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Mensagem por Admin Dom Jul 05, 2015 11:17 am

Pela primeira vez desde há anos, parece reinar uma dose saudável de otimismo. A economia global – à exceção de alguns pontos problemáticos – está finalmente a ultrapassar a crise financeira. Os avanços tecnológicos colocaram as energias renováveis em pé de igualdade com os combustíveis fósseis.

E a comunidade internacional parece decidida a estabelecer importantes acordos relativamente ao desenvolvimento sustentável e à luta contra as alterações climáticas.
 
E, no entanto, persiste o risco de que estes progressos sejam desperdiçados, porque os decisores políticos, os empresários e os investidores privilegiam os problemas de curto-prazo em detrimento das ameaças iminentes à economia global. Se quisermos proteger o nosso progresso, é necessário atacarmos as falhas do nosso sistema financeiro pela raiz, aplicando normas, regulamentos e práticas que o tornem compatível com as necessidades a longo-prazo de uma economia mais inclusiva e sustentável.
 
Este ano, o mundo tem capacidade para tal. A transição para uma economia verde parece ser hoje uma certeza, e já não uma mera aspiração, na medida em a crescente aceitação por parte do público e os progressos tecnológicos tornam os investimentos nas energias limpas cada vez mais praticáveis. Em 2014, o investimento global nas energias renováveis aumentou 17%, apesar da enorme descida dos preços do petróleo, de acordo com um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Esta tendência deveu-se a um aumento exponencial da energia solar na China e no Japão e a um crescente investimento europeu na energia eólica nas orlas costeiras.
 
De Xangai a São Paulo, as bolsas de valores estabeleceram requisitos em matéria de reporte de informações com vista a informar os investidores sobre a forma como as empresas integram a sustentabilidade nas suas estratégias. As obrigações verdes descolaram, com um aumento de 40 mil milhões de dólares em 2014, e deverão suscitar uma adesão cada vez maior à medida que são implementadas normas e regulamentos mais explícitos. Até mesmo os bancos centrais voltaram as suas atenções para o meio ambiente. O Banco Popular da China associou-se ao PNUMA com vista a identificar medidas práticas para garantir a reforma "verde" do mercado financeiro, e o Banco de Inglaterra iniciou uma análise prudente dos riscos sistémicos que as alterações climáticas colocam ao setor dos seguros do Reino Unido.
 
O mês de setembro marcará o lançamento das Metas de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, as primeiras a serem adotadas à escala mundial, e que consistem em objetivos mesuráveis de erradicação da pobreza e da fome ao mesmo tempo que protegem o meio ambiente e o capital de recursos naturais do planeta. E, mais para o final do ano, prevê-se que a comunidade internacional chegue a acordo relativamente a compromissos vinculativos para cortar as emissões e financiar a luta contra as alterações climáticas.
 
Mas, apesar de os sinais apontarem na direção certa, o sucesso está longe de estar garantido. O êxito pode escapar-nos se não soubermos aproveitar a oportunidade. A verdadeira questão é o timing e os danos irreversíveis que os atrasos podem causar. Mais de 80% dos 140 países abrangidos pelo relatório de "Riqueza Inclusiva" registou uma detioração das suas reservas de capital natural. Os danos económicos resultantes da degradação ambiental estimam-se em aproximadamente 7000 mil milhões de dólares por ano, sendo, na sua maioria, irreversíveis. Quanto mais tempo esperarmos, mais graves se tornarão os problemas.
 
É necessário um maior esforço internacional para realinhar os mercados financeiros e de capitais de forma a apoiar o desenvolvimento sustentável. A estrutura do nosso sistema financeiro atual garante apenas o que o Governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, denominou de "tragédia de horizontes" – um fracasso do mercado resultante da incapacidade dos investidores, das empresas e dos governos em agir sobre os problemas, como o problema das alterações climáticas, com consequências que apenas serão sentidas num futuro a longo prazo.
 
Os decisores políticos e os empresários indicam muitas razões para se concentrarem em problemas imediatos. Na realidade, as próprias medidas políticas necessárias para reduzir os riscos de uma outra crise financeira forçam os bancos e os gestores de ativos a emprestar e a investir a curto prazo, passando muitas vezes ao lado de oportunidades de longo-prazo mais lucrativas, mas menos líquidas.
 
As pressões de curto-prazo existirão sempre, mas podem ser ultrapassadas com as ferramentas adequadas: melhoramento das tarifas para os riscos ambientais, notações de crédito que tenham em conta o meio ambiente, responsabilidade ambiental por parte dos credores, e esforços para mitigar os riscos ambientais associados à estabilidade financeira. Um futuro sustentável está ao nosso alcance mas apenas se colocarmos em prática políticas que o tornem possível.

 
Simon Zadek é co-diretor do Estudo para a Elaboração de um Sistema Financeiro Sustentável do PNUMA, professor convidado da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade de Tsinghua e membro honorário do Instituto Global para o Crescimento Verde e do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável.
 
© Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução: Raquel Baltazar
 
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

04 Julho 2015, 20:00 por Simon Zadek
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