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O oó e a política
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O oó e a política
É um momento que dura breves segundos, mas suficiente para causar no mínimo um sorriso. "Façam um bom oó", diz candidamente o chefe de Estado aos jornalistas, para evitar perguntas aborrecidas sobre política interna. Foi na última semana e, mudando de geografia, também a diretora do FMI recorreu à infância para falar de coisas sérias. "Temos de recomeçar o diálogo, mas com adultos na sala", afirmou Christine Lagarde após mais uma ronda de negociações fracassadas sobre a crise grega. Espera-se que para a cimeira extraordinária de hoje todos tenham deixado o bibe em casa.
Não há posição mais cómoda do que pensar que o outro, o que pensa de maneira diferente, está sempre limitado por problemas de imaturidade. Infantilizar os eleitores é, aliás, uma estratégia comum perante resultados indesejados e uma tentação quando as sondagens não revelam o expectável. Como é possível que tantos portugueses admitam mais do mesmo, depois de anos de extrema dureza?, ouviu-se nos últimos dias questionar. E como pode explicar-se que sobre temas da maior importância, como a Segurança Social, os eleitores digam que não influenciam o sentido de voto?
As sondagens, já se sabe, falham com frequência. Há largos meses e muita campanha por correr até às legislativas e resta saber se passam, acima do folclore, ideias claras sobre o que se pode esperar de cada proposta. Mas há, muito para além do simplismo redutor das tendências de voto, sinais claros na sondagem publicada pelo JN de que os eleitores não são propriamente crianças.
Há, desde logo, um número expressivo de indecisos. Um em cada quatro inquiridos admite que não sabe em quem votar. Somemos a este indicador quantitativo outro qualitativo, com as palavras mais escolhidas para classificar os principais candidatos: "mentiroso", "incompetente" e "oportunista" são das que têm mais peso, com uma única exceção pelo meio ("bom").
Olhando para as entrelinhas das respostas, resulta claro que uma grande parte das pessoas está convencida de que não há, no panorama das propostas a votos, nada de diferente ou alternativo. A falta de confiança nos políticos é uma das mais evidentes leituras a fazer e deve envergonhar todos os que levam a vida pública a sério.
O eleitorado não anda, na verdade, a dormir. Falta é assistir a uma qualificação das propostas e dos protagonistas políticos que torne mais empolgante o momento da escolha. Que permita, depois da ida às urnas, uma noite de oó descansado.
22.06.2015
INÊS CARDOSO
Jornal de Notícias
Não há posição mais cómoda do que pensar que o outro, o que pensa de maneira diferente, está sempre limitado por problemas de imaturidade. Infantilizar os eleitores é, aliás, uma estratégia comum perante resultados indesejados e uma tentação quando as sondagens não revelam o expectável. Como é possível que tantos portugueses admitam mais do mesmo, depois de anos de extrema dureza?, ouviu-se nos últimos dias questionar. E como pode explicar-se que sobre temas da maior importância, como a Segurança Social, os eleitores digam que não influenciam o sentido de voto?
As sondagens, já se sabe, falham com frequência. Há largos meses e muita campanha por correr até às legislativas e resta saber se passam, acima do folclore, ideias claras sobre o que se pode esperar de cada proposta. Mas há, muito para além do simplismo redutor das tendências de voto, sinais claros na sondagem publicada pelo JN de que os eleitores não são propriamente crianças.
Há, desde logo, um número expressivo de indecisos. Um em cada quatro inquiridos admite que não sabe em quem votar. Somemos a este indicador quantitativo outro qualitativo, com as palavras mais escolhidas para classificar os principais candidatos: "mentiroso", "incompetente" e "oportunista" são das que têm mais peso, com uma única exceção pelo meio ("bom").
Olhando para as entrelinhas das respostas, resulta claro que uma grande parte das pessoas está convencida de que não há, no panorama das propostas a votos, nada de diferente ou alternativo. A falta de confiança nos políticos é uma das mais evidentes leituras a fazer e deve envergonhar todos os que levam a vida pública a sério.
O eleitorado não anda, na verdade, a dormir. Falta é assistir a uma qualificação das propostas e dos protagonistas políticos que torne mais empolgante o momento da escolha. Que permita, depois da ida às urnas, uma noite de oó descansado.
22.06.2015
INÊS CARDOSO
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