns pensarão que isto corresponde à evolução natural da política democrática e à "morte das ideologias" anunciada por Daniel Bell e outros desde meados do século passado. Eu creio que constitui antes uma forma de empobrecimento democrático que, aliás, não existe ao mesmo nível noutros contextos bem próximos de nós (e.g. Espanha).
Este empobrecimento tem dois efeitos. Por um lado, bloqueia a articulação de novas alternativas que captem a imaginação política dos cidadãos. Por outro lado, encobre alternativas que até já existem - o PS não é efectivamente igual ao PSD/CDS - mas ficam escondidas por um discurso pretensamente neutro.
00:05 h
João Cardoso Rosas
Económico
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